[s2If !current_user_can(access_s2member_level1) OR current_user_can(access_s2member_level1)]
Há tempos que detectamos, no PSDB, uma guinada forte à direita. Achávamos que era um desvio, mas o próprio Fernando Henrique Cardoso, em entrevista recente, fez uma confissão surpreendente: o partido jamais se identificara realmente com a social-democracia, tanto que o próprio FHC (disse ele na entrevista) foi contra a inclusão de “social-democracia” no nome da legenda.
[/s2If]
[s2If !current_user_can(access_s2member_level1)]
Para continuar a ler, você precisa fazer seu login como assinante (no alto à direita). Confira aqui como assinar o blog O Cafezinho.[/s2If]
[s2If current_user_can(access_s2member_level1)]
Em sua coluna de hoje, Vladimir Safatle dá uma definição interessante do eleitor tucano médio:
Durante os últimos anos, o conservadorismo nacional organizou-se politicamente sob a égide do consórcio PSDB-DEM. Havia, no entanto, um problema de base. O eleitor tucano orgânico é alguém conservador na economia, conservador na política, mas que gosta de se ver como liberal nos costumes. Quando o consórcio tentou absorver a pauta do conservadorismo dos costumes (por meio das campanhas de José Serra), a quantidade de curtos-circuitos foi tão grande que o projeto foi abortado. Mesmo lideranças como FHC se mostraram desconfortáveis nesse cenário.
Safatle não teve espaço, todavia, para desdobrar um pouco mais seu raciocínio, nem para agregar mais informações que permitiriam uma análise um pouco mais complexa da posição que o PSDB ocupa hoje no imaginário político nacional.
Hoje, por exemplo, topei com a seguinte notícia no Estadão.
Provavelmente, nenhum colunista da grande imprensa dará maior repercussão ao caso. Apenas o Estadão deu a notícia, escondida na parte de baixo da página 6, sem chamada na capa.
Trata-se, porém, de um escárnio. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, promoveu um evento em que abriu fichas do Dops ao lado de seu novo secretário-particular, Ricardo Salles, fundador do movimento Endireita Brasil.
Não vou entrar na criminalização da política e dizer que “isso é um absurdo”. Alckmin foi eleito democraticamente e pode convidar quem ele quiser para ocupar um cargo de confiança. Entendo da mesma forma que, se um partido de esquerda, como o PT, é forçado a fazer alianças com setores da direita, não há nada demais que um partido como o PSDB, muito mais conservador, se aproxime de figuras como Salles.
Nem vou mencionar o escárnio, a arrogância, de divulgar a abertura de fichas do Dops ao lado dessa figura. Isso não é o mais importante, até porque talvez nem tenha sido intencional. O que eu gostaria de salientar é esta nova contradição do PSDB paulista, e que não foi mencionada na análise do Safatle. O eleitor tucano pode até ser liberal nos costumes, mas o seu partido vem dando guarida, cada vez mais, a radicais conservadores nesta seara. Não vamos confundir isso com fazer aliança política. Aliança se faz com forças diferentes, por isso se chama aliança, um termo com origens muito antigas nas línguas indo-europeias, sempre com o sentido de algo que se liga ao outro, ao diferente. Outra coisa é chamar um sujeito assim para desempenhar a função de seu secretário particular, como fez Alckmin.
Com a confusão gerada pelo pastor Feliciano, e seu papo de “satanás”, sua crescente insatisfação com o PT, que vem agindo abertamente para destituí-lo do cargo (Feliciano já ameaçou rever seu apoio à reeeleição da Dilma), não será nenhuma surpresa se tivermos, em 2014, um repeteco da histeria carola-conservadora que tanto estrago fez em 2010.
O que me espanta, eu ia dizendo, é o espaço dúbio ocupado pelo PSDB. De um lado, ele posa de partido liberal, com seu presidente honorário defendendo a liberação da maconha, de outro lado, ele vai abrindo espaço para a direita mais extremista, como Ricardo Salles, o pastor Silas Malafaia, e o próprio Feliciano, que foi eleito (isso ninguém fala) para a comissão de direitos humanos do congresso nacional com apoio do PSDB, em troca de uma secretaria na referida comissão. Tanto é assim que não vemos os tucanos participando dos protestos contra a permanência de Feliciano.
Todos os partidos tem suas contradições. No caso do PT, são chagas vivas, expostas diuturnamente por seus adversários, cujo maior poder é a aliança com os grandes meios de comunicação. As contradições tucanas, porém, são empurradas para debaixo do tapete. O partido que mais tenta explorar a questão ética foi o campeão em 2012 em número de políticos fichas-sujas.
Contradições, apesar de inevitáveis, minam apoio aos partidos em segmentos mais exigentes da opinião pública, e debilitam a núcleo duro da militância. O PT está sempre lutando para explicar suas contradições, e em política, explicar significa perder. Mas a contradição é talvez a essência da política democrática. As conjunturas políticas mudam, os políticos tem de mudar também. E o mesmo processo que gera coisas negativas, também produz surpresas agradáveis. Que surpresa não deve ter sido, por exemplo, a decisão de Jânio Quadros de condecorar Che Guevara? É importante que as contradições sejam expostas, explicadas, analisadas à luz. Perde-se eleitores aqui, ganha-se acolá, e a democracia amadurece. A luta política não é para ingênuos ou fracos, como prova a safra anual de “desencantados”. É um jogo pesado, quase sempre contaminado por interesses escusos, mas é a vida como ela é, e a solução não é, definitivamente, criminalizar a política; é o contrário, é descriminalizá-la, torná-la mais transparente, mais democrática. Para isso, é preciso trazer mais gente para dentro do sistema, e não afastá-las, como parece ser o objetivo da mídia, em sua campanha sistemática para desqualificação da política como ela é, da democracia como ela é.
Eu questiono o seguinte: ao ser protegido pela mídia, o PSDB não experimenta aquele que é o exercício mais difícil e mais nobre da política, que é expor suas contradições à luz do dia, e lidar com elas da melhor maneira possível. Sem essa experiência, o partido atrofia-se intelectualmente, vai perdendo, paulatinamente, a capacidade de argumentar, de agregar aliados, de entender a si mesmo. E quando chega ao poder, por um acaso, comporta-se com brutalidade, sem ouvir ninguém, incapaz inclusive de escutar as críticas da própria mídia aliada.
Em 2014, quando os embates políticos se tornarem mais francos, o PT estará diante de suas contradições, que não são poucas, mas terá desenvolvido a capacidade de explicá-las, porque as mesmas tem sido exploradas o tempo inteiro pela mídia, e pelas oposições de direita e esquerda. E O PSDB, saberá explicar as suas?
*
Todo mundo está percebendo o recuo estratégico de Eduardo Campos, após a divulgação de pesquisas que o obrigaram a calçar as sandálias da humildade. Ontem, Roberto Amaral, certamente com anuência de Campos, deu uma poderosa soprada no cangote de Dilma, depois de Campos ter passado semanas aplicando mordidas. Disse que, num eventual segundo turno entre Dilma e oposição, Campos se aliaria novamente ao PT. A manchete do Brasil 247 é bem explícita: Campos não fará oposição à Dilma.
Hoje, a própria Dora Kramer, representante de um setor que vinha soltando fogos com a possibilidade de uma divisão dentro da esquerda, escreve hoje contra a candidatura Campos, alegando que poderá trazer prejuízo ao deputados socialistas que desejem se reeleger aliados ao PT nos estados.[/s2If]