Há vários anos que escrevo para blogs políticos, mas desde início venho boicotando o tema Israel versus Palestina. A razão é simples: não acredito em nada do que leio. Esta é uma guerra onde talvez haja o maior número de mentiras disseminadas, por ambos os lados. Nem falo apenas de mentiras na mídia. Refiro-me também a provocações, contra-informação, espiões triplos, atentados auto-inflingidos, fanatismo fake, blogs falsos, etc.
Aquela máxima clichê, de que numa guerra a primeira vítima é a verdade, nunca foi tão correta como neste caso. A unica coisa realmente verdadeira nesta guerra são as vítimas. Vemos fotos, vídeos e lemos relatos de crianças, mulheres, velhos e civis inocentes mortos, sobretudo no lado palestino.
Os artigos furiosos contra ou favor de Israel, em geral se baseiam, inocentemente, numa série de informações deturpadas ou duvidosas.
Se eu quisesse arriscar, no entanto, alguns comentários sobre o conflito, eu diria que não se trata mais, em absoluto, de uma guerra entre israelenses e palestinos. Há interesses sinistros e poderosos por trás, que podem ser resumidos em dois grandes pólos: de um lado, a indústria bélica, esse monstro multinacional, ancorado nos EUA e em Israel, os grandes consumidores de petróleo, e o imperialismo americano; de outro, as ditaduras árabes, a Rússia e o Irã.
Ao imperialismo americano, que engloba Israel, cumpre usar o conflito como demonstração de força diante das nações produtoras de petróleo.
Às ditaduras árabes, o conflito serve como pretexto para esvaziar as insatisfações políticas internas, desviando a enorme carga de energia acumulada pela opressão totalitária contra um inimigo externo. Quando tem início um conflito entre Israel e Palestina, os protestos de humanistas e democratas das ditaduras árabes ficam abafados, e a prisão deles perde espaço na mídia para as imagens de crianças mortas pelas bombas de Israel.
Do lado de Israel, a mesma coisa. A guerra mantém acesa a chama guerreira que mantém a direita no poder, e fortalece, por razões óbvias, o lobby militar, tanto em Israel quanto nos EUA.
Para piorar, é uma situação em que ficar sobre o muro, acusando ambos os lados, é uma postura também irritante e condenável, visto que temos uma situação absurdamente assimétrica: um exército poderoso de um lado, apoiado pelos EUA, e de outro uma Palestina à beira da indigência, cujo único trunfo guerreiro é a coragem quase suicida de seu povo ao lutar por seus objetivos políticos.
Entretanto, algumas lições básicas podem ser tiradas desse imbróglio, e correspondendo a alguns problemas importantes experimentados em todo mundo.
A primeira lição é sobre a necessidade histórica cada vez mais premente de termos organismos políticos internacionais fortes e democráticos. Isso é uma bandeira que podemos defender sem medo. A ONU tem de se fortalecer e o seu Conselho de Segurança tem de ser ampliado.
A segunda lição é que a ONU precisa criar canais de informação mais confiáveis. O mundo precisa de uma agência de notícias pública, controlada pela ONU e monitorada, de maneira transparente e democrática, por toda a comunidade internacional. Aí sim poderíamos ter esperança de reduzir um pouco a manipulação de que, numa guerra ou numa crise, somos todos vítimas.