O Brasil pós-eleições

Em Recife, o petista Humberto Costa, que entrou na disputa com folgada liderança nas pesquisas e usou e abusou das imagens do presidente Lula, caiu para o terceiro lugar, ultrapassado por um tucano exótico que usa trajes ripongas e não põe os caciques de seu partido na propaganda eleitoral.

Costa entrou na campanha recifense de salto alto, e houve uma imposição antidemocrática. É uma lição para o PT. De qualquer forma, é saudável que o PSB se fortaleça, e que Eduardo Campos se credencie como uma das mais promissoras lideranças nacionais. É um grande quadro da esquerda, e me parecem absurdos os temores de que ele poderia se aliar ao PSDB em 2014 ou em qualquer data. A força de Campos nasce justamente da aliança sólida que ele construiu não apenas com o PT de Lula e Dilma, mas com um projeto político popular, focado em políticas públicas de desenvolvimento social.

Dentro da lógica das alianças entre PT e PSB, é positivo que Campos leve a melhor, porque isso facilitará a retomada da parceria entre as duas legendas após as eleições. Caso Costa ganhe, haverá mais dificuldades neste sentido, e desconfio inclusive que o próprio Lula percebeu isso. O fato dele estar revendo a sua ida à Recife reflete esse entendimento. A aliança entre PT e PSB é estratégica.

Este ano, não apenas o PT deve crescer, mas veremos também o crescimento de seus aliados de esquerda, como PSB, PCdoB, PDT. O PSOL, por sua vez, poderá ganhar sua primeira prefeitura, e logo numa capital, mas saudavelmente comprometido numa aliança com o PCdoB, o que permitirá eventualmente a reconstrução de pontes entre o partido de Lula e o de Edmilson Rodrigues, futuro prefeito de Belém.

O PSDB, por sua vez, ganhará uma porção de prefeituras, várias capitais e continuará sendo o partido mais forte da oposição. Sua debilidade será a solidão em que se encontrará. Seu aliados não estão indo bem. Isso deverá prejudicá-lo em 2014. O DEM que estava todo pimpão com a liderança de seu candidato em Fortaleza, já começou a tirar o cavalinho da chuva. As pesquisas apontam que ele Moroni Torgan caiu para o terceiro lugar, ultrapassado por PT e PSB.

Em São Paulo, todas minhas análises furaram. Primeiro eu avaliei que Haddad era favoritíssimo. Depois passei a considerar que Serra era o mais provável vencedor. Agora eu acho que Russomano é o que tem mais chances, porque num segundo turno, os eleitores de Serra tenderão a votar nele. Espero que minha análise esteja furada novamente…

Há muita curiosidade em todo o mundo político sobre o embate eleitoral em Manaus, onde Artur Virgílio, do PSDB, tenta se eleger. Sua adversária, Vanessa Grazziotin, do PCdoB, permanece em sua cola. Lula esteve recentemente na cidade e fez uma campanha intensa em favor da comunista. Suponho que um lugar afastado como Manaus, onde Lula não costuma ir muito, o impacto da presença do ex-presidente em comícios e reuniões deverá ser grande e será colhido nas pesquisas daqui em diante.

Enquanto a direita midiática aposta suas fichas no mensalão, a esquerda está nas ruas, trabalhando por votos. Resultado: o julgamento do mensalão vai terminar, os réus serão condenados ou absolvidos, mas a esquerda terá crescido em todo país, dando maior força política ao governo Dilma.

A reação dos partidos da base aliada, que divulgaram semana passada uma carta com fortes acusações contra o que chamaram de politização do julgamento do mensalão e contra a tentativa da mídia oposicionista de manchar a imagem do ex-presidente Lula, através de reportagens ridiculamente caluniosas, mostra que a classe política brasileira despertou para a necessidade de levar a luta política para o terreno da comunicação social e da opinião pública. Não basta vencer eleições, tem que lutar politicamente junto à opinião pública. Esperemos que esta conscientização da classe política se reverta em maior apoio a políticas públicas de inclusão digital.

Tudo indica que a esquerda ganhará espaço em todo país. O PT crescerá de maneira moderada, o que é saudável para o próprio partido, para baixar um pouco a bola da legenda, que já domina o governo central. E seus aliados crescerão de maneira ainda mais substancial, o que corresponderá antes a uma injeção de ânimo do que num incentivo a terminarem aliança estratégica já pre-acordada para 2014.

Quanto à mídia, acho que ela apenas se queima em seu esforço quase histérico para influenciar o julgamento do mensalão. O apoio popular à Dilma só tende a se fortalecer, ainda mais após manchetes como a de hoje, que o Globo não teve como substituir por nada referente ao “mensalão”.

 

O momentâneo estupor da “classe média” com o julgamento do mensalão, se é que existe, deverá se esvair após o término do mesmo, daqui a duas semanas. A partir de 2013, quando entrar em vigor o novo salário mínimo de R$ 670, e a classe média começar a perceber no bolso o alívio nos juros do cheque especial e do cartão de crédito, veremos uma nova onda de otimismo atingir o país. E isso sem falar no desconto na conta de luz…  A Veja e suas aliadas corporativas terão de arrumar uns dois ou três Cachoeiras se quiserem continuar produzindo crises.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
Related Post

Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.