Notas pós-eleitorais

Caravaggio, Davi segurando cabeça de Golias

Nesta eleição, vimos a derrocada de vários mitos midiáticos.  Durante meses, colunistas discorreram sobre o desencanto na política, a falta de militância, etc. Pois bem, o que aconteceu foi o contrário. Tivemos um pleito extremamente politizado, com muita militância nas ruas e nas redes. E a abstenção, que realmente foi alta em algumas cidades, agora sabe-se que foi influenciada pela falta de recadastramento do TSE. Os ministros do TSE preocuparam-se demais em fazer propaganda do “vote limpo” e de menos em levarem o recadastramento a todo país. Nas cidades onde conseguiu fazer, porém, a abstenção caiu fortemente, conforme se constata nos gráficos abaixo:

 

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A Folha, tentando agradar a oposição, deu uma página inteira no caderno Eleições, com direito a chamada na capa, ao crescimento dela nas regiões metropolitanas. Aí eu fui ver os gráficos… Separei o gráfico da região metropolitana de São Paulo.

PSDB e DEM cresceram, de fato, na soma total das regiões metropolitanas porque haviam quase sumido nas últimas eleições, e agora ganharam algumas capitais, como Manaus e Salvador.  Os números de São Paulo mostram que as duas legendas podem até ter ganhado uma sobrevida em algum lugar, mas continuam perdendo espaço em sua própria fortaleza.

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Nota na coluna do Ancelmo hoje traz explicação para a derrota de Serra em São Paulo:

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Capa do Estadão de hoje merece alguns comentários:

Delação premiada não foi feita para premiar bandido. Marcos Valério terá de explicar, em primeiro lugar, a origem de tudo, ou seja, o mensalão tucano. Depois, tem de entregar o que sabe sobre o banqueiro Daniel Dantas. E apresentar provas, que deve ter. Depois de condenar petistas sem provas nos autos, será até engraçado ver a Justiça condenar com base em testemunho de bandido em desespero.

Na verdade, a derrota do PSDB em São Paulo representou também – principalmente – uma derrota da mídia tucana, e a manchete do Estadão é a tentativa de realização de um terceiro turno. Uma vingança de baixo nível, visto que se trata de informação requentada, referente a um depoimento realizado há dois meses, e que não traz nenhuma acusação, nenhum fato concreto, contra Lula, Palocci ou qualquer outro petista graúdo.

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Notinha na coluna da Dora Kramer:

A notícia foi mais ou menos a mesma em todos os jornais. Que a CPI do Cachoeira chegou ao fim. Acontece que não é verdade. Ela foi prorrogada por mais 45 dias, e já resultou na quebra do sigilo de dezenas de políticos, empresários e funcionários públicos. Os deputados têm centenas de toneladas de documentos, áudios, vídeos, computadores, para analisar e depois entregar às autoridades.  Acontece que, à diferença de uma investigação do Ministério Público, CPI não condena ninguém. Ela reencaminha as provas para o Ministério Público, que por sua vez faz as denúncias. É profundamente irônico que a mídia procure desmerecer uma CPI que obteve provas documentais concretas, áudios, emails, vídeos, testemunhas, os quais incriminam o governador Marconi Perillo, o senador Demóstenes Torres e mais uma penca de graúdos, e transforme o julgamento do mensalão, que usou criatividade máxima para condenar sem provas, com base em ilações e “domínio do fato”, em modelo máximo de combate à corrupção. Na verdade, a mídia e o STF premiaram a incompetência. O discurso do mérito foi pro beleléu. Uma investigação que tem o mérito e a competência de obter áudios, vídeos, documentos e testemunhas, que provam o crime, é desvalorizada, e uma outra que não tem nada disso, baseada apenas em ilações e matérias de revista, é alçada à glória.

Quem deve dar continuidade à CPI do Cachoeira é o Ministério Público. Vamos ver se o senhor Gurgel demonstra tanta sede de justiça agora. E veremos o que fará o Supremo.

 

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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