Felizmente o jornalista Luiz Carlos Azenha mudou de ideia e o blog Viomundo não vai mais sumir do mapa. Mas o susto valeu para a gente refletir sobre a nossa fragilidade e matutar um pouco mais profundamente sobre os nossos dilemas.
Antes de continuar, uma pergunta: onde está o Tijolaço? Onde está o ex-ministro e deputado federal Brizola Neto?
Uma coisa que me espantou, nos debates que surgiram em torno da (abortada) decisão de Azenha de encerrar seu blog, foi a seguinte crítica: “Azenha não era imparcial”, “defendia o governo e o PT”. Em primeiro lugar, é uma mentira, porque o Viomundo era o blog progressista mais crítico ao governo. Em segundo lugar, o que uma coisa tem a ver com a outra? A crítica implica num absurdo preconceito político e ideológico. É tão absurdo imaginar que um governo aprovado pela maioria esmagadora dos brasileiros não pode ser apoiado por um punhado de blogs? O fato de ser simpatizante do governo justifica a censura?
É uma hipocrisia avassaladora. A blogueira Yoani Sanchez foi recebida com tapete vermelho pela mídia e pela oposição. Parlamentares do PSDB tiveram o desplante de interromper uma votação no plenário para fazer uma festinha com Yoani no salão principal da Câmara dos Deputados, e tudo para mostrar os protestos de membros da base aliada contra aquela inadmissível invasão como manifestações totalitárias contra uma simples blogueira.
E agora, quando o maior grupo de mídia no país, através de seu testa-de-ferro Ali Kamel, processa um importante blogueiro da esquerda, num processo que já custou R$ 30 mil em custos advocatícios, o fato é solenemente ignorado pela elite política, e segue-se um conivente silêncio nos grandes meios de comunicação.
No Brasil é assim. Só blogueiros cubanos que falam mal de Cuba são respeitados.
Agora, sejamos francos. Tem muito blog no país. Mas o que incomoda mesmo a elite política, à direita e à esquerda, é que exista um punhado de blogs que defendam o governo. À direita, os blogs “governistas” são criminalizados. À esquerda, idem.
Nem adianta argumentar que esse apoio é crítico, ou que um blogueiro como Azenha tente provar sua independência publicando cada vez mais matérias críticas ao governo, denunciando todos os desvios conservadores da base aliada, de ministros e da própria presidenta. Não adianta. Se o Azenha não se afirmar como oposição, ele não merecerá nenhum respeito ou solidariedade: tem mais é que levar processo da Globo e escafeder-se.
Ou seja, em nome de um proselitismo partidário (ou antipartidário) absurdamente sectário põe-se de lado qualquer bom senso sobre a importância do pluralismo político e da liberdade de expressão.
Por exemplo, tem um sujeito muito sábio e culto que acha errado a construção da usina de Belo Monte. Ora, os “governistas” são a favor, então automaticamente eles são genocidas, fanáticos, e constituem uma “milícia” que não merece outra coisa senão apanhar financeiramente da Justiça.
Essa é a suposta ultra-esquerda praticando o mesmo joguinho de criminalizar a política. Como diria o Paulo Moreira Leite, vamos combinar: a liberdade, se existe, é para malhar o governo, para defendê-lo, e para ser indiferente, não importa. Ninguém faz parte de “milícia” porque defende suas ideias.
Tudo isso sem contar que o “criticismo” da grande imprensa em relação aos governos, inclusive a governos “amigos”, na maioria das vezes tem como pano de fundo uma estratégia de chantagem contínua. Critica-se para se manter o poder de desestabilizar, poder esse que obrigará os governos a destinarem grandes somas em dinheiro, e não apenas na forma de publicidade, a esses grupos de mídia. A frase de Millor “jornalista é oposição, o resto é armazém de secos e molhados”, portanto, é no fundo ingênua, e poderia ser parodiada para “jornalista é oposição E armazém de secos de molhados”.
Os debates em torno do quase fim do Viomundo geraram também uma lamentável lavação de roupa suja sobre o problema de financiamento da blogosfera.
Eu publiquei uma matéria aqui no Cafezinho mostrando que mais de dois terços das verbas governamentais destinadas à internet vão para os grandes grupos de mídia. Muita gente replicou a matéria, e está havendo uma interpretação equivocada da situação. Vou tentar esclarecer. Em primeiro lugar, que eu saiba, afora os dois maiores blogs políticos do país (Nassif e PHA), a blogosfera não recebe dinheiro nenhum do governo. A briga não é para “mamar nas tetas” do governo. Se vivemos até aqui sem nada, poderemos continuar sem nada. A pior coisa para um blog “governista” é receber dinheiro do governo, porque a sua sinceridade será questionada. A grande mídia joga com isso: por isso que Merval Pereira et caterva, sempre que mencionam a blogosfera, tratam de lançar suspeitas de que esta receba recursos de partidos e governo.
Por isso, a solução que eu encontrei, por exemplo, foi cobrar assinaturas e desenvolver atividades econômicas paralelas.
No entanto, eu tenho plena consciência de que a cobrança por acesso também não é a solução ideal, porque a blogosfera é feita de múltiplos produtores de conteúdo e a formação de uma rede encontraria dificuldade para se expandir se todos cobrassem acesso. Por isso mesmo, eu trabalho com extremo cuidado a questão do acesso exclusivo, disponibilizando igualmente uma boa quantidade de conteúdos livres.
Mas é preciso pensar, sim, a questão do financiamento da blogosfera. Para blogs do PSOL, do PT, do PSDB, da Marina Silva, de todos. Há espaço para todo mundo. Mas deveria ser uma questão de Estado, em nome do pluralismo e da democracia.
O Azenha já mencionou várias vezes uma solução, que é óbvia: a associação de vários blogs para cobrar por cliques de publicidade. É muito difícil organizar uma associação de blogs, sobretudo entre blogs políticos, por causa das diferenças ideológicas inevitáveis entre cada um. Cada blogueiro é uma espécie de Citizen Kane de seu próprio espaço na internet. A mesma característica que confere uma incrível e saudável pluralidade política à nossa rede, também dificulta enormemente a formação de uma associação com fins puramente comerciais, ou melhor dizendo, com fins de sobrevivência, sustentabilidade e crescimento mútuo.
Mas não vejo outra saída: temos que enfrentar a nossas diferenças e criar uma agência de publicidade voltada para o nicho em que atuamos. Aí sim, poderemos obter alguns contratos com empresas privadas ou estatais. Até porque essa é a maneira certa. Os governos e empresas não indicam onde os anúncios serão veiculados. Isso fica a cargo das grandes agências contratadas, que escolhem em geral os grandes meios de comunicação, até por uma questão prática. Muito mais fácil e eficiente gerenciar o feedback de um anúncio no site do UOL, do que em 450 blogs.
Acabou-se, porém, o tempo de falar. Temos que agir. E parar também com essas lamentáveis hesitações políticas, pudores ideológicos, acusações mútuas, etc. Blogueiros tem de ganhar algum dinheiro porque precisam comer e pagar os custos de seus provedores, etc. Sem dinheiro, todos vão definhar, uma hora ou outra, e abandonar seus blogs.
O Azenha já tomou algumas decisões em relação ao blog dele. Da minha parte, decidi pôr em prática uma ideia que venho amadurecendo há bastante tempo. Decidi criar uma agência de publicidade voltada especificamente para obtenção de contratos de publicidade para blogs, com foco na blogosfera política. O nome dela é Agência O Cafezinho. Então se você tem um blog há mais de dois anos, com mais de 20 acessos em média por dia, e quer ganhar algum dinheiro com seu blog, ou simplesmente ajudar a blogosfera a se fortalecer, poderá participar. Não teremos preconceito ideológico além do bom senso: não aceitamos blogs racistas, homofóbicos, nazistas, etc. A agência se reserva, naturalmente, o direito de selecionar os membros, para formar um conjunto com um mínimo de qualidade. O objetivo, todavia, é produzir renda para os blogueiros, e permitir que, efetivamente, a blogosfera se desenvolva com independência e profissionalismo. Precisamos fazer isso antes de 2014, porque há grupos de mídia interessados em dominar solitariamente, sem nenhum contraponto, o debate eleitoral do ano que vem!
Se tiver interesse em participar da nossa agência, como blogueiro-membro, observador ou investidor, entre aqui.