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(Pintura de Jean Baptiste Déchery)
Acho que eu consigo resumir mais ou menos o que anda pela mídia comentando a coluna da Dora Kramer de hoje, terça-feira.
Vamos fazer aquele esquema de comentários intercalados. Os dela estão em negrito, os meus em fonte normal.
Paradoxo Popular – Dora Kramer
Nem tudo que é popular é justo, aceitável, verdadeiro ou incontestável. Disso dá notícia a História, a vida e as duas vitórias eleitorais do PT para a Presidência da República depois do advento do mensalão.
É pra rir. Para Kramer, a vitória de Serra é que seria “justa’…
Segundo pesquisa do instituto Datafolha, maioria expressiva (73%) da amostragem de 2.592 pessoas ouvidas uma semana depois de iniciado o julgamento no Supremo Tribunal Federal considera tratar-se de um caso de corrupção e espera pela condenação dos envolvidos.
Essa pesquisa Datafolha foi a maior pilantragem dos últimos tempos. Os caras passam anos massacrando a população dizendo que Dreyfus é culpado, que Dreyfus é um judeu nojento e criminoso. E daí entrevistam as mesmas pessoas perguntando se acham que Dreyfus deveria ser preso…
Ora, em primeiro lugar, é claro que as pessoas ouviram falar no mensalão, e no julgamento, mas isso não quer dizer que se interessem pelo assunto. As pessoas trabalham, estudam, namoram, a grande maioria não está nem aí para o mensalão, o que não significa que não tenham “ouvido falar”. Está aí a confusão deliberada da Folha. Ela confunde o fato das pessoas estarem cientes com um suposto interesse pelo tema.
Tal convicção não decorre da perfeição jurídica do relato dos autos, inacessíveis à avaliação leiga. A acusação não convence a maioria por estar juridicamente com a razão, mas porque sua narrativa faz sentido: conta que um partido valeu-se das facilidades do poder para arrecadar muito dinheiro e com ele conseguir sustentação política de que necessitava para governar.
É judeu? Tem de apanhar. Tem de apanhar porque é judeu. Uso as palavras do advogado de José Genoíno. A mídia faz um massacre midiático e agora tenta usar o capital simbólico que ela mesmo investiu no público como forma de pressão para condenar os réus.
Houve manipulação de grandes somas onde deveriam prevalecer posições políticas; é isso que as pessoas entendem e consideram impróprio.
Manipulação de grandes somas? Dorinha pensa que o povo é trouxa, por isso a oposição está perdendo. É evidente que eleições num país da magnitude do nosso envolvem “manipulação de grandes somas”. O resto da frase não tem sentido: “onde deveriam prevalecer posições políticas”. Mesmo quando não há caixa 2, mesmo quando corre tudo de acordo com a lei, há manipulação de grandes somas de recurso. Democracia é um processo caro, porque os partidos precisam pagar pela propaganda de suas propostas, num ambiente fortemente competitivo visto que há disputa de poder.
Uma boa parte (43%), contudo, não acredita que haverá condenação, expressando algo que pode ser visto de duas maneiras: desconfiança na eficácia da Justiça e/ou antídoto prévio a frustrações devidas a um farto histórico de impunidade.
A impunidade, infelizmente, é um fato no Brasil, dos mais tristes. Mas não é o caso dos réus do mensalão, massacrados por anos por acusações equivocadas e sensacionalizadas. A Justiça brasileira ainda é leniente, mas quero crer que está mudando, se aperfeiçoando. Não será, contudo, condenando réus sem prova, como no caso do mensalão, que ela vai progredir.
A adesão popular à tese defendida pela Procuradoria-Geral da República não quer dizer que o resultado do julgamento no Supremo Tribunal Federal vá ou deva necessariamente atender a essa demanda.
Não entendi direito. Ela diz que o STF não deve julgar de acordo com a fúria da massa ignara? Ou ao contrário?
Tampouco é possível inferir que os resultados daquelas eleições vencidas pelo PT (reeleição de Lula e vitória de Dilma Rousseff) no pós-mensalão teriam sido diferentes se o enredo tivesse sido contado com a cadência e exposição de agora, porque a mesma pesquisa registra que 50% não se deixarão influenciar pelo resultado do julgamento na hora do próximo voto, em outubro.
O resultado das eleições, se houvesse a exposição de agora, talvez fosse até melhor pelo PT, porque pela primeira vez a sociedade tem acesso amplo e generoso aos argumentos da defesa dos réus.
Algumas conclusões, porém, são admissíveis. A primeira delas: o PT está longe da realidade quando diz que a população só quer saber de novela e de olimpíadas.
O presidente do PT disse que o brasileiro estava mais interessado em novela e olimpíadas. Foi uma afirmação política, informal, e não uma análise acadêmica precisa. Mas acho que Rui Falcão está mais perto da realidade do que Dora Kramer. A jornalista usa a pesquisa do Datafolha, que fala apenas que o brasileiro “tem conhecimento” do julgamento do mensalão, para inferir que ele está interessado no assunto. Ora, eu estou ciente de uma série de coisas que, todavia, não me interessam.
A segunda: a versão de que o mensalão é fruto de uma fantasia oposicionista simplesmente não pegou.
Dora Kramer se agarra desesperadamente à versão midiática do mensalão, e usa como bóia para não afundar a desinformação que ela mesmo ajudou a difundir.
Um último aspecto, relacionado à desconexão entre o voto e o resultado do julgamento pode, em princípio, soar estranho em face da expectativa de condenação.
Mas, se lembrarmos que o PT ganhou duas eleições presidenciais com mensalão e tudo – uma delas ainda sob o eco da CPI – vamos acabar concluindo que a população exige rigor da Justiça, mas não é tão rigorosa assim na hora de votar.
Pronto, o culpado é mesmo o povo, esse ignorante que vota no PT corrupto, em vez de votar nos impolutos tucanos. E dá-lhe professor Hariovaldo!
Um dado para se pensar antes de reclamar dos políticos e dos juízes.
Certo, para se pensar e concluir que o povo é burro: se fosse inteligente, votava no PSDB, partido honesto, que não pratica mensalão, não faz caixa 2, não se corrompe.
Sujeito oculto. Muito esperto o advogado de Roberto Jefferson tentando desmontar o trabalho do Ministério Público sob a alegação de que a acusação é nula porque não incluiu o “mandante”, Lula.
Como teatro, eficiente. Para o julgamento, apenas um sofisma dada a proteção garantida pela ausência do personagem nos autos.
Para a imagem de Lula, porém, o chamamento ao centro da cena naqueles termos não é tão inócuo assim.
Sobre o prestígio de Jefferson junto à mídia, observo ao leitor que a Folha escalou um repórter para ficar ao lado de Jefferson, em seu apartamento, durante a exposição de seu advogado. É muita parceria, né?
Desalinho. Na última sexta-feira, o ministro Antonio Dias Toffoli foi a uma festa em Brasília. Ia alta a madrugada quando explodiu em pesados palavrões referindo-se ao jornalista Ricardo Noblat que acabara de sair, mas voltou a tempo de ouvir e relatar a história em seu blog momentos depois.
Talvez pela interpretação de que se tratava de um caso atinente à vida particular de Dias Toffoli, os jornais não deram repercussão ao episódio e provavelmente por esse motivo o ministro não reagiu nem desmentiu.
A gravidade aí não está no fato de os impropérios terem sido dirigidos a um jornalista, mas por terem sido proferidos em público por um julgador de instância suprema cujo papel institucional requer equilíbrio, distinção, maturidade e, sobretudo, noção de limite.
Realmente, o colunismo político da grande mídia escorreu cachoeira abaixo. Noblat se tornou isso: um blogueiro que precisa apelar para fofocas escabrosas para manter notoriedade.
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Hoje o Datafolha divulgou pesquisa de popularidade de Dilma Rousseff. Temos algumas novidades relevantes. Recortei algumas tabelas, e comento em seguida.
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A variação negativa da popularidade de Dilma Rousseff se deu principalmente entre os mais ricos e mais escolarizados. Creio não ser absurdo pensar que houve uma forte influência da greve das universidades federais.
A presidenta perdeu um bocado de apoio que tinha acumulado na classe média, mas mantém uma força muito grande em setores mais populares.
A Folha também tascou perguntas sobre mensalão em toda enquete. Vale lembrar que o Datafolha fez ainda outra pesquisa apenas com perguntas sobre o mensalão. Uma pesquisa bem ridícula, reitere-se, em função da binaridade e falta de opções nas respostas. O sujeito tem de responder se mensalão é caso de corrupção, sim ou não. É claro que se responde sim, até porque teve corrupção também. Os dólares na cueca do petista, por exemplo, não teve nada a ver com o esquema de caixa 2, nem com Marcos Valério, mas entra no imaginário popular como um fato importante daqueles meses de escândalos diários.
Interessante observar, porém, na tabela abaixo, que mesmo as pessoas que estão mais bem informadas aprovam vigorosamente o desempenho do governo Dilma, o que é um indício importante de que o mensalão não afetará as eleições municipais.
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