Um dos principais prazeres do analista político é detectar um acontecimento que estava à vista de todos, mas que só ele viu. Pois é, acabou de acontecer. Ninguém parece ter reparado no significado da declaração de Serra aos repórteres, após uma palestra promovida pela FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade) da USP (Universidade de São Paulo).
Quer dizer, o Brasil 247 registrou o contraste entre a declaração de Serra e o posicionamento de Aécio, mas não fez a ilação que arriscarei fazer agora.
A maneira assertiva, quase raivosa, com que Serra afirmou que não vê risco de inflação no Brasil (“Não vejo uma explosão inflacionária. De jeito nenhum. Não vejo”) revela bem mais do que uma divergência partidária interna.
A denúncia de inflação alta vinha sendo a principal bandeira de Aécio. Tanto é assim que foi o tema principal em sua fala no 1º de maio. E não é de hoje. O discurso de Aécio tem recebido apoio dos grupos de mídia. A manchete de hoje do Globo não deixa dúvida sobre isso:
Serra desafina o afinado coro da oposição sobre inflação. Interessante observar ainda que os repórteres procuraram o tucano justamente para arrancar deles petardos anti-inflacionários, contra o governo. Serra defendeu a política de juros baixos do governo, ao contrário de Aécio Neves, que jamais menciona a questão dos juros, provavelmente porque é um lobista dos grandes bancos, nacionais e estrangeiros.
A fala de Serra sinaliza uma cisão quase insanável no PSDB. E não é a primeira vez. O tucano tem evitado se encontrar com Aécio e só aparece após a saída do mineiro. Tudo indica, portanto, uma ruptura do serrismo com a candidatura de Aécio Neves.
Temos um cenário desolador para a oposição. Marina não tem sequer um partido e hoje precisa se arrastar aos pés do STF para conseguir alguma migalha em termos de recurso partidário e tempo de TV.
Campos anda com rabo entre as pernas após um suposto telefonema de Lula que, segundo Tereza Cruvinel, lhe disse algumas verdades.
Aécio Neves não dá uma dentro. Defende a reeleição e no dia seguinte uma avalanche de cardiais tucanos, inclusive o seu próprio guru, Fernando Henrique, o desautoriza. Acusa o governo de promover inflação e no dia seguinte um de seus correligionários mais conhecidos no país, José Serra, contraria-o publicamente, dizendo que não vê inflação nenhuma. Aparece ao lado de Paulinho da Força, um minuto depois do mesmo ter defendido a maior irresponsabilidade da década, que é pregar a indexação trimestral dos salários, medida que apenas jogaria gasolina na inflação.
Pelo andar da carruagem, Dilma assegura uma vitória tranquila em 2014, mesmo que num segundo turno.
carlos
31/10/2014 - 14h55
aecio