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A boca do jacaré e outras histórias

Hoje temos três notícias importantes a tratar no blog: 1) Datafolha de São Paulo. 2) Datafolha do Rio. 3) Entrada de Marta no ministério da Cultura.

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Hoje temos três notícias importantes a tratar no blog:

  1. Datafolha de São Paulo.
  2. Datafolha do Rio.
  3. Entrada de Marta no ministério da Cultura.

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Datafolha de SP 

Russomano e Serra caíram e Haddad subiu. A boca do jacaré tem dois maxilares superiores e um inferior, e está fechando. Com uma rejeição atingindo impensáveis 46%, Serra se tornou um morto-vivo. Como essa rejeição é maior entre pobres e nas periferias, uma eventual vitória tucana poderia criar um perigoso clima de guerra de classes na cidade. Os ricos teriam mais medo do que já tem e pressionariam Alckmin a usar e abusar da violência policial. A rejeição à Serra já não é uma piada eleitoral, é um sinal de alarme.

A íntegra do Datafolha está aqui.

Os dois gráficos abaixo fornecem dados valioso para se entender os rumos da campanha paulistana.

 

Aparentemente, temos uma boa notícia para Serra. O percentual de seus eleitores que respondeu estar “totalmente decidido” cresceu de 59% para 70%. Entretanto devemos avaliar que este aumento é proporcional à sua queda nas pesquisas. Conforme um candidato vai perdendo eleitor, os que sobram são, obviamente, os mais “decididos”. O mesmo cálculo vale para Haddad, o percentual de eleitores do petista que afirmou estar “totalmente decidido” a votar nele caiu de 67% para 65%, mas isso porque aumentou a sua intenção de voto.

O gráfico acima deve ser analisado à luz do vem a seguir:

 

 

Observe que Haddad se distanciou de Serra como candidato com mais chances de receber votos: subiu de 15% para 17%, enquanto Serra caiu de 15% para 12%.

Vejamos o eleitorado de Russomano: 27% de seus eleitores dizem que podem mudar o voto para Haddad. Em pesquisa anterior, este percentual era de 17%. Serra, por sua vez,  perdeu muito sangue entre o eleitorado de Russomano: na pesquisa anterior, 26% dos eleitores de Russomano diziam que poderiam mudar seu voto para Serra, agora são apenas 20%.

Os números mostram ainda que, no caso de um segundo turno, a tendência tantos dos eleitores de Haddad, quanto os de Serra, é votarem em Russomano. Essa é grande vantagem do candidato do PRB, ele capta votos de protesto de ambos os lados.

Por fim, vale a pena dar uma olhada na pesquisa sobre o segundo turno:

O gráfico acima merece alguns comentários:

  •  Haddad ganha de Serra num 2º turno com diferença de 7 pontos, uma vantagem bem razoável se considerarmos que os votos de Serra são mais consolidados e o tucano é bem mais conhecido.
  • Haddad é conhecido por 84% dos eleitores, contra 98% de Serra e Russomano. Ainda tem um espacinho bom para crescer entre os que não o conhecem, na maioria pobres e com pouca escolaridade, ou seja, povão. Numa eleição onde Lula está muito presente, o petista tem vantagem sobre este eleitorado.
  • Num 2º turno com Russomano, Serra perde com diferença de 27 pontos. Haddad, que está crescendo, perde por diferença de 23 pontos.

 

Datafolha Rio:

No Rio, tivemos um crescimento de cinco pontos de Marcelo Freixo, que foi de 13% a 18%. Mas Eduardo Paes também cresceu 1 ponto, atingindo 54% (mesmo número do Ibope). Freixo cresceu “pra baixo”, ou seja, cresceu sobre seus adversários e indecisos. Maia perdeu 1 ponto e o percentual de votos brancos/nulos/nenhum caiu de 13% para 9%. Exatamente os mesmos cinco pontos ganhos por Freixo.

Vamos botar tudo isso na ponta do lápis:

 

A coluna de % corresponde, grosso modo, ao percentual de votos válidos. Se a eleição fosse hoje, portanto, Paes teria 66% dos votos válidos e se elegeria no 1º turno. Ele chegou a ter 70% na pesquisa anterior.

Caso haja um 2º turno, Paes teria 63% das intenções de voto, ante 28% do psolista.

Na tabela de rejeição, mais notícias boas para Paes: sua rejeição caiu de 17% para 15% (tinha ido a 20%, que nem é um número alto, em julho). E a rejeição ao candidato que faz a oposição mais dura a seu governo, Rodrigo Maia, explodiu para 42%. A rejeição à Otávio Leite, outro que faz oposição bem marcada, também cresceu, para 15%. Isso é ruim para Freixo porque com adversários fracos, e um prefeito com baixa rejeição, fica mais difícil levar a eleição para um 2º turno.

Em outras palavras, Paes tem que perder, no mínimo, um dez pontos percentuais e os outros subirem uns quinze a vinte pontos para ter segundo turno. Freixo tem que passar de 30%.

Na minha opinião, Freixo tem condições de ganhar mais uns dez pontos percentuais. O difícil é tirar pontos do Paes. O prefeito está bem avaliado, sua rejeição caiu, e ainda tem muita munição: nem mostrou ainda Dilma na TV, por exemplo.

 

 

Sobre a Marta no Ministério da Cultura, a decisão transmitiu a imagem de um toma-lá-dá-cá descarado. Marta praticamente chantageou o PT e o governo, e conseguiu o que queria. O Minc tem pouca verba mas oferece grande visibilidade, para o bem e para o mal.

Por outro lado, a decisão tem aspectos positivos:

  1. Põe um ponto final na crise entre setores do PT e o Minc. Essas críticas às vezes perdiam a linha, mas eram sinceras, bem articuladas,  barulhentas, com potencial para desestabilizar o próprio governo. A chegada de Marta pacifica essa área.
  2. Mesmo com todas as críticas que se pode fazer à Marta, inclusive a de ter chantageado o governo em troca desse cargo, ninguém nega que ela tenha força e inteligência. Dará densidade política ao Minc. Inclusive já temos uma notícia boa nesse sentido.
  3. Marta é uma pessoa com uma boa reputação ética. É acusada de ser arrogante, mas nunca vi a chamarem de desonesta. Isso tranquiliza a sociedade e os produtores de cultura.
  4. Marta é uma pessoa muito liberal, que defende o casamento gay, etc, o que é um ponto positivo para um ministro da Cultura.
  5. Obriga Marta a entrar de cabeça na campanha de Haddad, ajudando a vencer as trevas reacionárias na maior cidade do país. Esse é o ponto mais importante.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Guilherme Scalzilli

14/09/2012 - 00h10

Russomano é a nova boa notícia

As dificuldades da campanha de José Serra ficaram evidentes desde que o cenário eleitoral começou a definir-se. O histórico do candidato, os bastidores de sua “escolha” no PSDB, os índices de rejeição que o acompanham, as características dos públicos almejados pelos adversários e o anseio renovador do eleitorado anunciavam que o tucano teria uma tarefa quase impossível pela frente.

A surpresa vem da intensidade com que os possíveis eleitores de Serra migraram para Celso Russomano e Fernando Haddad. Reagindo à tendência, o ex-governador terá de assumir uma postura negativa, de ataques pulverizados e apelativos, opção que raramente logra sucesso. A lógica aponta para uma polarização cada vez maior entre os pleiteantes do PRB e do PT rumo ao segundo turno.
Nesse quadro, Haddad ganha uma vantagem que precisa ser habilmente explorada. A também previsível adesão de Marta Suplicy e os apoios de Lula e Dilma Rousseff dividirão os setores mais pobres e numerosos do eleitorado, que representam a grande força de Russomano. Nos outros recortes da pirâmide social, porém, o líder das pesquisas deve atrair antipatia ainda maior que a do petista. Os atuais esforços desmoralizadores da imprensa tucana e a futura exposição das propagandas obrigatórias ajudarão a afastar as classes médias e altas de Russomano, identificando-as ao perfil menos controverso de Haddad.

O voto útil desses segmentos terá, portanto, um papel decisivo na reta final da disputa. Para conquistá-lo, Haddad precisa antagonizar frontalmente com Russomano, buscando um discurso alinhado aos temas que sensibilizam o eleitorado serrista (religião, experiência, linhagem partidária, etc). Ao mesmo tempo, deve se esquivar da proverbial agressividade que norteará os últimos esforços de Serra, atingindo-o apenas indiretamente, através de suas ligações com a impopular administração Gilberto Kassab.

A estratégia demanda paciência e cautela, principalmente se os grandes institutos de pesquisa recorrerem às conhecidas manipulações para ocultar o verdadeiro grau da derrocada tucana. Soa temerário, mas não deixa de sinalizar perspectivas inesperadas para uma campanha que muitos já consideraram perdida.

http://guilhermescalzilli.blogspot.com.br

Ricardo Melo

13/09/2012 - 08h53

Peraí, mas esse post não é “comentário livre”?

migueldorosario (@migueldorosario)

12/09/2012 - 19h15

A boca do jacaré e outras histórias http://t.co/Zd0LMAtU


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