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No post de hoje, dois assuntos. Primeiro, falamos de inflação, mostrando que produtos essenciais à alimentação, como carne, registraram forte queda de preços. Depois trazemos à baila o clássico de René Armand Dreifuss, reproduzindo trechos que descrevem a meticulosa operação para manipular a opinião pública levada a cabo nos anos anteriores ao golpe de 64. Nesses tempos de comissão da verdade, vale a pena reler um pouco do Dreifuss.
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Primeiro vamos falar de inflação, cujo índice de março foi divulgado ontem pelo IBGE e levou os grandes meios de comunicação a fazerem um escarcéu sensacionalista. Entretanto, a inflação caiu em março. Estava em 0,6% em fevereiro e caiu para 0,47% em março. Ela só cresceu no acumulado de 12 meses, o que era já esperado, assim como é esperado cair ao longo do ano.
Inflação no Brasil
Observe ainda uma coisa. Houve problemas inflacionários com alguns produtos agrícolas, como farinha de mandioca e tomate. Mas é importante destacar que o preço da carne vem caindo substancialmente nos últimos meses. Em março, a inflação da carne foi negativa, ou seja deflação, de – 1,63%. No acumulado de 12 meses, enquanto a inflação estourou (temporariamente) o teto e ficou em 6,6%, mas a carne registrou inflação de apenas 3,0%.
Hoje eu queria trazer um pouco de literatura política. Em 1981, o escritor uruguaio René Armand Dreifuss publicou o que seria, até o momento, o maior clássico sobre a preparação do golpe de estado de 1964: “1964, A conquista do Estado – Ação política, poder e golpe de classe”.
O capítulo VI trata da campanha ideológica que preparou a sociedade para receber o golpe. Nessa parte do texto, o acadêmico fala das estratégias, meticulosamente calculadas, para manipular a opinião pública, desmoralizar as ideias de soberania e justiça social e unir “um bloco de poder em torno de um programa específico de modernização econômica e conservadorismo sócio-político”. Lembremos que as siglas IPES e IBAD referem-se aos instititos milleniums da época, muito fortes, que recebiam inclusive financiamento externo (EUA).
Vamos ao trecho. Acho incrível como o argumento de Dreifuss parece atual. Ele parece se referir a algo que está acontecendo agora:
Doutrinação geral
Os canais de persuasão e as técnicas mais comumemente empregadas compreendiam a divulgação de publicações, palestras, simpósios, conferências de personalidades famosas por meio da imprensa, debates públicos, filmes, peças teatrais, desenhos animados, entrevistas e propaganda no rádio e na televisão. A elite orgânica do complexo IPES/IBAD também publicava, diretamente ou através de acordo com várias editoras, uma série extensa de trabalhos, incluindo livros, panfletos, periódicos, jornais, revistas e folhetos. Saturava o rádio e a televisão com suas mensagens políticas e ideológicas. Os jornais publicavam seus artigos e informações. Para alcançar essa extensão de atividades variadas, o IPES alistava um grande número de escritores profissionais, jornalistas, artistas de cinema e de teatro, relações públicas, peritos da mídia e de publicidade. O complexo IPES/IBAD também era capaz de articular e canalizar o apoio de algumas das maiores companhias internacionais de publicidade e propaganda, criando assim uma extraordinária equipe para a manipulação da opinião pública. Jornalistas profissionais se integravam no esforço geral como “manipuladores de notícias” e propagandistas, trabalhando sobretudo através das unidades operacionais dos grupos de Opinião Pública, Estudo e Doutrina e Publicações. Certas empresas financeiras e industriais ligadas ao complexo IPES/IBAD se incumbiam dos arranjos financeiros, incluindo-os em suas folhas de pagamento, propiciando, assim, outra forma de financiamento indireto da açaõ da elite orgânica. Escritores, ensaístas, personalidades literárias e outros intelectuais emprestavam seu prestígio, escrevendo e assinando, eles próprios, artigos produzidos nas “estufas políticas e ideológicas” do complexo IPES/IBAD.
Em seguida, Dreifuss detalha a participação dos seguintes jornais na preparação ideológica do golpe: Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, as rádios Eldorado (do Estadão), O Globo, a Tribuna da Imprensa, o Diário de Pernambuco.
Um detalhe triste da pesquisa de Dreifuss é a descoberta de que o líder do IPES era o romancista Rubem Fonseca, que não por acaso seria o único escritor brasileiro a realmente ganhar dinheiro com venda de livros durante a ditadura, sucesso que se estenderia após a redemocratização.[/s2If]