Esquerda vai ganhar de virada?

Colunistas políticos, em jornais impressos, rádio e tv, fizeram milhares de análises sobre o declínio do PT nessas eleições. Falou-se em desgaste de material, de influência do mensalão. Pois bem, faltando menos de uma semana para a eleição, os institutos de pesquisa detectaram virada do jogo em quase todas as cidades onde a oposição vinha levando a melhor. PT, PSB e PCdoB despontam no cenário com arrancadas em capitais como Salvador, Recife e Manaus. Como dizem os filósofos da bola, “o jogo só acaba quando termina”.

Leia abaixo matérias do Valor e do Brasil 247.

Reviravoltas prejudicam oposicionistas
Autor(es): Cristian Klein
Valor Econômico – 01/10/2012

Em mais de um terço das 26 capitais, as eleições municipais chegam à reta final do primeiro turno marcadas pelo signo da imprevisibilidade. Ao longo do processo eleitoral, nove cidades revelaram uma disputa com reviravoltas. Favoritos, que lideravam com folga, perderam fôlego. Azarões, muitas vezes impulsionados por grupos e máquinas políticas, foram catapultados aos primeiros lugares. No balanço geral, partidos da oposição ao governo federal são os mais prejudicados pelos ventos de mudança.

O palco de uma das maiores reviravoltas é a capital com menor eleitorado, Palmas (TO). Ali, o empresário de origem colombiana Carlos Amastha (PP) estava em terceiro lugar, com 12%, uma semana antes do início da propaganda na TV, enquanto o deputado estadual Marcelo Lélis (PV) tinha 47%. Agora, de acordo com pesquisa Ibope, Amastha é o líder com 47%, e Lélis, apoiado pelo governador tucano Siqueira Campos, caiu para 30%. Como Palmas tem menos de 200 mil eleitores, o empresário já seria o vencedor sem necessidade de segundo turno. Em levantamento anteriores, a diferença era ainda maior: em dezembro, marcava 56% a 1%.

Outro caso que já entrou para o rol das maiores disparadas em eleições municipais é o do candidato do PSB no Recife, Geraldo Julio. Um mês antes da propaganda no rádio e na TV, em 21 de julho, ele aparecia em quarto lugar e tinha apenas 7% das intenções de voto. Rapidamente, pulou para 29%, 34% e, de acordo com pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira, tem agora 42%. Sua subida meteórica foi impulsionada pela popularidade do governador Eduardo Campos (PSB) e a má avaliação da administração petista na capital. O senador Humberto Costa (PT), que era o líder, despencou de 35% para 17%, e o ex-governador Mendonça Filho (DEM), que era o segundo lugar, desidratou de 22% para 5% e caiu para quarto. Por sua vez, o tucano Daniel Coelho subiu fortemente e foi de 8% para 22%. Ou seja, o segundo turno, em 28 de outubro, provavelmente será entre candidatos que começaram como terceiro e quarto colocados.

Recife está entre as quatro das dez maiores capitais nas quais as preferências do eleitorado registraram grandes alterações. A evolução completa da disputa nas 26 cidades pode ser conferida no site do Valor, no endereço www.valor.com.br/eleicoes2012/2802860/pesquisas-eleitorais.

Herdeiro do que já foi um dia o maior grupo político da Bahia e um dos maiores do país, o deputado federal Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM) liderava com folga as pesquisas em Salvador desde o período pré-eleitoral. Mas foi ultrapassado pela primeira vez na pesquisa divulgada na quinta-feira, pelo Datafolha, pelo também deputado federal Nelson Pelegrino (PT), por 34% a 31%. Em Ibope do início de julho, o petista tinha 13% e ACM Neto sobrava, com 40%. O crescimento de Pelegrino tem a ver com a força da base montada pelo governador do PT Jaques Wagner, que quebrou a hegemonia de décadas montada pelo senador e governador Antonio Carlos Magalhães, morto em 2007. Na eleição presidencial de 2010, Salvador deu à presidente Dilma Rousseff seu quarto melhor resultado nas capitais no primeiro turno: 53,8%. Nesta campanha, Pelegrino é impulsionado pelos apoios do governador, de Dilma e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O PT, aliás, é o partido mais beneficiado pelas reviravoltas, seguido de perto pelo PSB. O cenário bastante pessimista antes da campanha – quando a legenda só liderava em Goiânia e Recife – deu lugar a novas perspectivas. Além de Salvador, seus candidatos em Fortaleza, João Pessoa e Cuiabá deslancharam de modo surpreendente.

Na capital cearense, o desacreditado Elmano de Freitas, tido como uma aposta teimosa da prefeita Luizianne Lins, largou na sétima posição, com 3%, a um mês do início da propaganda na TV, e agora já é o líder, com 24%, de acordo com pesquisa Datafolha, divulgada na quinta-feira. O segundo colocado é Roberto Cláudio, com 19%, que estava em sexto lugar e é apoiado pelo correligionário e governador Cid Gomes. O maior prejudicado foi o ex-deputado federal Moroni Torgan (DEM), que liderava a disputa e caiu para terceiro, com 18%.

Na capital paraibana, PT e PSB também conseguiram cacifar seus candidatos. O deputado estadual petista Luciano Cartaxo está na frente, com 29%, depois de ultrapassar os então favoritos Cícero Lucena (PSDB), com 20%, e José Maranhão (PMDB), que tem 18%. A ex-secretária de Planejamento municipal, Estela Bezerra (PSB), que nunca disputou uma eleição, está em quarto, com 14%, mas próxima dos caciques tucano e pemedebista, com os quais luta por uma vaga no segundo turno. Estela é apoiada pelo governador e padrinho político Ricardo Coutinho (PSB).

Em Cuiabá, o duelo acirrado entre PT e PSB – uma marca destas eleições – se dá com mudanças favoráveis aos petistas, diferentemente do Recife. O empresário Mauro Mendes, do PSB, sempre foi tido como pule de dez para a prefeitura e já registrou mais de 50% das intenções de voto. Mas, de acordo com levantamento do Ibope divulgado em 14 de setembro, sua diferença para o vereador Lúdio Cabral havia se reduzido: 38% a 29%.

PSB e petistas também estão em lados opostos em outra capital, São Luís, onde há alterações que podem se intensificar na reta final. Ali, o ex-prefeito Tadeu Palácio (PP), que chegou a liderar pesquisas no começo do ano, caiu para quinto. Além disso, a diferença entre os três primeiros colocados – o prefeito João Castelo (PSDB), o deputado federal Edivaldo Holanda Júnior (PTC) e o ex-vice-governador Washington Oliveira (PT) – tem diminuído. A presença de Castelo no segundo turno parece mais provável. Mas ele tem sido acossado por Holanda Júnior, cujos padrinhos são o presidente da Embratur, Flávio Dino (PCdoB), que arquiteta nova candidatura ao governo do Estado em 2014, e o presidente nacional do PSB, Eduardo Campos. O governador de Pernambuco, cujo plano é aumentar ainda mais sua influência no Nordeste e se cacifar para a eleição presidencial, já esteve em comício em São Luís. Por sua vez, empurrado pela máquina da família Sarney, o petista subiu, mas ainda aquém das expectativas, já que sua enorme coligação reúne 14 dos 28 partidos.

Em Campo Grande, a surpresa tem sido o candidato Alcides Bernal (PP), que mesmo com pouco tempo de TV, ultrapassou o favorito Edson Giroto, ligado ao governador André Puccinelli e ao PMDB que domina a capital há duas décadas. Bernal é comparado ao líder da corrida à Prefeitura de São Paulo Celso Russomanno (PRB), por ter trajetória profissional semelhante – é radialista e apresentador de TV – e pelo perfil personalista.

Em Manaus, a reviravolta tem como protagonista a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB), que aproveita o apoio das máquinas estadual e federal para superar o ex-prefeito e ex-senador Arthur Virgílio (PSDB), cuja candidatura perde fôlego. Em várias capitais, por sinal, as reviravoltas ameaçam políticos da oposição. Além dos tucanos Arthur Virgílio, João Castelo e Cícero Lucena, há Moroni Torgan, Mendonça Filho e ACM Neto, do DEM.

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ONDA VERMELHA ATINGE OPOSICIONISTAS

No Brasil 247.

Reviravoltas captadas pelas últimas pesquisas colocam em risco as candidaturas de Arthur Virgílio Neto, em Manaus, ACM Neto, em Salvador, Cícero Lucena, em João Pessoa, e Moroni Torgan, em Fortaleza; maiores beneficiados são candidatos do PT, do PC do B e do PSB
1 DE OUTUBRO DE 2012 ÀS 12:30

247 – Há uma onda vermelha se formando no horizonte? Aparentemente, sim. E os mais prejudicados são os candidatos da oposição, que contavam com algumas vitórias em cidades estratégicas, como Salvador, Fortaleza e Manaus.

De acordo com um levantamento publicado nesta segunda-feira pelo jornal Valor Econômico, nas cidades onde houve maior alteração nas pesquisas, os mais prejudicados foram candidatos de partidos da oposição ao governo federal, como DEM e PSDB.

O caso mais emblemático é Salvador, cidade com 1,8 milhão de eleitores. Entre 12 e 27 de setembro, o demista ACM Neto, que sonhava com vitória em primeiro turno, caiu de 39% a 31%, enquanto Nelson Pelegrino, do PT, foi de 27% a 34%. O petista tem ainda uma vantagem, que é o provável apoio de Mário Kertesz, do PMDB, no segundo turno.

Outra esperança que se esvai para o DEM é Fortaleza, que tem 1,6 milhão de eleitores. Moroni Torgan, que tinha 27% em 22 de julho, caiu para 18% e foi ultrapassado tanto por Elmano de Freitas, do PT, com 24%, como por Roberto Cláudio, do PSB, que tem 19%. Na capital cearense, o que se desenha é uma disputa entre o grupo da prefeita Luizianne Lins, do PT, e do governador Cid Gomes, do PSB.

Também no Nordeste, há o caso de João Pessoa, onde Cícero Lucena, do PSDB, caiu de 26% para 20%, enquanto Luciano Cartaxo, do PT, foi de 14% a 29%. O tucano corre o risco de ficar fora do segundo turno, porque é seguido de perto pelo ex-governador da Paraíba José Maranhão, que tem 18%.

No Norte, Manaus, com 1,2 milhão de eleitores, é uma cidade que também coloca em risco o que antes parecia uma provável vitória do PSDB, com Arthur Virgílio Neto. Desde o início da corrida eleitoral, ele liderou todas as pesquisas, mas agora está em empate técnico com Vanessa Grazziotin, do PC do B. Ambos estão com 29%.

Se a onda vermelha continuar crescendo daqui até 7 de outubro, os candidatos da oposição correm o risco de se afogar e morrer na praia.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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