A mídia hoje traz notícias que sugerem o fim do período de inferno astral do governo Dilma. Crescimento baixo, crises políticas, inadimplência em alta, indústrias sangrando, motim entre aliados, greve de servidores. Uma série de fatores conjugavam-se para deixar a presidente numa situação delicada, apesar de sua alta popularidade.
- O crescimento baixo parece ter chegado ao fim. Todas as previsões (FMI, Banco Central, agentes privados) indicam que o segundo semestre assistirá a uma aceleração da economia. A mudança não veio de graça. O governo promoveu uma violenta guinada na política econômica, abandonando a postura conservadora e recessiva do primeiro ano; e adotando uma mais assertiva, quase interventora, em 2012: fazendo pressão pela redução de juros e spreads, cortando impostos e ampliando fortemente o crédito.
- As crises políticas amainaram, em primeiro lugar com a postura algo jesuítica da presidente de usar a mídia para fazer uma espécie de limpeza dentro de casa, arcando com os riscos de enfurecer aliados feridos com denúncias nem sempre consistentes. Em segundo lugar, porque a Polícia Federal estourou o principal bunker de produção de escândalos: o esquema Cachoeira, que espionava agentes do governo, muitas vezes arquitetando armadilhas, para entregar fitas à revista Veja. O feitiço virou contra o feiticeiro e hoje Cachoeira e Veja estão no banco dos réus.
- A inadimplência parou de cair. É bom lembrar que o aumento da dívida do cidadão brasileiro se deu, principalmente, pelo crescimento do crédito imobiliário, o que é um fato positivo. Mas a inadimplência é sempre negativa, e, apesar de ainda estar em níveis aceitáveis, vinha aumentando. Pois bem, em junho deu uma trégua e a estimativa de bancos privados e do Banco Central é que registre um declínio substancial até o fim do ano.
- O sangramento das indústrias também deve se reduzir nos próximos meses. A redução em até 30% no custo de energia pode representar um incentivo determinante para restabelecer a sua competitividade. A queda nos juros, spread, concessão de crédito e redução de tributos, produzirão um ambiente amigável no qual as indústrias nacionais poderão, enfim, deflagrar um grande contra-ataque às suas concorrentes externas.
- As greves dos servidores parece estar se encaminhando a uma resolução. Dilma já acenou com um aumento linear para todos os servidores federais, a partir de janeiro de 2013. A mobilização dos professores universitários, embora os sindicatos não queiram admitir (porque a lógica sindical é de arrancar sempre mais), já resultou num ganho considerável dos salários, desde a base até as categorias top; a greve não deve durar muito mais. O aumento de 45% para os professores com dedicação exclusiva é de fazer inveja a qualquer outro assalariado no país. E os na base da categoria, conseguiram arrancar aumento médio de 25%.
- No dia 31, Dilma, Mujica e Cristina baterão o martelo para a entrada da Venezuela no Mercosul, o que deverá servir para fortalecer substancialmente o bloco, apesar dos faniquitos da mídia. A Venezuela tem as maiores reservas de petróleo do planeta e, por isso mesmo, é um grande importador de produtos manufaturados e básicos. Sua entrada beneficia a indústria brasileira e de nossos vizinhos. A decisão, além disso, representa um delicioso contragolpe ideológico contra a direita golpista do continente (que patrocinou e apoiou o golpe no Paraguai), e por isso mesmo ajuda a azeitar a relação da durona Dilma com as sempre desconfiadas forças progressistas.
De resto, temos o julgamento do mensalão, que paradoxalmente também ajuda o governo Dilma, porque desvia atenção dos pitbulls midiáticos, que a partir de agora acompanharão cada notícia com dentes pra fora e baba escorrendo da boca. As notícias podem prejudicar o PT, mas não respingam em Dilma, nem em seus ministros, que não têm nada a ver com o escândalo de caixa 2 das campanhas de 2002.
Por outro lado, temos a CPI do Cachoeira, que corresponde a um câncer nos órgãos vitais da oposição, visto que o vilão número 1 era o seu principal campeão ético, Demóstenes Torres; além de envolver a sua maior arma, a revista Veja, cujas denúncias contra o PT eram forjadas nos porões da máfia do bicho.
Quanto às eleições, os prognósticos – por mais que a mídia tente confundir as análises – são de crescimento do núcleo de esquerda da base aliada: PT, PSB, PDT, PCdoB, devem crescer, e a oposição, declinar. O PMDB deve crescer apenas onde decidiu se aliar de maneira mais explícita com partidos de esquerda, como no Rio de Janeiro.
O PT conseguiu dar um contragolpe genial em Belo Horizonte; mesmo que não ganhe, conseguirá certamente eleger um bom número de vereadores e sustar o avanço eleitoral do aecismo em Minas Gerais. Em Recife, a vantagem de Humberto Costa em Recife me parece difícil de ser superada.
Em São Paulo, Haddad continua estagnado, mas há uma enorme expectativa para quando começar a propaganda de TV, porque o PT conseguiu um bom tempo, e somente quando o petista vencer a barreira do anonimato será possível avaliar concretamente o seu potencial de voto. De qualquer forma, temos a mesma situação de BH; mesmo que o PT perca, conseguirá eleger um bom número de vereadores; e provavelmente aumentará sua presença nas cidades no entorno da capital, e em todo estado de São Paulo.