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“Hoje, entrar num avião, ir a um restaurante, circular no shopping não é algo simples para um político sem o risco de ser alvo de algum constrangimento.”
Assim Dora Kramer encerra sua coluna de hoje no Estadão. Reproduzo-a aqui porque a “ameaça” de Dora sintetiza o principal trunfo da mídia sobre a classe política. É o risco “aeroporto”. Não há outro ambiente público que reuna um percentual maior de leitores do PIG do que o interior de um avião comercial entre Rio e Brasília. É um ambiente naturalmente irritado. À tensão do vôo e ao ambiente claustrofóbico, soma-se a presença de pessoas neurastenizadas pela leitura diária de editoriais histéricos e reportagens apocalípticas.
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Não apenas neurastênicas. Cooptadas ideologicamente. O blog do Noblat publicou esta semana o resultado de uma enquete que realizou entre seus leitores sobre como se identificavam politicamente.
A maioria (40%) respondeu que se considera “de direita”. E a direita, no Brasil, é representada politicamente pelos grandes jornais, onde praticamente todos seus colaboradores constantes professam, de uma forma ou outra, ideologias duramente conservadoras.
O que mais impressionará um observador desavisado da grande mídia brasileira é a sua característica de cartel. Globo, Estadão, Folha e Abril operam de forma organizada e coletiva. Tem os mesmos colunistas. Usam as mesmas manchetes e repercutem uns aos outros. É como se houvesse, de facto, uma comissão interempresarial que definisse as diretrizes editoriais dos grupos mencionados.
Por exemplo, Dora Kramer dedica-se agora, diariamente, à luta para derrubar Renan Calheiros e Henrique Alves antes que eles ocupem suas posições. Por trás de uma suposta preocupação ética, há um objetivo estritamente político. Derrubar Renan corresponderia a uma demonstração de força.
Dora já percebeu, todavia, que a guerra contra Renan acaba deixando em segundo plano o objetivo central, que é atacar o Executivo. Com isso, o favoritismo de Renan se torna ainda mais interessante ao Planalto, porque lhe permite travar, sem sujar suas mãos, sem se arriscar, uma guerra surda contra a mídia.
O eleitor que apóia a presidente Dilma não a associa, por sua vez, à eleição de Renan Calheiros, entendendo isso, como de fato é (mas não apenas) como um asssunto ligado exclusivamente ao Senado. O respingo no Executivo existe, mas é pouco.
Valerá a pena? A eleição de Renan Calheiro não seria mais um exemplo de concessão política, ética, ideológica, partidária, aos ditames do pragmatismo? O governo deveria pressionar por outro nome?
Na minha opinião, Renan é uma aposta arriscada. Ontem mesmo eu escrevi achando que era um erro do PMDB. Do ponto-de-vista do governo, porém, talvez seja um acerto. Renan Calheiro foi presidente do Senado de 2005 a 2007, quando foi reeleito. Renunciou ao cargo em novembro daquele mesmo ano, em função das denúncias de usar um lobista, Claudio Gontijo, ligado a empreiteira Gaudama, para pagar despesas com a filha que teve fora do casamento. O senador tem lá seus argumentos de defesa, apresentou notas fiscais, que depois foram denunciadas como frias. De qualquer forma, nada foi provado até agora contra o senador.
Observe o período durante o qual Renan foi presidente do Senado: 2005 a 2007. Esse período marcou não apenas o auge da crise do mensalão como também foi um tempo de grandes mudanças sociais no Brasil. Um dos motivos do ódio e da campanha contra Renan foi justamente a sua resistência ao lado de Lula.
Outro dia, soube pelo blog do Nassif que Marcos Valério foi convidado pela Polícia Federal para depor no inquérito do mensalão tucano, como testemunha do caso do ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Porque Mendes recebeu dinheiro do mensalão. A grande mídia omitiu isso completamente do noticiário, assim como tem omitido, sistematicamente, todas as denúncias envolvendo os bilhões desviados da privataria. Ficamos sabendo, também há pouco, que Carlos Jereissati, irmão do ex-senador tucano Tasso Jereissati, pretende vender suas ações na OI/Telemar. Com isso, embolsaria alguns bilhões de reais. Acontece que Jereissati conseguiu adquirir o controle da Telemar sem desembolsar um tusta. Veio tudo do BNDES.
Enfim, a situação ética da nossa classe política é realmente lamentável. Até mesmo o “ético” Pedro Simon tem seu histórico de denúncias, do tempo em que governou o Rio Grande do Sul.
Pode-se dizer que Renan Calheiros está “vacinado” contra o PIG. Eu preferia muito mais um sujeito como Requião na presidência do Senado, mas a prerrogativa é do PMDB, e Renan Calheiros é um político comprometido com a estabilidade, política e econômica. Apoia as iniciativas do Executivo, e representa uma ala do seu partido que prestou bons serviços ao presidente Lula, à Dilma, e consequentemente, ao povo brasileiro. Dilma tem baixado uma série de medidas bastante intervencionistas (no bom sentido) sobre a economia, ampliando a produtividade das empresas brasileiras através de uma grande e organizada campanha de redução de custos: juros, spreads, energia, impostos, o governo está deixando nossa economia mais ágil e mais leve, e sem comprometer nenhum programa social. Vai precisar de maioria sólida no Senado e no Congresso para aprovar essas iniciativas. Não tem jeito: vai precisar do apoio do PMDB.
O PSDB, por sua vez, apoiava Renan Calheiros de olho numa das mesas diretoras do Senado. Com a denúncia de Gurgel contra Renan, porém, os tucanos se sentirão obrigados a apoiar Pedro Tacques, um senador da base governista mas que tem flertado o tempo inteiro com as forças da oposição, incluindo a mídia.
De certa forma, a candidatura de Renan significa um desafio à mídia não apenas por parte do PMDB, mas de toda a classe política. Essa nota de Ilimar Franco, no Globo de hoje, exemplifica bem:
Corporativismo – A decisão do PGR, Roberto Gurgel, de denunciar Renan Calheiros (PMDB-AL) pode ter blindado sua candidatura à presidência do Senado. Muitos senadores dizem que foi oportunismo, passados quatro anos, denunciá-lo há sete dias do pleito.
Ainda mais que a denúncia de Gurgel, segundo outra nota, não terá efeito prático imediato:
Para as calendas – A denúncia oferecida pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, contra Renan Calheiros (AL) não terá efeito prático capaz de impedir a eleição do peemedebista à presidência do Senado. A peça só será analisada pelo relator do caso no STF, Ricardo Lewandowski, após a abertura do ano judiciário, quando irá se juntar a outros 5.000 processos na mesa do ministro. Gurgel não pediu nenhuma medida cautelar, o que forçaria a corte a analisar a peça ainda durante o recesso.
VERA MAGALHÃES (PAINEL DA FOLHA- painel@uol.com.br)
O clima nos aeroportos vai ficar pesado. Mas se o governo conseguir melhorar a infra-estrutura destes antes do fim do mandato (o que não vai ser fácil), talvez a turma “do contra” sossegue um pouco.
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Sugiro fortemente a leitura deste post do Nassif, de hoje, trazendo dados sobre um estudo econômico do Bradesco para 2013.
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