Ainda estou me recuperando da exaustão provocada pela escritura dos últimos capítulos da série sobre o mensalão. Preciso recarregar as baterias e estudar por alguns dias. Na sexta-feira, publicamos o capítulo 6. Esta semana, vamos esvaziar as gavetas dos acontecimentos políticos recentes. Começo pela Convenção Nacional do PSDB. Segue abaixo algumas notas da primeira metade do vídeo acima. Amanhã acabo de anotar a segunda parte para depois fazer um balanço geral da situação política.
Agripino Maia: presidente do DEM. Enviou um abraço do prefeito de Salvador, ACM Neto, para Aécio Neves. Foi bem enfático em sua defesa da candidatura presidencial de Aécio Neves. Contou algumas bravatas sobre FHC entregar um governo “arrumado” para o PT em 2002, quando sabemos bem que país era esse: desemprego, recessão, dívida pública altíssima, juros insuportáveis, ausência de investimentos em infra-estrutura. Maia falou ao menos uma mentira gritante, ao dizer que FHC entregou uma dívida externa tranquila que foi convertida em dívida interna “ruim” por Lula. A dívida pública hoje, no Brasil, tem uma qualidade muito superior à da era tucana. Pagamos juros menores, o percentual atrelado ao câmbio é pequeno e nossa pontuação nos rankings internacionais disparou.
Arthur Virgilio: O prefeito de Manaus fez uma denúncia importante. Não existem, nas universidades públicas, cadeiras especializadas na Amazônia, enquanto que existe em outros países, como França. Se isso for verdadde, vai o recado para reitores: resolvam isso! Em seguida ele fala em preocupação: inflação que retorna. Manda um recado indireto à Serra, dizendo que “não é mariposa para ficar de lâmpada em lâmpada”, e afirmando que não se pensa em outro partido. Prega a unidade.
Marconi Perillo: O governador de Goiás inicia com elogios ao ex-presidente FHC. Logo em seguida, faz o ataque mais direto e mais violento ao ex-presidente Lula. “Nunca foi tão difícil ser oposição, e fazer oposição ao maior canalha desse país.” Aécio dá um risinho malicioso, segurando o queixo. Não é muito discreto; mostra os dentes, nervoso, alegre e contido. A sua direita, FHC se mantém sério, com ar de satisfação, quase alívio; à esquerda, Alckmin, também ri. Logo em seguida, Aécio olha para FHC e se recompõe.
Eu paralisei o vídeo e tirei a foto desse instante (0.23.30 no vídeo):
O público cantarola alguma coisa sobre o mensalão.
E diz que “um dia, teve coragem de informar o presidente que havia mensalão, ou mesada, para comprar deputados”. E desde então, “fui escolhido, ao lado de Artrur Virgílio, José Agripino e Tasso Jereissati, como seus adversários maiores”. Perillo tem ódio de Lula porque esteve perto de ser derrubado, por suas relações com Cachoeira. E aí voltamos a essa grande farsa judicial do Brasil. Condena-se gente sem prova no julgamento do mensalão, como forma de provar que “acabou a impunidade no Brasil”, mas Perillo, cujas ligações com Cachoeira são atestadas por inúmeras gravações de vídeo, áudio, documentos e testemunhos variados, ele pontifica em favor da ética e da política.
Fala em “ética da solidariedade”, referindo-se ao apoio do PSDB ao processo de blindagem de sua imagem, quando se envolveu no escândalo de Cachoeira.
“Eu estou sentindo um cheiro nesta convenção… O PSDB vai voltar à presidência da República, e será liderado por aquele que é neto do homem que fez a transição para a democracia. Aécio Neves.”
José Serra (íntegra do discurso): Serra começa atacando uma fala de Lula. Atrás de Serra, um deputado tucano mineiro, Carlos Mosconi, acusado de pertencer a uma máfia de tráfico de órgãos humanos. E ainda fala de ética, decência e vergonha na cara…
Serra: Discurso golpista, obviamente. Termina falando que o governo “persegue as igrejas”… Ai ai, esse não mudará nunca. É a baixaria personificada.
Alckmin: Discurso estranhíssimo, culpando o governo pela invasão da cocaína e do crack. Depois insiste na cocaína. Tive a impressão que estava assistindo a uma reunião de ex-drogados. Fiquei imaginando as centenas de usuários de cocaína presentes na convenção e escutando aquilo e bocejando internamente. Culpar o PT pelo uso de cocaína no Brasil, essa é nova. É até engraçado, não fosse uma coisa séria.
Sérgio Guerra: Começou digno, pregando união e busca de convergência, me fazendo imaginar até elogios, quando de repente envereda pela mais canalha desqualificação do adversário como “não democrático”. Uma postura golpista típica. Historicamente documentada. Se uma coisa aprendi assistindo a essa compilação de vídeos da Convenção Nacional do PSDB é que a esquerda deve tomar o cuidado para jamais ser assim. Se o foi, errou e deve aprender com seus erros. Jamais deve desqualificar a virtude democrática do adversário de outro partido, porque isso é jogar a água fora junto com o bebê. A luta política deve ser feita na base da ideia e da eleição. Tem que lutar pra ganhar o adversário no voto, sem apelar para tapetões judiciais e afirmando que o adversário não é democrático. Há inclusive uma proliferação exagerada de cassações de prefeitos por parte do TSE que devemos investigar. A mídia quase derrubou a república quando a polícia federal começou a prender empresários graúdos, e falou em República Policial. Pois bem, foram ouvidos e a PF passou a ser mais discreta, talvez até discreta demais, após a saída de Paulo Lacerda. Mas ninguém reclama do crescimento descontrolado do poder policialesco dos tribunais eleitorais, sobretudo após a aprovação da ficha limpa. Uns se preocupam com a ética, maravilha; mas eu me preocupo também com a violação da soberania popular, transferindo o poder de eleger alguém do povo para um desembargador ou juiz que, a meu ver, podem ser tão ou mais desonestos que o político em questão.
FHC: Exibe-se um vídeo institucional em que somos informados que a mãe de FHC pensava que ele seria Papa ou presidente. Acho que se Deus realmente fosse brasileiro, faria de FHC papa e não presidente. Seria um ótimo papa, bem comportado, conservador, obediente às eminências pardas do Vaticano, como foi em seu governo aos interesses estrangeiros. Talvez abandonasse o papado antes de morrer para terminar os dias pedindo a liberação da maconha. Ou seja, seria um ótimo papa. Infelizmente, a história o fez presidente. Mas tudo bem. FHC foi melhor que nada. Uma etapa em nossa democracia.
Em sua fala, FHC começa a falar que estava numa reunião na África, com outros ex-presidentes, incluindo Nelson Mandela, discutindo sobre a Síria e afirma que estava pensando o tempo inteiro no PSDB. Ou seja, o sujeito está discutindo uma guerra e uma questão humanitária e geopolítica de proporções catastróficas e admite a pequenez de estar distraído porque pensava em alguma questão partidária interna medíocre. Ora, se um ex-presidente brasileiro está numa reunião pensando uma gravíssima questão mundial, então que nos represente com qualidade, honra e talento e não fique ali se remoendo por causa das questiúnculas domésticas de seu partido.
Quando eu olho, escuto e leio FHC, a impressão que tenho é de alguém que já nasceu senil, e foi piorando a vida inteira. Parei no minuto 1:12:23, no meio da sua fala. Analisar FHC é barra pesada. Amanhã analiso o resto do vídeo.
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Voltando…
Uma das partes mais tristes é quando aparece uma mulher. Fica patente que pensaram: bota uma mulher lá só para constar. A presidente do PSDB Mulher faz uma intervenção paupérrima, sem trazer nenhuma argumentação além de que é mulher, blábláblá. É incrível a pouca quantidade de mulher e negros no PSDB. Isso chama atenção.
Retomando a fala de FHC. Até que ele está bem, com boa disposição. Aí compara o PT aos fundamentalistas da Síria… Fala em rumo… mas não me parece convicto. “Somos utópicos”. Frases incoerentes.
“PSDB tem convi-qui-ção.”
Reclama que a oposição em seu tempo “era feroz”. Porque queriam “o poder”. “Pra fazer o que?” Resposta do público: “pra roubar”.
Fala que PT fez atrasado a leis dos portos. Se gaba que todos tem celular. Velho papo que se não privatizassem, não haveria celular no Brasil.
“Agora se orgulham que está havendo em celular, na banda larga”. “Dificilmente [sem a privatização] entraríamos na era da internet.”
Essa é nova: sem o PSDB, o Brasil não entraria na era da internet…
Aí começa a falar de Lula: “não vou qualificá-lo”. Multidão grita: “ladrão”, “mensaleiro”.
“Vi Lula imitar Vargas e sujar a mão de petróleo, pra anunciar a autossuficiência. Nunca importamos tanto petróleo como agora.”
“Fazem propaganda”. “Se esquecem que a Petrobrás é uma grande empresa”. “Uma das razões porque eu tive que sair do país é porque eu defendia o monopólio estatal do petróleo. Meu pai era general do petróleo.”
“O social também é nosso”.
“Serra disse aqui que o governo do PT nos deixou como herança a desindustrialização”.
“Estamos amarrados com a Argentina”. Ou seja, quer romper o Mercosul.
“Brasil já está cansado”. “Sabe qual o principal ministério desse governo, o ministério de desinformação e propaganda”.
“Vá a periferia da grande cidade e vê se não há problemas de segurança”.
“Jovens e mulheres, esses são os principais interlocutores”. ??? E os homens e velhos, estão de fora, rs?
“O povo precisa de carinho.”
“Sentimento do companheirismo, não o deles, mas a fraternidade.”
“Não nos esqueçamos que a questão negra é nossa também. Eu iniciei isso…”
“Esse homem vigoroso, Arthur Virgilio, falou na Amazonia. Eu estive lá quando jovem.” “Grande governador de Goiás”. Perillo…
“PSDB tem que ser da raíz do Brasil. ” Entusiasmo totalmente falso da platéia.
“Como diz o Perillo, sabemos quando dar o apoio necessário”.
Vídeo falando na transição democrática. Foto do Brizola (?).
Jinglezinho. Aécio no centro. Discurso de Aécio.
“Somos o partido das privatizações, que tão bem fizeram ao Brasil”.
“Somos, sobretudo, o partido da ética.”
“Tucanafro” ???
“PT inverteu a lógica e colocou o Estado a serviço de seu projeto de poder”.
“Bolsa Família será mantido”.
“Querendo colocar um garrote no Supremo Tribunal Federal, cercear a imprensa”. “Eles nos temem!”
“Slogan surrado do governo federal, que Brasil rico é Brasil em miséria. O correto é Brasil rico é Brasil com educação.”
“Peço licença para mais um agradecimento. Até me emociono com a sua lealdade. Obrigado governador Anastasia, pela sua solidariedade (?), pelo seu talento.”
“Governo federal participava com 47% na saúde de estados e municípios. Hoje o governo participa com 35%”.
“Fala em Carlos Mosconi…”
“Não permitiremos que as liberdades democráticas sejam colocadas em risco…”
“Nós não queremos hegemonia…”
“Nós, que condenamos a corrupção”.
“Ética e política deve ser como irmãos siameses. Jamais se separarem”.
Jingle. Fim do evento.
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Pronto, acabada a parte mais chata desse trabalho, posso fazer um balanço geral. Faço isso nesta terça à tarde. Até mais.