(Ilustração capa: Basquiat)
A imprensa amanheceu hoje com manchetes garrafais sobre a cassação de Demóstenes Torres. Colunistas, secretários de redação, editorialistas, todo mundo deu pitaco. Chamou-me a atenção, contudo, a interpretação da Folha, expressa em dois textos, um de Alan Gripp, secretário-assistente de redação, outro de Janio de Freitas, colunista.
Ambos amenizam descaradamente os crimes de Demóstenes Torres, e abribuem sua cassação antes à uma espécie de vingança corporativa do Senado.
Em sua análise, Alan Gripp diz o seguinte:
O que fica é a conclusão de que este foi um caso diferente. E que o Senado não teve um arroubo ético. Parlamentares mais enrolados que ele continuarão a se salvar.
Longe de mim pretender que não haja outros bandidos no Senado brasileiro, mas a interpretação de Gripp é leviana. Torres foi cassado porque havia áudios, documentos e relatórios da Polícia Federal mostrando que Demóstenes era um despachante de luxo de Carlinhos Cachoeira. O mafioso menciona inclusive o pagamento de milhões de reais de propina para o senador. “O milhão do Demóstenes”, diz Cachoeira a um de seus secretários.
Janio de Freitas, por sua vez, tem se caracterizado por uma estranha defesa do Clube Nextel. Em sua coluna de hoje, volta a se posicionar em favor do grupo, ao amenizar as acusações contra Demóstenes.
Freitas faz uma bizarra defesa de Demóstenes, atacando inclusive o relator do seu processo de cassação. E ataca mais ainda Renan Calheiros, que não estava sendo julgado.
Diz Freitas, defendendo o senador bandido:
Não há dúvida de que no rol de acusações a Demóstenes Torres há afirmações infundadas, e não por equívoco.
(…)
Ainda assim, o relatório do senador petista Humberto Costa foi mais político do que objetivo. E com erros de informação e afirmação inadmissíveis, como Demóstenes Torres demonstrou.
Eu gostaria de saber que erros foram esses. Entretanto, mesmo que o relatório de Costa tenha erros, quem acompanhou o escândalo Cachoeira desde o início sabe que as provas de que Demóstenes era um bandido a serviço de outro bandido são fartas, múltiplas e estas sim, incontestáveis.
Inadmissível, a meu ver, é ver um jornalista probo e respeitável como Janio de Freitas defendendo um crápula nojento como Demóstenes Torres, que recebia dinheiro de Carlinhos Cachoeira, e integrava um esquema mafioso, envolvendo a Veja, a Delta e o jogo do bicho em Goiás.
Curiosas também são as asserções sobre o reflexo da cassação de Demóstenes na CPI do Cachoeira. Em editorial, O Globo diz que a cassação “pressiona a CPI do Cachoeira”, enquanto a Folha diz, com base em fontes anônimas do Congresso, que a CPI “tende a perder força”. A matéria não explica o porque, todavia. É uma asserção misteriosa.
Também senti falta, nos jornalões, de uma reflexão sobre as consequências partidárias da cassação de Demóstenes. Com a queda do senador, o DEM – e por tabela toda a oposição – sofre mais um duro golpe.
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O Banco Central decidiu ontem reduzir os juros básicos do Brasil em 0,5%, levando-os a 8%, a menor da taxa da história. Descontando a inflação, a taxa fica em 2,3%.
Uma das consequências mais importantes da queda determinada ontem pelo BC é que ela permitirá uma economia superior a R$ 30 bilhões ao governo federal, dinheiro que era gasto com juros, e que poderá ser aplicado em investimentos.
E pensar que a taxa básica chegou a 45% nos “bons tempos” tucanos…
A queda nos juros, somada à entrada de grande volume de recursos por parte de partidos e candidatos, para financiar as eleições deste ano, deverão promover uma choque positivo na economia deste segundo semestre.