Muito instrutiva a coluna de Noblat de hoje. Ele abre seu texto afirmando que irá contar uma história cabeluda envolvendo um prefeito petista do Piauí.
Li com atenção, porque é meu trabalho, na expectativa de topar com uma narrativa escabrosa de um petista assassino, miliciano, que estuprava virgens e mandava executar seus adversários. Afinal, tudo pode acontecer em cidadezinhas escondidas do sertão, e possuir carteirinha de filiação ao PT não dá atestado de idoneidade a ninguém.
Eis que Noblat informa que o prefeito Francisco Antônio de Souza Filho, o Chico do PT, começou sua carreira quando Wellington Dias se reelegeu governador do Piauí em 2006 e ele foi nomeado secretário de Articulação e Gestão.
Nas palavras de Noblat:
(…) Ambicionava governar Esperantina a partir de 2008. E para facilitar sua eleição, arrancou de Dias dinheiro e obras para a cidade.
Esperantina ganhou pontes, poços artesianos e ruas asfaltadas.
Os programas de assistência social do governo estadual foram ampliados ali para atender ao maior número possível de pessoas (…)
Pronto, estes foram os “crimes” do Chico do PT.
Pontes, poços artesianos, ruas asfaltadas, programas sociais.
Realmente, é um sociopata odioso!
Daí Noblat segue dando detalhes do processo que o Ministério Público move contra Chico do PT, noticiando cada pequena vitória, mesmo que na forma provisória de adiamento, do petista como um excrescência jurídica. E tudo pra quê? Para acusar Ricardo Lewandoswki e Dias Toffoli, que não condenaram sumariamente o petista por seus “crimes”.
Suponho que o processo deva ser muito mais complexo do que o insinuado por Noblat. Espero que, inclusive, contenha acusações mais fortes contra o Chico do PT do que construir pontes, poços artesianos, asfaltar ruas e ampliar o número de programas sociais. Porque se a acusação contra o petista se resumir a isso, será um indício de que temos, dentro do Ministério Público, setores influenciados por ideias conservadoras, ou mesmo coligados a interesses políticos oligárquicos e reacionários.
Diante de um Procurador Geral da República que engaveta ações da Polícia Federal contra políticos conservadores, de um lado, e faz acusações sem provas ou testemunhas, de outro; e de um STF que se curva à pressão da mídia para condenar igualmente sem provas, sem testemunhas, sem atos de ofício, nada me espanta mais nesse Brasil.
O STF solta Daniel Dantas, mesmo com um arsenal de provas contra ele, acusado pelo desvio de milhões, quiçá bilhões, de verbas públicas, e condena João Paulo Cunha, por causa de R$ 50 mil que o deputado recebeu então do seu próprio partido.
O que a mídia chama de “início do fim da impunidade contra políticos”, eu chamaria antes de a vingança final do lacerdismo.
Felizmente o povo brasileiro é mais inteligente do que pensam nossos udenistas pós-modernos. O troco será dado, mais uma vez, nas urnas. A mídia pode continuar achando que pontes, poços artesianos, ruas asfaltadas e programas sociais constituem “abuso de poder” e “crime eleitoral” (naturalmente quando feitos por um petista).
As pesquisas apontam, todavia, que o eleitor não pensa da mesma forma. Nessa guerra fantasmagórica entre Carlos Lacerda e Getúlio Vargas, parece que o velhinho vai levar a melhor.