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As articulações do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, para estabelecer palanques em alguns estados revelam que ele está exercitando as virtudes do pragmatismo a uma escala quase insana.
Na verdade, insana talvez não seja o termo certo. Destrambelhado seria melhor.
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Há um bom tempo que eu protesto contra a vilificação do pragmatismo nas análises políticas. O vocábulo vem do grego antigo, da palavra Prasseim, que significa “fazer”, “realizar”. No ambiente de negócios, pragmatismo é incontestavelmente uma virtude positiva, e sequer está ligada à qualquer noção de desonestidade. O homem pragmático é um homem sério e realizador.
Na política brasileira, quiçá pela influência ibérico-cristã, assumiu uma faceta negativa. O político pragmático é o que pensa antes na conservação do seu poder do que no bem público. Se o político vê sua atividade como um negócio privado, faz sentido.
Mas aí temos uma confusão negativa, fruto daqueles valores pouco dignificantes da ideologia cristã, tão odiados por Nietzsche, segundo os quais quanto mais formos pobres, humildes, ignorantes, submissos e fracassados, maiores serão nossas chances de encontrar uma boa vaga no estacionamento celeste.
A filosofia, os historiadores, e a arte, felizmente conseguiram superar essa perniciosa armadilha conceitual, feita para deixar os pobres sempre pobres. A esquerda latina-americana, todavia, formada nos preceitos cristãos, ainda não se livrou totalmente de seus vícios. E a grande mídia sabe explorar muito bem essas contradições. Não é por outra razão que o Globo, por exemplo, deu destaque, há uns anos, a um grupo de dirigentes sindicais que tinham “casa” e “carro”, e moravam em condomínios confortáveis. Quando se via de perto, não era nenhuma vida milionária, mas perfeitamente compatível com a renda de altos dirigentes sindicais.
O ex-presidente Lula desde o início de sua carreira lutou contra esses preconceitos. Tanto para a vida pessoal dos trabalhadores e seus representantes políticos, quanto na própria política. O trabalhador precisa se organizar em partidos, galgar os degraus da vida política e dialogar, de igual para igual, com os donos do poder. Vestir-se mal não vai ajudar. Tampouco se isolar em igrejinhas pseudo-revolucionárias, rancorosas e sectárias. O trabalhador precisa ganhar eleições, então precisa de recursos, estabelecer alianças com outras forças sociais. Depois precisa governar e governar bem, então precisa de estabilidade e fazer acordos políticos inclusive com ex-adversários, e com quem pensa diferente. O professor Wanderley Guilherme lembra que o partido socialista sueco foi aliado do partido conservador durante 30 anos, período em que a Suécia se transformou num dos países mais justos do mundo.
Esse é o lado bom do pragmatismo.
Agora, tem o outro lado, claro, e admito que a linha às vezes pode ser tênue entre o bom e o mau pragmatismo. Mas não é tão difícil identificar. Por exemplo, confiram a seguinte notinha publicada na coluna do Ilimar Franco, no Globo:
Frente ampla – Ex-fundador da UDR, o líder do DEM na Câmara, Ronaldo Caiado, que também é candidato ao governo de Goiás, teve conversa promissora com o governador Eduardo Campos (PE), candidato do PSB à presidência. Caiado, adversário do governador Marconi Perillo (PSDB), pode colocar seu palanque à disposição do candidato socialista.
O estágio da batalha – Explica o prefeito de Duque de Caxias, Alexandre Cardoso: “Hoje, minha luta é no PSB. Não podemos ter um candidato de oposição integrando o governo. Um partido de esquerda não pode ter candidato sustentado pela direita”.
Leia também as notinhas da Monica Bergamo, na Folha.
TORCIDA – Eduardo Campos (PSB-PE) tem convicção de que José Serra deixará o PSDB, com chance de se lançar candidato a presidente por um novo partido, o Mobilização Democrática. É o que tem dito a interlocutores. Para ele, que é pré-candidato também, quanto mais oposição a Dilma Rousseff, melhor, para forçar um segundo turno.
TORCIDA 2 – Para isso ocorrer, no entanto, é crucial que o STF (Supremo Tribunal Federal) mantenha a possibilidade de novos partidos acessarem recursos e tempo de TV em 2014, viabilizando o Mobilização Democrática.
As notinhas de Bergamo se seguem a uma série de encontros de Campos com Serra e seu principal capanga, Roberto Freire, e sugestões plantadas na imprensa de que o tucano, já em outro partido, poderia se lançar candidato em São Paulo para dar palanque ao governador de Pernambuco.
Francamente, uma coisa é aceitar o apoio de fulano. Outra, bem diferente, é apoiar a candidatura de Ronaldo Caiado e José Serra. Mais que isso, é iniciar uma articulação política de grande escala usando como base de sustentação esse tipo de aliança. Aí é entrar definitivamente no time da direita, e uma direita em declínio, respirando apenas pelos aparelhos fornecidos pela grande mídia.
Não é pragmatismo. É burrice travestida de pragmatismo. É adotar uma estratégia baseada apenas nas informações enviesadas da mídia, ignorando completamente os anseios de uma nação ainda profundamente traumatizada por séculos de iniquidade social. O resultado pode ser o esfriamento da relação com as alas mais progressistas do PSB, como o próprio prefeito de Duque de Caxias, Alexandre Cardoso.
No entanto, talvez eu esteja sendo injusto. Relendo a notinha, ela não fala que Campos apoiará Caiado, e sim que Caiado pode abrir seu palanque para o socialista. Mesmo assim, Campos tem emitido apenas sinais conservadores. Senão sinalizar também à esquerda, deixará claro que pretende combater o governo pela direita, o que de certa maneira facilitará a estratégia de Dilma Rousseff. Atuando à direita, Campos pega o eleitor de Aécio, não do PT. Bem, talvez seja isso mesmo o que ele deseje. Ao invés de Campos chegar para dividir o eleitorado da esquerda, ele viria dividir os eleitores da direita, pensando em reuni-los novamente num segundo turno.
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