O engenheiro Roberto Pereira D’Araújo, diretor da ONG Ilumina e um dos maiores especialistas em energia elétrica do país, é um crítico radical da política energética implementada pelo governo Dilma.
Confesso que sempre que abordo o tema, num viés otimista, sinto-me até um pouco culpado por simplesmente não corroborar a opinião de um especialista tão respeitado, de reputação inatacável. As críticas de Roberto não tem nada de partidário ou político. São críticas técnicas, elaboradas, e ele vem se esforçando para mostrar ao país que existem erros graves sendo cometidos no setor.
Araújo é particulamente crítico à MP que reduziu das tarifas de energia. Esqueça por um tempo as brigas políticas. Ele tem razões objetivas.
Nesses momentos, é realmente lamentável que não tenhamos uma oposição respeitável, que tenha credibilidade para encampar uma crítica bem construída.
Há algumas semanas, fiz uma entrevista com duas perguntas para Roberto. Fiquei aliviado ao saber que, apesar das duras críticas à política energética, Araújo acredita que o Brasil não vai enfrentar problemas de oferta nos próximos anos. Sua crítica é o custo disso, a falta de planejamento, etc.
A prova dos nove da suposta incompetência da política energética do governo só aparecerá, concretamente, daqui a alguns anos, quando todos os números estiverem na mesa: crescimento, custos, oferta, grau de segurança. Até lá, eu me permito ter a esperança de que os erros, e imagino que estes devem ser muitos, não serão tantos a ponto de comprometer o nosso crescimento; ou então que teremos tempo para corrigi-los a tempo. Penso assim não por apoiar o governo Dilma, mas por me preocupar com nosso país.
Mesmo assim, eu me sinto bem comigo mesmo, como blogueiro, em divulgar as críticas de Araújo. Gostaria de saber que o governo, mesmo agindo na contra-mão do que propõe este engenheiro, acompanha de perto suas críticas, e se disporá, no futuro, a corrigir ou amenizar supostos erros que estariam sendo cometidos.
De qualquer forma, concordo plenamente com Araújo que a nossa política energética é tristemente conservadora, ao não fazer os investimentos necessários em energia solar.
Abaixo as duas perguntas que fiz a Roberto. Saiba mais sobre suas opiniões através do site do Ilumina, através do qual se pode contatar o engenheiro para mais entrevistas.
Na sua opinião, o Brasil vai enfrentar problemas de oferta de energia? Se sim, em que prazo e em que extensão?
Roberto D’Araújo: Acho que, fora o que está ocorrendo agora, na minha opinião, um problema de modelo de planejamento que não combina com o modelo de operação, sinceramente, acho que o Brasil não vai enfrentar problemas de oferta. O problema é: a que custo? Como ficará o setor com as estatais fragilizadas? Quem vai entrar de parceiro com os privados para viabilizar projetos que, sem a entrada de sócios institucionais, não sai?
Um projeto para implantação de energia solar em massa no país, voltado sobretudo para aquecimento de água, poderia fazer diferença substancial na demanda de energia?
Roberto D’Araújo: : A utilização óbvia da solar no Brasil seria para aquecimento de água. Chuveiros elétricos podem ter potência acima de 5 kW. Como há uma tendência de coincidência de uso horário, pode haver um alívio na hora da ponta, principalmente em SP e no Sul. Se o Brasil passar a adotar a tarifa diferenciada, pode dar uma boa economia na conta.
Sobre a solar fotovoltaica.Por incrível que pareça, a China está adotando um sistema eólico, solar, baterias. Não é que a solar + as baterias substituam o vento, mas a intenção é para transformar a intermitência da eólica mais amigável com o sistema. Quando o vento para, as eólicas se desligam abruptamente e isso é péssimo para a estabilidade do sistema. A China está testando a possibilidade de suavizar a saída das eólicas. Para o campo e para iluminação de estradas, a solar seria muito interessante. O problema é a manutenção desses equipamentos. Muita pesquisa está sendo feita sobre os painéis para aumento da eficiência. Acho que o Brasil está fora mais uma vez, porque se trata da física de novos materiais.