Meus planos para 2013

James Ensor

 

Queridos leitores e leitoras, quero falar um pouco sobre os planos do Cafezinho para 2013, e filosofar um pouco sobre eles. Ao final, você encontrará ainda uma análise sobre a última pesquisa CNI/Ibope.

Em primeiro lugar, resistimos e crescemos. 2012 foi um ano bom para mim. Consegui manter uma razoável disciplina, atualizando o blog todos os dias, de segunda a sexta e, eventualmente, também aos finais de semana. Pela primeira vez, na minha trajetória de blogueiro, fechei alguns contratos de publicidade. Ganhei muitos assinantes. Um ano de bastante trabalho e, finalmente, algum retorno.

Para 2013, meu plano consiste em manter o sistema que concilia a necessidade de financiar o espaço com a de divulgá-lo e participar dos debates públicos nacionais. Às segunda-feiras, um post de conteúdo livre e, no resto da semana, análises da política nacional exclusivas para os assinantes.

Admito que nem sempre sinto o otimismo que tento repassar aos leitores. Quanto mais de perto observamos a produção de salsichas, mais nos distanciamos daquele estado de espírito que tínhamos perante a visão de um suculento hot-dog.

Deparo-me, portanto, com o esforço para não desenvolver o cinismo que deforma o caráter de tantos jornalistas especializados. Entender e analisar a política requer não apenas um esforço sistemático e rigoroso para obter o maior volume possível de informação, mas também algum talento para ver as coisas do alto, sob uma perspectiva histórica.

Além disso, política não é uma ciência exata. Sua relação profunda com a linguagem aproxima-a da arte, com suas tragédias, dramas e comédias. Percebi, há tempos, que os embates políticos não se dão apenas ao nível partidário ou eleitoral. As batalhas se espraiam em todo corpo social, contaminando não apenas qualquer manifestação linguística, seja escrita, visual ou auditiva – elas acontecem também nos lugares mais recônditos e privados do espírito.

E isso é tão demasiadamente humano!

Os desafios, naturalmente, são imensos e complexos. Nem sempre estarei inspirado, e isso é o que mais oprime um blogueiro: saber que, fatalmente, cometerá erros. Não me refiro apenas a equívocos de ordem factual ou analítica, mas erros ainda mais acabrunhadores, para quem escreve: uso de lugares comuns; argumentação medíocre; textos enfadonhos ou mal escritos.

Os riscos mais perigosos, com os quais temos de lidar diariamente, são os de ordem política ou ideológica, porque estes não recebem nenhum compaixão do público. Neste caso, também há mais arte do que ciência. Como encontrar o equilíbrio para dosar a defesa de ideais utópicos com a aceitação das etapas necessárias para realizá-los? Como fazer isso se não há jamais certeza em relação às estratégias mais eficazes?

Para superar esses dilemas pediremos socorro, como temos feito, à filosofia, à história, até mesmo à arte, embora sabendo que todos esses campos são antes manipulados por nós do que nós por eles; ou seja, a gente acaba, quase sempre, adaptando o conhecimento externo às nossas intuições mais profundas. Trata-se de um problema epistemológico crônico: lemos os autores clássicos para que eles sirvam às nossas ideias, para reforçá-las, e não realmente para aprendermos algo novo.

No entanto, acredito no conhecimento. Este não vem dos livros, mas da vida. Os livros podem abrir alguns caminhos. Ensinam-nos a escrever e a argumentar. Mas somente o escutar atento do mundo pode orientar verdadeiramente o espírito humano. A sobrevalorização do livro, de determinados autores ou campos de conhecimento, nasce de uma tentativa vã de valorização do nosso próprio patrimônio simbólico e intelectual. Vaidade e poder, como sempre.

Quero dizer o seguinte: Faulkner não foi o escritor genial porque leu esse ou aqueles livros, mas apesar de tê-los lido. Afinal, qualquer um pode ler livros, mas raros podem escrevê-los. A mesma coisa vale para a política. Qualquer um pode posar de intelectual sabido e apontar os erros teóricos, práticos, estratégicos, administrativos ou éticos das lideranças políticas. Mas o que faria em seu lugar? O que garante que não cometeria erros ainda maiores?

E, no entanto, a crítica é a mãe da virtude, do conhecimento e de qualquer desenvolvimento. Como conciliar, portanto, a necessidade visceral que temos de criticar aqueles que nos representam politicamente, sem que nossa crítica seja instrumentalizada por nossos piores inimigos?

Como fazer essa crítica sem nos deixarmos levar, sobretudo, por esta absurda, incomensurável vaidade que persegue todo ser humano, e que o faz pensar em si mesmo sempre como a principal referência ética e ideológica do mundo?

E todavia temos que nos atrever, com todos os riscos inerentes, a cometer erros, pois em caso contrário ficaríamos paralisados.

Estes pensamentos, a meu ver, estão por trás de todo o “desencanto” com a política. Quando alguém se desencanta com a política, em geral explica a si mesmo e aos outros que tal postura se deu em virtude de uma conclusão negativa sobre a sociedade, suas instituições e seus líderes. No entanto, no fundo, talvez o desencanto nasça antes de um desencanto consigo mesmo, com a sua incapacidade intelectual de assimilar a realidade profundamente complexa, dialética e dinâmica da política humana. Não é fácil mesmo! Também seria injusto atribuir essa incapacidade à falta de talento, de cultura, de inteligência. Não é assim. Ninguém é necessariamente burro por não entender como funciona uma televisão. Mas devemos evitar comparar política com qualquer outra arte ou ciência, porque ela talvez seja o conhecimento mais acessível de todos, o mais próximo da intuição, o mais ligado aos mais espontâneos conhecimentos morais de um indivíduo.

Enfim, O Cafezinho continuará tentando oferecer a seus leitores a humilde contribuição de alguém que considera a política uma oportunidade magnífica para entendermos um pouquinho melhor o homem, a mulher, e a história de suas lutas.

Um feliz Ano Novo para todos!

PS: não esqueçam de fazer uma assinatura do Cafezinho! Só assim teremos um blog forte em 2013!

PS2: Os links sugeridos neste último post do ano são este artigo, da Carta Maior, onde se mostra a relação espúria e antidemocrática entre mídia e poder nos EUA.

PS3: Confira também a íntegra da última pesquisa CNI/Ibope com a avaliação do governo federal. Abaixo, destaco o gráfico que me chamou a atenção. Repare que, apesar de todo o bombardeio sobre o mensalão, o qual atinge o PT, o percentual dos que aprovam a presidente Dilma subiu de 77% (na pesquisa de setembro de 2012) para 78% (dez/12).

É impressionante,  sobretudo, o crescimento da popularidade junto às classes mais altas, que acompanham mais o noticiário e os grandes jornais de opinião: entre os que ganham mais de 10 salários, a aprovação de Dilma saltou de 68% (em set/12) para 81% em dezembro.

Ou seja, Dilma conseguiu realizar uma delicada proeza. Seu governo tem enorme popularidade junto aos mais pobres, entre os quais apenas 8% o consideram ruim ou péssimo, mas também conseguiu seduzir as classes médias. Com isso, a presidenta tolhe as esperanças da oposição, que consistiam justamente em explorar um suposto preconceito destas em relação ao PT.  Joaquim Barbosa pode ter virado celebridade no Facebook, e o ódio antipetista pode ter subido alguns graus em seus nichos de sempre, mas a maioria da população, tanto pobres quanto classe média, prefere antes se ater à observação empírica da realidade, do que sucumbir ao moralismo tendencioso dos jornais.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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