Entrevista com Igor Bruno, candidato a vereador pelo Rio

(Igor e sua mãe, moradora de Bangu)

Como já contei algumas vezes para vocês, estou apoiando o candidato a vereador Igor Bruno. Eu e o Theo, editor do Rio Política, fizemos uma entrevista, para que ele exponha suas ideias e projetos para o Rio de Janeiro.

 

Entrevista com Igor Bruno, 32 anos, candidato a vereador (PcdoB) pelo Rio de Janeiro.

Por Miguel do Rosário e Theo Rodrigues

Igor Bruno já nos esperava, sentado à mesa do bar do Gomes, Lapa, quando chegamos, às 19 horas do último sábado. Pedimos algumas bebidas e começamos a entrevista. Igor não esconde seu entusiasmo com o processo eleitoral. Tem apoio de Jandira Feghali, um dos principais quadros da esquerda carioca, e é uma das principais apostas do PCdoB este ano. Nesta entrevista o candidato comunista apresenta o contexto do apoio do seu partido ao prefeito Eduardo Paes, fala sobre saúde, educação e democratização da mídia, além de apresentar uma análise da conjuntura política carioca. Aproveite!

Rio Política: Você é um militante antigo da causa da democratização da mídia. Ajudou a construir o I Encontro Estadual de Blogueiros do Rio de Janeiro, e fez a primeira entrevista de blogueiros com um prefeito no Brasil. Como seu mandato poderá ajudar nesta causa?

Esse é um ponto extremamente importante para mim, para meus companheiros de luta e para meu partido. A mídia brasileira é profundamente reacionária, com histórico golpista. É uma triste sequela da ditadura, que gerou concentração e monopólio. No Rio, a situação é grave porque ficamos completamente dependentes de um só grupo, as Organizações Globo, que podem praticar todo tipo de chantagem política contra nossas autoridades. Uma das coisas que podemos fazer é encaminhar um projeto de lei que obrigue a prefeitura a investir parte de sua publicidade institucional, que não é pouca coisa, e deverá crescer muito por causa dos grandes eventos, em canais alternativos de mídia. Temos que incentivar o surgimento de jornais de bairro, de jornais independentes, de blogs, sites, portais, agências de notícias independentes. Uma lei como esta seria uma revolução! E um modelo para todo Brasil.

Rio Política: Você também é conhecido por ter vindo do movimento estudantil e ter como agenda de debate a educação. Conquistou a meia passagem para cotistas e prounistas. O que mais é necessário para melhorar a educação na cidade?

Conseguimos a meia passagem para estudantes universitário cotistas e prounistas, e fomos nós, modéstia à parte, os principais responsáveis pela vitória política das cotas para estudantes oriundos da rede pública. Quando falo nós, refiro-me à nossa gestão como presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), e a meus amigos presidentes da UNE, aos quais ajudei a eleger. Nós lutamos e conseguimos enfim o que poderíamos chamar de vitória final. Dilma sancionou a lei que obriga todas as universidades federais do país a adotarem o sistema de reserva de 50% das vagas para estudantes da rede pública, negros e jovens de baixa renda. Com isso, a lei da meia passagem, já em vigor no Rio, passará a atingir um universo gigante de estudantes. O prefeito Eduardo Paes se comprometeu conosco, publicamente, a estender a meia passagem a todos os estudantes universitários do Rio de Janeiro. A gente irá cobrar esse compromisso. Entendemos que o principal desafio da educação de nossa juventude é oferecer condições financeiras mínimas para que ela possa concluir um curso superior. O jovem pobre ainda consegue fazer um curso de filosofia, de letras, de história, mas as profissões onde estão os empregos mais bem remunerados, como medicina, direito e engenharia, ainda são extremamente elitistas, porque não basta apenas entrar no curso, é preciso comprar livros caros e ter dedicação integral (ou seja, não trabalhar).

Rio Política: Na sua opinião, qual o maior problema da gestão de Eduardo Paes? O que é que o prefeito precisa mudar?

Em primeiro lugar, precisamos melhorar muito a saúde pública do Rio de Janeiro. Nosso partido é crítico do sistema de terceirização da saúde pública, as OS. Ao mesmo tempo, reconhecemos que as Clínicas da Família representaram um avanço extraordinário, e apoiaremos a sua expansão. Mas apoiaremos também a realização de concursos públicos e melhora dos planos de carreira e salários dos médicos de nossa cidade. A saúde pública é o maior desafio do Rio de Janeiro (e do Brasil inteiro, não?) Então devemos trabalhar por um plano de integração mais harmônico entre as OS e servidores públicos, sempre com a perspectiva de ir ampliando o espaço público, buscando criar um serviço de saúde condizente com a nossa meta de sermos um país desenvolvido e justo. O que o prefeito precisa mudar, portanto, e para isso estaremos lá, na Câmara, trabalhando para isso, é valorizar mais o servidor público de saúde.

Rio Política: Uma das melhores avaliações da prefeitura está na cultura. Jandira Feghali do PCdoB foi a secretária de cultura responsável por isso. Qual é a principal característica da gestão de um comunista?

Principal característica da gestão de um comunista? Acho que é um grande pragmatismo, no bom sentido. Um dos departamentos mais importantes da prefeitura do Rio, a Rio Filmes, gerida por Sérgio Sá Leitão, nomeado por Jandira, estava em vias de ser extinto. Só dava prejuízo ao erário. Leitão conseguiu reverter o processo, e alternando investimentos em filmes comerciais e em filmes mais vanguardistas, conseguiu revirar a agência, que voltou a ser referência no cinema brasileiro. Se o diretor da Rio Filmes fosse um banqueiro, preocupado apenas com filmes de arte, a agência talvez teria sido extinta. Um comunista, sem deixar de investir em filmes de arte, se preocupa em não deixar um agência pública tão importante como esta se debilitar e morrer. Então toma as devidas providências para torná-la importante. Investe numa comédia romântica aqui, ganha lucros, o que lhe dá cacife para investir depois num filme com menos potencial de público acolá.

Outra característica: levar cultura para a periferia. Este ano, a abertura do Festival do Rio será no Imperator, que foi reformado pela prefeitura. E haverá exibição de filmes em diversos lugares da periferia. Ou seja, serão levados filmes de altíssimo nível, filmes originais, que talvez jamais passem no circuito comercial, para lugares como Pavuna, Madureira e Bangu. A gestão de Jandira também foi responsável por trazer para o Rio o Viradão Carioca e por revitalizar a Lapa tal qual a conhecemos hoje.

Rio Política: O PCdoB ainda é um partido pequeno no Rio de Janeiro. O que é preciso ser feito para o partido crescer, eleger mais vereadores e quem sabe um prefeito comunista?

As análises dos gráficos eleitorais mostram que o PcdoB está se beneficiando do crescimento da Classe C. Ao contrário do que alguns cientistas políticos temiam, que as classes emergentes se tornariam conservadoras, o que notamos, ao menos por enquanto, é o contrário. As periferias do Rio de Janeiro é que estão sustentando o voto de esquerda na cidade. E como são áreas muito mais populosas, isso nos dá mais chance de nos elegermos do que quando tínhamos candidatos que atingiam apenas os eleitores “ideológicos” da zona sul, centro, tijuca e vila isabel.

Novas perspectivas eleitorais se descortinam para o PcdoB no Rio de Janeiro, se ele souber (e saberá, com certeza!) aproveitar essas novas tendências. Isso porque a Classe C das periferias está conseguindo ascensão econômica, e portanto tendo mais acesso aos bens culturais. Entretanto, por morar no subúrbio, ainda mantém compromisso ideológico (embora não teorizado) com sua classe. O pobre de hoje tem mais autoestima. Quer melhorar de vida, e está conseguindo, mas quer fazê-lo sem abandonar suas raízes, seus gostos, suas características culturais. Esse compromisso com sua classe se traduz em votar em candidatos com propostas voltadas para os mais pobres, ou seja, na esquerda, ou em candidatos aliados à esquerda, como é o caso de Eduardo Paes, que integra o campo político de Lula, Dilma e Jandira Feghalli. Assim como o partido comunista dominou a Itália por 30 anos, domina hoje a França, e os partidos socialistas de maneira geral foram um dos principais responsáveis por fazer da Europa um dos continentes mais avançados do planeta em termos de qualidade de vida, direitos humanos e trabalhistas, o PcdoB tem a chance agora de contribuir para que o Brasil siga pela mesma trilha. Faremos isso perseverando em nossa estratégia, de aliarmos inteligência política, pensamento estratégico e respeito à democracia. O fato de nos aliarmos a partidos que não comungam de nossos ideais não quer dizer que iremos abandoná-los. Ao contrário, tentamos trazer quem pensa diferente um pouquinho mais para a esquerda. O professor Wanderley Guilheme dos Santos, estudioso das democracias do mundo inteiro, nos ensina que o partido socialista da Suécia se manteve no poder por mais de 30 anos, aliado a uma legenda conservadora, e conseguiu transformar o país numa república altamente comprometida com direitos humanos, sociais e trabalhistas. É muito fácil aliar-se a quem pensa igual. A exigência acaba fazendo com que não se alie a ninguém. O difícil é se aliar ao diferente, mantendo a firmeza de princípios, e lutando para encontrar consensos que nos aproximem de nossas metas de revolução e socialismo.

Rio Política: Você é militante antigo do Partido Comunista do Brasil, é da direção estadual do partido. Por que para o PCdoB apoia a reeleição de Eduardo Paes?

Eu sou comunista desde garoto, antes de saber o que era ser comunista. Minha primeira atividade política foi, quando garoto, organizar a luta para conquistar alimentação para os alunos da minha escola no subúrbio do Rio, que tinha horário integral mas não servia comida. A luta pelo socialismo passa, com certeza, pela democratização da economia e da educação, que são interligadas. Em outras palavras, o povo tem de melhorar de vida para ampliar a sua consciência política e entender que o socialismo é o melhor caminho, o único caminho viável para a humanidade. O líder comunista Luis Carlos Prestes nos ensinou uma grande lição de humildade e amor pela pátria. Apoiou Getúlio Vargas em 1950, mesmo após toda a perseguição que Vargas tinha feito aos comunistas nas décadas de 30 e 40, incluindo a deportação de sua mulher, Olga Prestes, grávida, para um campo de concentração nazista. Vargas não era de esquerda, mas naquela conjuntura histórica, representava um conjunto de forças políticas progressistas que se opunha ao conservadorismo oligárquico do Brasil. O meu partido é um dos mais aguerridos em favor de uma reforma política em prol do financiamento público exclusivo de campanha. Ou seja, defendemos que seja proibida a doação privada. Mas não condenamos companheiros de outros partidos que recebem, pois não acho válido, do ponto-de-vista da luta pelo poder, posar de revolucionário às custas de entregá-lo aos inimigos do povo. Os políticos tem que jogar conforme as regras do jogo. Dentro da lei, claro!

Em suma, a gente apoia Eduardo Paes porque vemos a conjuntura, o projeto político. Paes é um peão no tabuleiro, como todos nós somos. Estamos construindo, desde já, a plataforma de 2014, para reeleição da presidenta Dilma e continuação da esquerda no poder. Meu partido deverá crescer bastante nesta eleição, assim como outras legendas de esquerda, e assim vamos acumulando poder para aprofundarmos as reformas que o Brasil precisa para aprimorar a sua democracia e melhorar a qualidade de vida de sua população. Não se trata de esperar para fazer depois. Já estamos transformando o Brasil, e isso a classe média tradicional muitas vezes finge não ver. A renda dos 10% mais pobres cresceu 30% nos últimos dois anos, segundo a última pesquisa do IBGE! E isso em pleno processo de recessão mundial!

Facebook: https://www.facebook.com/IgorBruno65651

Blog do Igor Bruno: http://igorbruno65651.com.br/

 

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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