O jogo não terminou

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(Iberê Camargo)

Eleição tem componentes ainda mais imprevisíveis que o futebol, e um jogo, quando não há vantagem significativa para um time, só é decidido quando o juiz dá o apito final. Digo isso porque tenho lido, diariamente, análises políticas que prevêem o mau desempenho do PT nas urnas.

A avaliação, claro, só poderia valer para as capitais. O Brasil tem 5.565 municípios, e quando os resultados eleitorais forem conhecidos há quase um consenso entre analistas que haverá um aumento considerável dos votos para o PT, PSB, PCdoB, e outras legendas de esquerda. Até o PSOL deve crescer este ano, ganhando uma prefeitura, porque se aliou ao PCdoB e diversas outras legendas, demonstrando amadurecimento institucional e maior compreensão do processo democrático brasileiro, sem criminalizar uma política de alianças que é necessária para se governar.

Esta semana, publiquei dois artigos do Wanderley Guilherme aqui no Cafezinho. Um deles lembra que a Suécia conseguiu se tornar um dos países mais desenvolvidos do mundo através de uma longa aliança entre um partido de esquerda, e outra legenda conservadora. Guilherme explica que alianças partidárias não precisam ser necessariamente ideológicas. Numa democracia partidária, existe sempre a necessidade da partilha do poder.

O lulismo mostrou isso na prática. Em época de eleição, quando todos os discursos elevam seus tons, há muita gritaria contra “alianças espúrias”, que isso tem de acabar, que o PT deu uma guinada à direita. Não concordo. Os dados mostram que o PT agiu de maneira rigorosamente correta do ponto-de-vista político. Fez as alianças que tinha de fazer em prol do povo, assim como fez a esquerda sueca.

A prova está aí, nas notícias que os jornais não puderam esconder. Acaba de sair o mais recente PNAD, que é o mais importante estudo do IBGE sobre os lares brasileiros, e os avanços sociais são espantosos. Caiu o desemprego, aumentou a renda, os brasileiros compraram computadores com internet. A desigualdade social caiu substancialmente. Tudo isso numa escala impressionante.

Em vista desses dados, eu me recuso a referendar, portanto, as asserções de “conservadorismo” do PT. Dizer que o PT guinou à direita é dizer que os avanços sociais obtidos são uma conquista da direita, e isso não faz sentido para mim.

Em verdade, há uma disputa de teses. E persiste um certo despeito em setores da academia e da intelectualidade em relação à maneira “empírica”, “intuitiva” com que Lula tem liderado o PT nesses últimos anos. Volta e meia, vejo intelectuais cagando regras sobre conservadorismo, alianças, sem ter muita noção de como funciona o jogo democrático e, sobretudo, sempre pondo em segundo plano os resultados concretos dessas políticas.

A seguir, faço uma análise da situação dos partidos em todas as capitais.

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Voltando a questão das capitais, os analistas da mídia tem repetido a tese de que suas populações são mais susceptíveis aos temas morais e éticos e que, por isso, o PT seria prejudicado pelo mensalão. Concordo em parte. Há setores da classe média que são, inegavelmente, susceptíveis ao noticiário da grande mídia. Mas essas classes médias são minorias, mesmo nas grandes cidades. O que eu tenho visto, nas pesquisas eleitorais, é o PT, e demais legendas de esquerda, avançarem nas áreas densamente povoadas das periferias.

Além do mais, estas análises baseavam-se nas primeiras pesquisas feitas. As sondagens mais recentes mostram, quase todas, recuo dos candidatos conservadores e ascensão dos nomes do campo popular.

A Folha de hoje traz uma matéria com um retrato momentâneo das sondagem em todas as capitais brasileiras. Vamos analisar a reportagem.

 

 

 

 

Podemos tirar as seguintes conclusões dos dados acima:

  • O PSDB tem apenas 1 prefeito hoje em capitais, ou seja, está em nível de igualdade com PCdoB. É normal que aposte todas as fichas em candidaturas majoritárias para crescer.
  • O PSDB é a legenda com maior número de candidatos competitivos: 10. Mas é preciso considerar que o partido está isolado na oposição. Seu principal parceiro, o DEM, encontra-se em profunda crise. Sendo o único grande partido de oposição, é normal que concentre maior número de candidatos competitivos. Os candidatos competitivos da base aliada diluem-se num número maior de partidos.
  • O PT tem 6 prefeituras de capital, campeão nacional nesse quesito. Elegeu prefeitos num ambiente ainda mais agressivo, em 2008, porque mais próximo do escândalo do mensalão, e antes de Lula atingir os píncaros da popularidade em 2010. Não acho muito lógico achar que o PT vai mal agora num ambiente bem mais favorável.
  • O PT está abrindo espaço, voluntariamente ou à força, a seus aliados. PSB, PCdoB, PDT, e as alas mais governistas do PMDB devem crescer este ano nas capitais e em todo país.
  • Em suma, a oposição atualmente tem apenas 1 prefeitura de capital, mas conta com 13 candidatos competitivos.  10 do PSDB e 3 do DEM. A base aliada tem os outros 13.
  • A oposição não está tão mal assim nas capitais. Não creio que seja efeito do julgamento do mensalão, e sim um sentimento oposicionista natural.
  • De qualquer forma, a oposição não tem chance de ganhar nas capitais mais ricas, como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre.
  • Em apenas 3 capitais, a oposição goza de um forte favoritismo: Aracaju, Maceió e Vitória. Nas outras, os candidatos “competitivos” da oposição terão que cortar um dobrado para vencer o pleito. Na maioria, a situação não é de favoritismo.

Conclusão: quando a opinião do povo se concretizar em votos, teremos um panorama realista, muito mais objetivo do que qualquer pesquisa sobre a “opinião pública”, sobre os anseios mais profundos da sociedade brasileira. E não creio que será favorável ao conservadorismo. Estes resultados poderão fortalecer a presidenta Dilma e as legendas que a apoiam. E não apenas fortalecer, como indicar para ela o caminho que deverá tomar, aprofundando as reformas que o Brasil precisa: entre elas a da comunicação social, onde se refugiam as principais forças da oposição conservadora.

A importância da mídia é grande demais para ficar na mão de interesses partidários. A oposição de verdade tem que ir às ruas, pedir votos, lutar democraticamente pelo poder.  Sair debaixo da barra de saia desses herdeiros da ditadura. Quanto aos jornais, acho que tem todo o direito de fazer oposição a um governo com cujas ideias não concordam, mas o governo deve cuidar para que o debate público seja plural, para o bem da democracia. Para isso, deve usar as ferramentas que tem a mão, a começar pela publicidade institucional.

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Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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