Datafolha: maioria dos paulistanos são de direita

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Análise de pesquisa Datafolha sobre ideologia e preferência partidária

Esta semana, o Datafolha divulgou uma pesquisa que poderá nos ajudar a entender melhor o pensamento político brasileiro. Foram feitas 1.120 entrevistas apenas com moradores de São Paulo, mas a diversidade da capital paulista nos permite vislumbrar um pouco do caráter nacional. O levantamento foi realizado entre os dias 25 e 26 de abril de 2013. Selecionei e editei várias tabelas para fazermos, com base nelas, uma análise política e ideológica do eleitorado paulistano/brasileiro.
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Na imprensa e nas redes, vimos apenas a repercussão da resposta dos paulistanos à pergunta sobre qual o melhor prefeito em 30 anos: deu Marta Suplicy, do PT, na cabeça, com 25% da preferência dos paulistanos, seguido de Mario Covas, com 16%.  A preferência por Marta, explica-se em grande parte por sua excelente aprovação entre os mais jovens; entre os paulistanos com idade de 16 a 24 anos,  pontuou 36%, contra 9% de Mario Covas e 23% de Serra.

O fator classe é muito forte em São Paulo. A pontuação de Marta deriva fundamentalmente de sua reputação entre os mais pobres. Entre os que tem renda familiar superior a 10 salários, ela ficou em quarto lugar, atrás de – por ordem de importância – Mario Covas,  Serra e Janio Quadros.

Em seu blog, o jornalista Paulo Nogueira destacou a fragilidade do PSDB em termos de preferência partidária em São Paulo, justamente onde eles, em tese, deveriam ter o seu principal patrimônio eleitoral. Segundo o Datafolha, apenas 8% dos paulistanos tem o PSDB como legenda preferida, contra 28% do PT. Trata-se de uma diferença por demais brutal para ser ignorada numa análise. O PSDB se transformou numa legenda virtual, muito mais midiática do que real, e certamente isso está por trás de suas sucessivas derrotas eleitorais, em todo país.

Entretanto, analisando detidamente por faixa de renda, vê-se que não é bem assim. O PSDB tem militância sim, só que limitada aos mais ricos. A preferência partidária pelo PSDB apenas atinge percentuais relevantes da população entre as faixas de renda que ganham acima de 5 salários. Entre os que tem renda familiar superior a 10 salários, a preferência pelos tucanos é de 21% dos paulistanos; nessa mesma faixa, o PT tem apenas 16%. Entre os que ganham até 2 salários, por outro lado, o PSDB tem uma pontuação de 2%, contra 31% do PT.

 

Outra tabela bem interessante é que traz perguntas sobre o perfil ideológico dos paulistanos.  O primeiro dado que chama atenção é o predomínio da direita: 20% dos entrevistados se declararam de direita, contra apenas 14% que se identificam como de esquerda. Com uma curiosidade: entre os que preferem o PT, 22% se declaram de direita; 14% de esquerda. O PSDB, por outro lado, é marcadamente uma legenda de direita: 28% dos tucanos e simpatizantes do PSDB marcaram direita, contra somente 10% que marcaram esquerda.

No caso do PT, todavia, em virtude do partido ter grande número de simpatizantes entre pessoas com baixa escolaridade, é possível que haja alguma confusão conceitual. Já houve pesquisa indicando que, quando a pessoa não sabe o que é direita ou esquerda, tende a marcar “direita” em virtude das conotações positivas do termo (pessoa direita, íntegra, decente).

 

 

A mesma pesquisa na tabela com diferenciação por faixas de renda reforça minha suspeita de confusão conceitual. Entre pessoas que tem apenas o ensino fundamental, a escolha pelo termo “direita” ganha disparado, com 28% da preferência, contra 13% que optaram por se identificar como de esquerda. Já entre as pessoas com ensino médio, a popularidade do termo “direita” cai brutalmente, para 17%. Entre os que tem diploma de ensino superior, 14% se declararam de esquerda e 15% de direita; o centro teve 34% das preferências.

 

 

A Folha também fez perguntas sobre o espírito democrático dos paulistanos.  Na matéria que fez sobre a pesquisa, aliás, o destaque foi para o declínio no número de pessoas que disseram preferir, sempre, a democracia: era 57% em 2003 e caiu para 53% em 2013. Ocorre que este índice chegou a 61% em 2008. Ou seja, há grande oscilação neste sentido, e creio que grande parte decorre de certa confusão conceitual de entrevistados das faixas menos escolarizadas. As pessoas não tem muita noção das diferenças entre democracia e ditadura.

 

 

Os números abaixo, por exemplo, poderiam sugerir que os simpatizantes do PT tem menos apreço à democracia do que os tucanos. 56% dos petistas declararam que “a democracia é sempre a melhor forma de governo”, índice acima da média geral, acentue-se. Mas entre os tucanos, a declaração de amor à democracia teve apoio de 69%. Ocorre que, se fizermos o corte de renda, veremos que os tucanos, com preferência geral de apenas 8% dos paulistanos, tem simpatizantes concentrados fortemente nos estratos mais altos de renda, que naturalmente tem maior acesso à informação e à cultura.

 

 

 

 

A tabela abaixo comprova isso. Repare que apenas 43% dos entrevistados pertencentes à faixa de renda mais baixa, até 2 salários, opinaram em favor da democracia, contra 73% das faixas que ganham mais de 10 salários. Obviamente, os muito pobres têm motivos de sobras (ou melhor, de menos) para não morrerem de amores pelo regime que os oprime economicamente, enquanto os ricos adoram as coisas como estão.

 

Conclusão:  Eu desconfio desse amor “democrático” das elites brasileiras, porque me lembro bem que o golpe de 64 foi realizado em nome justamente da defesa da “democracia”. Mas, de qualquer forma, é bom saber que o termo goza de forte popularidade. A oscilação é normal, e tudo indica que o apreço pela democracia tende a aumentar à medida em que as pessoas melhoram de vida. A razão é óbvia: as pessoas se tornam gratas ao sistema de governo que lhes permitiu ascender socialmente.

Íntegra da pesquisa Datafolha.
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Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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