A presidente Dilma conseguiu aplicar poderoso jab no queixo do PSDB, nesta quarta-feira. Seu plano para reduzir o preço da energia foi aceito pela maioria das empresas do setor, com exceção das três controladas por governadores tucanos. Não vou entrar no mérito da MP, que alguns engenheiros acusam de ser nociva à saúde das estatais. Em termos de embate político, contudo, Dilma deu um drible nos adversários que devem tê-los deixado com a cara de quem passou algumas horas discutindo com Mike Tyson. A medida, que é populista na acepção positiva do termo, ganhou apoio, naturalmente, dos que mais vão lucrar com ela: os industriais.
Confira esse trecho de matéria publicada hoje no site do Estadão:
“Vamos realizar uma das ações mais importantes para reduzir o custo de produção do Brasil, a redução das tarifas de energia elétrica”, disse a presidente, sob muitos aplausos, em discurso na abertura do 7º Encontro Nacional da Indústria (ENAI), em Brasília.
A presidenta, que já tem a seu lado o povão, via Lula; que conquistou a classe média com seu jeitão de gerente séria, exigente e implacável com “malfeitos”; agora se tornou o xodó dos industriais. O Pib pode estar meia-bomba, mas:
- Juros e spreads caíram.
- Dólar subiu.
- Hoje o Guido Mantega liberou mais R$ 100 bilhões para empresas investirem.
- Preço da energia pode vir a registrar uma saudável queda a partir de 2013.
Nada disso significa que os problemas acabarão. O mundo hoje é terrivelmente competitivo, e há empresas que, infelizmente, vão quebrar mesmo com juros, câmbio, crédito e energia em situação mais favorável. No mínimo, porém, as medidas do governo amenizam a crise e retardam um pouco o fechamento de alguns negócios. Note que estou tentando ver a coisa pelo lado negativo, por precaução.
Até mesmo o plano para baratear a energia, ainda vai depender de fatores imponderáveis, inclusive a quantidade de chuvas nos próximos meses. Tomara que dê certo, e que a gente receba uma conta mais amiga no ano que vem.
O que gostaria de comentar é a armadilha em que tropeçou o PSDB. Os tucanos estão queimados com o povão, por seu estilo aristocrático e pedante. A classe média, mesmo festejando o julgamento do mensalão e atribuindo a Joaquim Barbosa qualidades de herói de revista em quadrinho, foi seduzida pela presidente. E agora, os donos da indústria, estarrecidos em face da decisão dos governos de Minas, São Paulo e Paraná, de não aderir ao plano federal para reduzir os custos da energia, olham para o partido com um sentimento misto de raiva, pena e decepção.
Leia esse trecho de nota publicada hoje no site da Fiesp:
De acordo com Paulo Skaf, estatais (Cemig, Copel e Cesp) que se recusam a aderir ao desconto vão ter que arcar com as consequências de frustrar os brasileiros.
Para os tucanos, portanto, sobrou apenas a mídia, que parece cada vez mais biruta em sua cruzada contra o presidente Lula.
Quando achamos que a mídia atingiu o ápice da histeria antipetista, que ela chegou ao fundo do poço, eis que topamos com um novo alçapão.
Merval Pereira se tornou uma espécie de caricatura de si mesmo. Vai vendo só o título da sua coluna de hoje:
A sisudez novecentista de Merval, porém, não evita que ele abrace alegremente, como de resto toda a grande mídia, a baixa fofoca política:
Agora mesmo temos o exemplo da Polícia Federal agindo de maneira autônoma e investigando nada mais nada menos que a chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo, tida por todos como “a namorada do Lula”.
Não se espante com o elogio de Merval à PF. Mais adiante ele explicará que o aprimoramento da PF não deve ser atribuído à Lula, e sim à Constituição de 88!
Algo me diz que a tática de explorar a vida pessoal do presidente dará resultados opostos àqueles esperados pela oposição midiática: Lula vai ganhar ainda mais carisma.
Entretanto, não deixa de ser lamentável que as pessoas acreditem em histórias sem pé nem cabeça como essa do Garotinho, de que Rosemary Noronha saltou do avião presidencial, na cidade do Porto, num vôo em que também estava Lula, e registrou junto às autoridades locais uma mala com mais de 25 milhões de euros. Concordo com o Rovai, de que Lula deveria processar Garotinho.
Inconsistências da história:
1 – Não cabem 25 milhões de euros numa “mala diplomática”. Rose teria que saltar do avião carregando um carro forte.
2 – Se Lula e Rose quisessem roubar dinheiro fariam uma transferência eletrônica.
3 – Qual o sentido em registrar, na âlfandega do país da União Européia onde há rígidas leis contra crimes financeiros, uma quantia de dinheiro de origem ilegal.
Francamente, já se mentiu melhor…
De resto, o artigo de Merval, assim como o editorial do Globo hoje, tem como objetivo defender Fux de si mesmo. A agoniada retórica do colunista para blindar o ministro, e atribuir sua entrevista desastrada à Mônica Bergamo à uma tentativa de se blindar contra fofocas petistas, revela o grau de engajamento da mídia em proteger seus “aliados”.