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A histeria mensaleira continua

Às vezes eu me pergunto por quanto anos a mídia vai praticar essa perseguição seletiva aos “mensaleiros”. Mesmo aceitando as teses do STF, Globo e Merval Pereira, mesmo assim é sempre sinistro assistir os nossos Citizen Kane tupiniquins exercerem a sua fúria.

6 comentários
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Às vezes eu me pergunto por quanto anos a mídia vai praticar essa perseguição seletiva aos “mensaleiros”. Mesmo aceitando as teses do STF, Globo e Merval Pereira, mesmo assim é sempre sinistro assistir os nossos Citizen Kane tupiniquins exercerem a sua fúria. Ontem o Globo publicou, numa página inteira, uma reportagem sobre o fato de João Paulo Cunha ingressar numa faculdade no Distrito Federal.

No site, a vulgaridade perde as estribeiras, ao trazer, no “chapéu” da foto, a inscrição, “Calouro Mensaleiro”.

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Qual o interesse em informar que João Paulo Cunha iniciou um curso de Direito? Aí a gente vê, na sequência: uma foto de FHC em pose “combativa”; o calouro mensaleiro; e o campeão máximo da mídia, Merval Pereira, autografando seu livro em lançamento ocorrido anteontem.

Hoje, no Globo, uma página inteira sobre o lançamento do livro de Merval, cujo significado político ficou evidenciado pela presença de José Serra.

 

A impressão evidente é que, na falta de escândalos, e com a economia se recuperando, o Globo parece perdido. O que mais falta fazer? Acompanhar o dia a dia de cada réu da Ação Penal 470 apenas para repetir, na matéria, várias vezes, a palavra “mensaleiro”?  O mensaleiro foi fazer compras, o mensaleiro comprou uma tv, o mensaleiro se inscreveu numa faculdade.

Para mim, a razão dessa estratégia é uma demonstração de força. Me lembra o Al Capone, no filme Os Intocáveis, que arrebenta a cabeça de um de seus associados com um bastão de basebol, na frente de todos seus parceiros. Não bastava matar, ele tinha que fazê-lo da maneira mais humilhante possível.

Em termos linguísticos, poder-se-ia dizer que a matéria sobre Cunha é assustadoramente vazia de significantes, mas cheia de significados.

Repare nesse trecho:

A mensalidade para os alunos de Direito do primeiro semestre – caso do petista – é de R$ 1.500, mas há um desconto de 20% para quem pagar até o dia 10. A partir do segundo semestre, o desconto cai para 10%. O curso dura cinco anos, com aulas de segunda a sexta-feira, de 8h às 11h40m. Ele escolheu esse turno para conciliar com as votações na Câmara, que ocorrem à noite. João Paulo foi condenado à prisão em regime fechado, mas aguarda em liberdade a fase de recursos do julgamento.

Bom, sem comentários.

No site da Folha, há anos se mantém uma aba chamada Mensalão, alçado à condição de uma “categoria”, a mesma de Poder e Eleições. Como se fosse uma editoria própria. E deve ser mesmo, ou antes uma editoria da qual todos os jornalistas do grupo participam e para a qual colaboram.

Se estivéssemos em 54, essa categoria se chamaria “Mar de Lama”, se em 64, algo como “república sindicalista” ou “O perigo vermelho”.

Vou lhes contar uma coisa. Estive em Nova York recentemente. Na volta, passei por Washington, onde tive que aguardar algumas horas a conexão. Comprei o Washington Post, conhecido por ser um jornal à direita do New York Times e geralmente mais ligado ao partido Republicano.

No jornal, li uma matéria abordando uma recente pesquisa realizada nos EUA sobre a opinião da sociedade sobre o aborto, que por lá foi legalizado após uma decisão da Suprema Corte na década de 60. Alguns estados tem leis específicas contra o aborto, mas na maior parte dos estados ele é legalizado. Achei interessante que um jornal ligado a um partido que tem alas ferozmente antiaborto tivesse publicado uma matéria tão isenta.

O que me surpreendeu mais, porém, foi uma matéria sobre uma questão sindical. O texto abordava a recuperação do emprego industrial em algumas regiões, após anos de demissões em massa. Acontece que os novos contratados, invarialmente, não são sindicalizados, de maneira que a indústria conseguiu, nessa brincadeira, aplicar um duro golpe no sindicalismo norte-americano. Alguns governadores conseguiram passar leis em seus estados impondo várias restrições à abertura e funcionamento de sindicatos, ou seja, na prática, transferindo-os para a ilegalidade.  Minha surpresa foi o tom de isenção da matéria. Mas não. Ela não era realmente isenta. Acontece que, comparada à agressividade da imprensa brasileira, até o Washinton Post fica parecendo progressista.

Lembro-me que tive essa mesma impressão com o Le Figaro, o principal jornal da França, ligado à direita (à esquerda, há o Le Monde). Se um francês não te falar que o Le Figaro é da “le droit”, você vai achar que está lendo um jornal “gauche”. Só quando chegam as eleições, é que as diferenças ficam mais marcantes. O Le Figaro apoia sempre a direita, abertamente, e avaliza um discurso conservador, sobre imigração, economia, etc. Mas não há jamais o tom de agressão raivosa como vemos no Brasil.

*

Esses dois gráficos, publicados num post do Nassif, me impressionaram bastante. A impressão é maior quando você olha os dois ao mesmo tempo. O que eles significam? O que significa manter estagnados gastos sociais per capita e aumentar exponencialmente a dívida do setor público num momento em que os nossos juros atingiam um recorde mundial? Não seria isso uma transferência brutal de renda dos mais pobres para os mais ricos?

 

 

*

A coisa, porém, é pior do que parece. O blogueiro Eduardo Guimarães, levantando a imprensa da era tucana, descobriu que únicos míseros programas de transferência de renda para as camadas mais pobres, feitos durante os governos FHC, sairam do papel somente às vésperas da eleição de 2002. Ou seja, durante sete anos, o governo tucano não fez absolutamente nada em prol dos mais pobres. E mais: quando FHC trocou a distribuição de cestas básicas para o programa Bolsa Renda Alimentação, que os tucanos acusam de ser o “pioneiro” do Bolsa Família, eles não tiveram a decência de fazerem uma transição humanista. Eles simplesmente cortaram bruscamente a distribuição de cestas básicas e iniciaram um novo cadastramento para distribuir o novo programa, que era acessível através do Cartão Cidadão. Milhares de famílias que vinham recebendo as cestas básicas tiveram essa ajuda descontinuada sem aviso prévio. Não é a tôa que FHC encerrou o mandato com péssimos índices de avaliação. Foi um governo mesquinho e insensível na relação com os mais pobres.

(Na capa, foto de Fabio Rossi, publicada no Globo de hoje.)
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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Mensários do spin

02/03/2013 - 07h32

é no que dá o STF ser despachante do pig:
O gravíssimo erro de Barbosa no julgamento de João Paulo Cunha
http://www.advivo.com.br/blog/iv-avatar-do-rio-ooooooooo/o-grave-erro-de-joaquim-barbosa-ao-julgar-joao-paulo-cunha

Priscila

01/03/2013 - 12h28

Wo bist du? Skype!! <3

francisco niteroi

01/03/2013 - 08h54

Eu sempre me pergunto já que ninguem consegue responder:

Os “maiores corruptos do Brasil” moram em casa de classe media baixa (genoino), apartamento classe media ( delubio) e, agora, vao pra faculdade. E eu sempre imaginei que eles iam pra suas mansoes entre uma temporada ou outra nos aptos proprios de Paris, New York, etc. Por que este masoquismo ao “escolher” viver assim?

Realmente o Brasil desmoraliza tudo, ate a “classe dos corruptos”.

Tenho uma amiga reacésima que deu voltas e voltas e no final ficou engasgada e me atacou quando fiz a ela essa pergunta. Acrescentando inclusive que a midia nunca fez nenhuma pergunta sobre o apto do FHC na Avenue Foch. Nao podemos chamar o FHC de corrupto, mas se alguem foi a vida inteira professor de universidade publica e depois politico e, no final adquire um apto desses, o minimo que a midia deveria era investigar.

A minha amiga preferiu dizer que eu estava perseguindo o FHC quando eu disse somente verificar valores, salarios, etc. Quanto ao genoino e sua casa ela respondeu que ele camuflava bem.

O Brasil hoje tem a classe media mais estupida do mundo. Ela nao luta por valores, ela luta contra pessoas, especialmente aquelas pessoas que ela ve como ameaçando o seu “mundinho”.

Carlos Antônio (@Carlosgrupon8)

28/02/2013 - 22h32

A histeria mensaleira continua – http://t.co/826uSE3uij

Alessandro Simas (@alessandrosimas)

28/02/2013 - 17h37

“Calouro mensaleiro”, nova pérola do @jornaloglobo . A covardia, o desrespeito não tem limites… Tática facista? http://t.co/jQLVMIBXRG

migueldorosario (@migueldorosario)

28/02/2013 - 17h27

A histeria mensaleira continua http://t.co/Py4o3SwDdP


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