Por Luis Carlos Azenha, no Viomundo
Venezuela acusa governo paraguaio de usar vídeo manipulado para dar golpe midiático
publicado em 4 de julho de 2012 às 3:15
No Estadão e na Folha, a previsível ofensiva midiática do Paraguai ‘esconde’ a versão da Venezuela
Deu na Folha, com grande destaque (na capa da home com o título de Paraguai exibe vídeo de chanceler venezuelano com militares)
A ministra de Defesa do Paraguai, María Liz García, divulgou nesta terça-feira um vídeo com imagens da reunião que o chanceler da Venezuela, Nicolás Maduro, manteve com comandantes militares paraguaios, supostamente no último dia 22, a duas horas da aprovação da destituição de Fernando Lugo.
Em breve entrevista coletiva, a ministra disse que recebeu ordens do presidente Federico Franco, que sucedeu Lugo neste mesmo dia, de entregar à imprensa cópias da gravação, que mostra os participantes do encontro entrando e saindo do local onde ocorreu a reunião.
María Liz acusou há alguns dias Maduro de incentivar as Forças Armadas paraguaias a se rebelarem contra a cassação de Lugo. “Tenho certeza que vão entregar [cópias do vídeo] às instâncias correspondentes”, disse hoje a ministra em referência ao Ministério Público.
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Na própria Folha, mas sem link com a denúncia da capa:
A reunião entre o chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, e militares paraguaios, que aconteceu no dia da destituição de Fernando Lugo e foi mostrada em vídeo pelo novo governo do país nesta terça-feira, teve a presença de autoridades de outros países da região e do secretário-geral da Unasul, Alí Rodríguez.
As imagens na íntegra, reveladas pelo jornal “Última Hora”, mostram a presença da ministra de Relações Exteriores da Colômbia, María Ángela Holguín, e do Equador, Ricardo Patiño, além do chefe do bloco sul-americano, que também entraram na sala do encontro com integrantes das Forças Armadas paraguaias.
O vídeo mais longo, com 16 minutos de duração, se opõe à versão editada inicialmente apresentada pelo governo de Federico Franco de que Maduro teria se reunido sozinho com os comandantes militares e que foi usada pela administração para acusar o chanceler venezuelano de tentar a insurgência contra o novo governo.
A rede de televisão internacional Telesur, financiada pelo governo de Hugo Chávez, apresentou a nova versão e acusou a emissora paraguaia Telefuturo de “manipulação das imagens” pelo uso do vídeo editado. O chanceler disse que a acusação do governo paraguaio “não tem apoio na realidade”.
“Essas coisas que disse essa pessoa de um governo ilegítimo como o que surgiu desse golpe de Estado têm o aspecto político e moral de pessoas que acabam de dar um golpe de Estado e tentam acusar outro de dar golpes e contragolpes”.
PS do Viomundo: Como esclareceu a Telesur, a Unasul cumpriu uma agenda de reuniões em Assunção, no dia 22.06.2012. Nove horas horas, Partido Colorado; 10 horas, presidente do Senado; 11 horas, partido de oposição Pátria Querida; 12 horas, vice-presidente Federico Franco. Em seguida, antes do afastamento do presidente Fernando Lugo, se reuniu com vários integrantes do governo (as imagens mostram a entrada das pessoas para esta reunião), inclusive os militares. Mas o texto da Folha sugere que o encontro teria sido apenas com integrantes das Forças Armadas.
PS do Viomundo2: Eu acho que vi o Hugo Chávez escondido embaixo daquela cadeira. O jeito é despachar o perito Molina para averiguar o vídeo, com as passagens pagas pelo parceiro do governo paraguaio no Brasil: o PSDB.
PS do Viomundo3: A Telesur e o jornal paraguaio Ultima Hora identificaram civis ligados ao governo de Fernando Lugo que participaram do encontro com a comitiva da Unasul: Miguel Rojas, ex-secretário de Lugo, o senador Sixto Pereira, o dirigente do partido pelo qual Lugo se elegeu, Tekojoja, Aníbal Carrillo Iramain, Marcial Congo e a ex-ministra da Saúde, Esperanza Martínez.
O vídeo que a Folha não mostrou:
Guilherme Scalzilli
06/07/2012 - 13h24
Os nossos golpistas
É necessária muita desfaçatez para negar que a deposição de Fernando Lugo foi um golpe de Estado. Não bastasse o escandaloso rito sumário do Congresso paraguaio e a conveniência pré-eleitoral do arranjo, sabemos agora que a conspiração estava em curso desde 2009, pelo menos, sob os auspícios do governo dos EUA. Protagonizada por notórios delinqüentes políticos locais.
Os argumentos favoráveis à “normalidade” da tramóia são toscos demais para um debate sério. Qualquer arbítrio pode furtar retórica de normas constitucionais, como a “defesa da segurança nacional” que justificou a ditadura militar brasileira e tantas outras pelo mundo. Ainda que houvesse base técnica para as denúncias contra Lugo, ela jamais suplantaria o direito de defesa do presidente e a integridade do seu mandato.
Os defensores do golpe não parecem notar que suas desculpas são imitações ruins das utilizadas pelos governos sul-americanos que eles próprios acusam de autoritários. Ignorando o fato de que Hugo Chávez, Evo Morales e Cristina Kirchner foram eleitos e desfrutam de grande respaldo popular, cada comparação indevida chama atenção para esses humores antidemocráticos que abraçam a legalidade apenas quando serve a projetos obscuros de poder.
A direita brasileira vê em Lugo o adversário ideal, impopular e pusilânime, que o teatro sufragista manipula e descarta ao sabor das conveniências. É tudo que Lula poderia ter sido e não foi. Nos primeiros anos de governo petista, a mídia demotucana urdiu silenciosamente sua ruína, certa de que chegaria o momento de esmagá-lo em circunstâncias muito parecidas. O julgamento do chamado “mensalão” é uma herança daquele período nebuloso e símbolo máximo da frustração dos nossos conspiradores.
Que se exponham, portanto, corroborando o que sempre dissemos a seu respeito.
http://guilhermescalzilli.blogspot.com.br/