Gerson Carneiro: Lobão mente!
Gerson Carneiro: “Vovós de hoje são mais espertas que o Lobão”
por Gerson Carneiro, especial para o Viomundo
Diz o Lobão: “Em 1961, começaram a luta armada. Era bomba estourando, eu estava lá. Minha mãe falava: você vai ser roubado da gente, o comunismo não tem família”.
Lobão mente! Nascido em 11 de outubro de 1957, em 1961 Lobão tinha apenas 3 anos de idade. E nos anos de chumbo, na década de 70, Lobão estava experimentando drogas no Rio de Janeiro, como confessa em sua auto-biografia intitulada “50 anos a mil”.
Em 1961, não era possível, e não era comum, a uma criança de apenas 3 anos de idade, desprovida de internet e de televisão (sim, porque, em que pese o fato de na época a televisão ter chegado ao Brasil há só 11 anos, não existia programas televisivos para despertar consciência política em uma criança) ser capaz de perceber a realidade política do mundo adulto em sua volta.
Diferentemente do que se passa no tempo atual em que a relação de consumo é determinante para despertar certo grau de consciência política nas crianças.
Outro dado que atesta a mentira do Lobão é que a luta armada contra a ditadura civil-militar começou após a entrada em vigor do AI-5, em 13 de dezembro de 1968, e não em 1961.
Ao que parece Lobão andou tendo aula de História com o professor Aluízio Mercadante antes de escrever seu “Manifesto do Nada na Terra do Nunca”. Ao menos o título da obra é coerente com o desconhecimento do Lobão.
Para preencher a linguiça das 591 páginas de “50 anos a mil”, Lobão relata até que sua avó fazia bonecos de pano e que ele adorava regar as flores da vovozinha. Em nenhum momento faz referência a qualquer participação sua na luta contra ou a favor da ditadura.
Ou seja, acontecimento de relevância na infância e juventude do Lobão foram mesmo os bonecos de pano e as flores da vovozinha.
Portanto, Lobão mantém a tradição: mais uma vez tenta mentir para a vovozinha. Só que a vovozinhas contemporâneas são usuárias de internet e bem mais espertas do que ele.
Perdeu, Lobão.
Guilherme Scalzilli
04/05/2013 - 18h52
Bobão
Meu comentário sobre as besteiras de Lobão é contraditório. Porque acho que elas deveriam ser soberbamente ignoradas. As reações inflamadas, reproduzindo a grosseria intelectual que pretendem combater, apenas repercutem o que não merece a rápida sinapse necessária ao descarte.
Sempre admirei Lobão, um pouco pelas músicas, mas principalmente por sua militância contra o sistema de gravadoras e jabás radiofônicos. E também pela denúncia contra a hipocrisia nefasta da repressão aos usuários de drogas, da qual foi uma vítima célebre. Que o músico personifique a união dessa bandeira progressista com o repertório do antipetismo hidrófobo é evidência de certa esquizofrenia programática amiúde abordada neste espaço.
Óbvio que ele tem sensibilidade e erudição suficientes para saber que suas bravatas são rasteiras, que não suportariam minutos de um debate sério. Mesmo a relevante questão dos incentivos fiscais a artistas consagrados se perde no discurso tosco e simplificador. Talvez Lobão esteja buscando reconstruir a própria figura pública, vestindo um figurino de polemista indignado “antitudo” que satisfaça melhor suas necessidades intelectuais e financeiras. Até que ponto essa é uma postura honesta, ou coerente com sua trajetória profissional, cabe a ele mesmo e a seus fãs descobrirem.
Resta-nos lamentar que se transforme em outro inocente útil desse folclore ultra-reacionário que vem ganhando adeptos nas redes sociais e na mídia corporativa. Mergulhando na estupidez recalcada por um patológico ressentimento de classe, Lobão perde o último tufo de relevância que ainda guardava. Decadence sans elegance, como diria o roqueiro de antanho.
http://www.guilhermescalzilli.blogspot.com.br
Fernando G Trindade
04/05/2013 - 13h07
Interessante perceber como a neopostura reacionária de Lobão guarda simétrica coerência com o deslocamento da classe média tradicional para a direita, que vem ocorrendo nos últimos anos.
Veja-se a reação de setores mais elitistas da classe média tradicional à ampliação da circulação dos setores sociais da nova classe média nos aeroportos e shopping centers.
Perceba-se que um dos alvos de Lobão é Mano Brown, exatamente um dos artistas mais representativos da ascensão política, social e cultural da nova classe média. Dos setores não-conformistas dessa nova classe média, diga-se.
Note-se que outro alvo é Gilberto Gil, que tendo tudo para não se engajar no projeto de mudança hoje vivido no País – ou pelo menos ‘lavar as mãos’ – com ‘ingratidão’, não é Lobão? decide participar ativamente desse processo, a ele se dedicando por cerca de seis anos.
(E que coincidência hein Lobão, Mano Brown e Gil, os dois, artistas negros…)
Enfim, essa inconformidade com a ascensão social do ‘andar de baixo’ que Lobão vocaliza, é o estranhamento, o mal-estar do profissional liberal ou do alto funcionário, que de repente cruza com a família do porteiro no hall do shopping Center outrora reservado ao ‘andar de cima’.
E embora pessoalmente lamentando esse deslocamento para a direita da classe média tradicional tenho para mim que ele é um dos mais significativos sinalizadores de que este País está efetivamente vivendo efetivo processo de ascensão social dos de baixo.
(A propósito, esse deslocamento da classe média tradicional para a direita está sendo eleitoral e politicamente compensado – com ganhos em votos – com simétrico crescimento dos candidatos e das políticas da esquerda nas últimas eleições no eleitorado popular. Vejam-se os resultados das eleições e as pesquisas de opinião).
Por fim, não deixa de ser meio hilário-retrô ver Lobão ecoando a crítica oligárquica à Coluna Prestes e defendendo a ‘família brasileira’ contra a ameaça de seqüestro de seus rebentos pelos comunistas, nos idos de 64…
Em tempo, essa catarse reacionária de Lobão deve ser existencialmente respeitada (embora politicamente criticada) e não afastar o reconhecimento de suas belas canções ‘gauche’. Vou continuar ouvindo o sue CD que tenho tipo ‘autógrafos de sucessos.’
De qualquer modo, para mim a consciência de que o rock’n roll tem bem mais a ver com bom entretenimento do que com mudança sócio-política veio lá nos idos de 1975, assistindo na TV a um clip em que Mick Jagger declarava “I Know, it’s only rock and roll, but I like it”…