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A resistência da economia brasileira

Hoje vamos estudar a economia brasileira e como esta vem sendo repercutida na grande imprensa.

4 comentários
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O noticiário econômico continua pessimista. A cada mês, empresas e governo reduzem um pouquinho a expectativa de crescimento econômico, as indústrias se esforçam mais para que suas lágrimas pareçam sinceras e o saldo na balança comercial apresenta uma nova queda.

Nesses momentos, em que nosso humor oscila, pendularmente, entre a melancolia e o desespero, vale a pena olhar os dados econômicos disponíveis com bastante atenção, para lembrarmos que estamos no Brasil, não na Grécia.

Na política me parece que todos estão relativamente satisfeitos, o que significa dizer que estão todos equilibradamente angustiados: os governistas comemoram as retumbantes vitórias eleitorais; a oposição ainda curte o porre da condenação dos mensaleiros.

Mas deixemos a política para amanhã. Hoje vamos estudar a economia brasileira e como esta vem sendo repercutida na grande imprensa.

A indústria brasileira experimenta várias dificuldades. A mais grave é de ordem geopolítica, e não acho que há muita saída. Há alguns setores em que é praticamente impossível competir com a Ásia. Manufaturas de todo o mundo ocidental fecharam portas e despediram empregados, transferindo suas produções para algum lugar da China onde os operários ganham salários três ou quatro vezes mais baixos e não é preciso pagar seus planos de previdência.

Quer dizer, há saída, claro, mas seguramente não é bater a testa na muralha da China, mas investir em inovação, tecnologia, produtividade, e achar nichos que ainda não foram devorados pela voracidade asiática.

Os dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que é uma espécie de clube lobbista especializado em produzir lamúrias, não tem conseguido esconder, por exemplo, que mesmo num cenário de economia quase estagnada, e crise no mundo rico, o faturamento das indústrias brasileiras continua no azul, com destaque para os setores mais estratégicos.

Abaixo, reproduzo pedaço de uma tabela do último relatório da Confederação Nacional da Indústria (CNI), de setembro de 2012. Comento em seguida.

Os setores mais estratégicos da indústria, por razões óbvias, são: máquinas e equipamentos; máquinas  e materiais elétricos; e material elétrico de comunicação. Pois bem, esses setores experimentaram importante crescimento no faturamento deste ano: respectivamente, 15%, 17% e 18%.

No geral, a indústria brasileira de transformação registrou crescimento de 3,1% no acumulado de Jan/Set do ano; ou seja, cresceu mais que o PIB.

Leia esse trecho do relatório da CNI, sobre a indústria de máquinas e equipamentos:

Forte alta do faturamento pode indicar melhora dos investimentos

O setor de Máquinas e equipamentos teve forte aumento do faturamento (15,1%) em setembro de 2012, frente ao mesmo mês do ano anterior. O aumento desse indicador foi o segundo maior da indústria de transformação (atrás apenas de Papel e celulose). Uma vez que esse setor produz bens para fins de investimento, a expansão do faturamento pode indicar que os investimentos podem estar entrando em uma trajetória de recuperação.

 

Eu acho que os dados referentes à faturamento são melhores para avaliar o desempenho da indústria do que a produção física ou o emprego. Uma fábrica pode demitir três funcionários e produzir mais que antes, se investiu em tecnologia. É cruel, mas é a realidade do setor industrial. Pode também optar por importar uma determinada peça da China, ao invés de produzi-la aqui, e investir na produção de um outro item, mais lucrativo.  Para uma empresa, o mais importante é, obviamente, o faturamento, porque só ele permitirá o investimento em tecnologia e inovação, e a tornará mais sólida para enfrentar uma crise. De qualquer forma, nos últimos anos, vimos uma importante expansão do emprego industrial, embora este registre, pontualmente, algumas quedas, num mês ou outro.

Também as exportações brasileiras vão bem. A imprensa cria sensacionalismo negativo quando olha apenas para a redução do saldo comercial, como se isso fosse uma tragédia. O saldo cai não porque as exportações declinam, mas porque os brasileiros estão com mais dinheiro e por isso, adquirindo mais produtos importados. É uma tendência inexorável do desenvolvimento.

Abaixo, dois gráficos, um referente às exportações brasileiras de manufaturados, outro com o histórico da corrente comercial nos últimos anos (soma de exportação e importação).

A queda de 2008 para 2009 reflete a deflagração da crise financeira no primeiro mundo, que derrubou o comércio exterior de manufaturados no mundo inteiro. A partir de 2010, há uma boa recuperação, e desde 2011 já voltamos mais ou menos aos mesmos níveis de antes da crise. Repare, todavia, que na comparação com os anos anteriores a 2007, estamos bem melhores.

 

 

A agricultura brasileira vai muito bem, obrigado, produzindo cada vez mais e com maior produtividade; e os bancos, mesmo com queda nos juros, continuam registrando lucros recordes, o que é uma coisa importante para assegurar a solidez do sistema financeiro nacional.

De qualquer forma, é preciso entender que o Brasil vive um processo de profunda transformação econômica, cujos principais fatores são:

  • A entrada de dezenas de milhões de brasileiros no mercado de consumo, provocando um ciclo virtuoso que beneficia comércio e indústria.
  • Há grandes obras de infra-estrutura em andamento no país. Estão todas atrasadas, mas ficarão prontas em alguns anos, beneficiando a economia como um todo: refinarias, siderurgias, usinas, ferrovias.

Estas são as razões principais que levam os estrangeiros a olharem o nosso país com tanto otimismo. Visto de perto, o Brasil apresenta milhares de problemas comezinhos, em função da incompetência e despreparo de nossa burocracia, corrupção de políticos, juízes e fiscais, falta de mão-de-obra especializada, infra-estrutura precária, mas quando se contempla o país do alto,  vê-se um grande futuro. Não mais um futuro apenas prometido, como outrora, um futuro lastreado somente num suposto potencial. Agora temos um futuro ancorado em obras, projetos em andamento, e uma população em sua maioria com perfil sócio-econômico de classe média.

Sobretudo, o que tem impressionado todos os analistas é a pujança do nosso mercado de trabalho.  Abaixo, separei dois gráficos da última pesquisa mensal de emprego do IBGE.

 

Repare que o desemprego atingiu, em setembro de 2012, o menor índice, para este mesmo mês, da série histórica desde 2002.

 

Complementando o anterior, o gráfico acima mostra que o nível de ocupação também cresceu, atingindo 54,6% da população economicamente ativa. Ou seja, ninguém pode falar que o desemprego baixo é distorcido por pessoas que “desistem” de procurar trabalho. Temos um percentual maior de trabalhadores, para o conjunto da sociedade, e isso significa mais produção de riqueza, mais dignidade e mais justiça social.

Quem viver, verá.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Elson

20/11/2012 - 18h20

De uma coisa você tem razão, o Brasil possui um grande potencial,cabe ao nosso empresariado descobrir oquê e onde.
Nossos empresários vivem reclamando do custo da mão de obra, por eles, nossos operários voltariam ao início do século XX. Porém, oque eles não enxergam. é, que é esta mão de obra bem remunerada que movimenta a economia e faz com que seus produtos sejam consumidos, enfim, é o ciclo virtuoso.

luizmbarros@hotmail.com

20/11/2012 - 15h13

Por isso vale a pena assinar o Cafezinho! Olho de baixo para cima (wishthinking o quanto ainda falta no modelo) está tudo errado. Olho de cima para baixo intuo que está tudo certo (nas circunstancias).
A midia para atrair como explica o Nassif http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-caso-fantastico-ufrj-e-o-papel-do-cnj usa o escandalo: No final “Tem-se, agora, o ensaio de uma briga de gigantes. De um lado, Congresso Nacional, partidos políticos; de outro, o Executivo; na terceira ponta, MPF, STF e mídia. E onde fica o cidadão comum? Em nenhum momento, Ayres Britto – ou o próprio STF – pensou no cidadão comum. Este continua à mercê de um Judiciário que entende a mídia com olhos do governante norte-americano do século 18. Muitos assassinatos ainda serão cometidos”

Vera Vasconcelos

20/11/2012 - 02h33

Que alívio ler uma coisa assim. É um antidoto contra o veneno do viralatismo

Henrique M.

20/11/2012 - 02h32

Muito bem, Miguelito. Um bom tiro no coração dos urubus!


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