Tereza Cruvinel, uma excelente jornalista, escreveu a seguinte nota hoje em sua coluna, publicada em alguns jornais:
“A crise, este fantasma
Uma notícia boa: as exportações brasileiras começaram a se recuperar. Uma péssima notícia: a crise começou a afetar o nível de empregos. Segundo o Caged/Ministério do Trabalho, os empregos com carteira assinada caíram 25,9% no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado.”
Acontece que ela cometeu um erro crasso de interpretação, o mesmo que venho apontando exaustivamente há meses. O nível de emprego é medido pela taxa de desemprego, não pelo saldo de empregos. Conforme o desemprego declina, cai também, segundo a lógica mais elementar, a geração de emprego. A razão é tão simples que acho até constrangedor assistir pessoas tão inteligentes falando tanta besteira: se há menos mão-de-obra ociosa, os saldos serão menores. Em outros termos: se todo mundo está empregado, não tem como haver saldo.
Grandes saldos de emprego só acontecem em momentos de desemprego alto. O Brasil experimentou grandes saldos de geração de emprego nos últimos 10 anos, porque o nosso desemprego era relativamente alto. Agora que chegou a 5,8%, os saldos se reduziram, porque estamos chegando perto do emprego pleno.
Não estou dizendo que o Brasil é imune à crise econômica da Europa. Tampouco nego que nossa indústria enfrenta sérias dificuldades para competir com suas concorrentes na Ásia. Só estou apontando o óbvio: os saldos de geração de emprego vão continuar caindo na medida em que o desemprego se mantiver baixo. Não é, portanto, uma notícia negativa. Se o desemprego crescer, aí então poderemos dizer que os saldos não estão sendo suficientes para acolher a chegada de novos contingentes de trabalhadores. Por enquanto, todavia, o desemprego vem caindo, de maneira que o declínio do saldo tem razões positivas.
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