Esclarecendo o problema da Voz do Brasil

No post anterior, mencionei rapidamente o risco de esvaziamento da Voz do Brasil. Acabo de ler o artigo de Chico Sant’Anna e Beto Almeida, publicado hoje no Observatório da Imprensa e cumpre fazer alguns esclarecimentos e se aprofundar no debate. Eles – e não a equipe do Requião – são os idealizadores do projeto de lei que “tomba” o programa audiofônico. Eles e uma dúzia de importantes movimentos sociais e sindicais, regionais e nacionais. Segundo os dois idealizadores, em artigo recente para o Observatório da Imprensa, “a proposta foi abraçada pela senadora Marinor Brito (PSOL-PA), que já a apresentou na forma de projeto de lei. Este conta com apoio pluripartidário, dentre outros, do senador Roberto Requião (PMDB-PR) e da senadora Vanessa Graziotin (PCdoB-AM)”.

O senador Roberto Requião (PMDB-PR) continua sendo um personagem fundamental, porque é dele a iniciativa de pedir vistas e barrar o processo que jogaria o projeto de “tombamento” no lixo do Senado.

O projeto originário não “acaba” com a Voz do Brasil. Ele flexibiliza seu horário para até 22 horas. Aí que está o problema. Os principais ouvintes da Voz do Brasil estão no interior do país, onde a escassez de jornalismo é um profundo vácuo. Tanto que um dos movimentos mais importantes que apóiam o projeto de “tombar” a Voz do Brasil e mantê-la no horário atual é a Contag, a Confederação de Trabalhadores na Agricultura, uma instituição extremamente capilarizada no interior através dos sindicatos rurais.

O brasileiro do interior, sobretudo nas áreas de agricultura – única atividade econômica em vastas extensões de nosso país – dorme cedo. Estender o horário da Voz do Brasil para depois das 20 horas eliminará o ouvinte que mais precisa dela.

Não sou sectário quanto ao horário da Voz do Brasil. A lei poderia flexibilizar o horário para algumas rádios em centros urbanos e manter o horário original nas regiões agrícolas. Entretanto, a questão é outra. O movimento “Em Brasília 19 Horas” detectou, nas rádios brasileiras, uma quantidade ridícula de profissionais de imprensa contratados. Ou seja, há quantidade insuficiente – e declinante – de jornalismo no rádio em todo Brasil, não apenas no campo. Por isso, a Voz do Brasil cumpre uma função pública importante também nas periferias urbanas, onde a maioria também dorme cedo. Nesse contexto, é interesse estratégico, pelo bem da informação, manter a Voz do Brasil em horário nobre no campo E na cidade.

O que poderia haver é, sim, uma lei para aprimorar e melhorar a Voz do Brasil, torná-la mais dinâmica, mais atraente, sem vulgarizá-la. Na minha humilde opinião blogueira, deveria haver aumento de recursos para a Voz do Brasil e redução para as rádios privadas, sobretudo as grandes. O Brasil precisa privatizar a mídia privada para sobrar recursos para investir na mídia pública. As milhares de pequenas rádios que distribuem a Voz do Brasil, no campo e nas periferias, serão beneficiadas.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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