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(Ilustração capa: Jonathan Meese)
Agora foi pra valer. A queda na produção industrial, segundo o IBGE, trouxe más notícias em quase todos os fronts. Caiu inclusive a produção de bens de capital, que vinha apresentando dados positivos nas variações mensais deste ano.
O número mais triste, a meu ver, foi a interrupção do processo de recuperação da indústria de bens de capital. Ela vinha crescendo mês a mês este ano, embora ainda abaixo do ano passado. Em maio, porém, dá um soluço. Segundo o IBGE, a causa é a indústria de caminhões, que ainda sofre com a tal grande reforma em suas fábricas, para adaptar seus modelos ao novo padrão ambiental internacional. Suponho que os grandes compradores também devem ter suspendido seus pedidos, à espera que os novos modelos estejam prontos. O pacote do governo para o setor de caminhões é o mais recente de todos, foi lançado mês passado. Serão sentidos na produção industrial somente no segundo semestre, ou talvez só no ano que vem.
Entretanto, façamos uma análise tranquila, sem histeria apocalíptica. Nos últimos meses, a indústria vem sofrendo no mundo inteiro, dos EUA à China, então não se trata de um problema “brasileiro”. É aquela velha história: as pessoas não páram de comer, ou de pagar a taxa de luz, mas deixam de trocar o carro, postergam a aquisição de mais um celular, e cancelam a compra de uma tv. Como a indústria é o setor da economia mais globalizado, a crise o atinge em qualquer país. Então precisamos identificar, na queda da produção industrial brasileira, o que é um efeito passageiro da crise internacional, o que é tendência doméstica, fruto de deficiência em competitividade (mistura de incompetência empresarial e falta de infra-estrutura pública), e o que é consequência da má gestão da macro-economia por parte do governo federal.
Pra início de conversa, vamos olhar setor por setor, na variação mensal. É importante focar a variação mensal, mais do que a variação sobre o ano anterior, para identificar movimentos recentes.
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Abaixo da tabela, mais comentários.
Vamos olhar, primeiramente, os produtos que registraram as piores queda, puxando o índice geral para baixo:
Comentemos um por um:
- Material eletrônico, uma pena que tenha havido queda. Provavelmente aconteceu em virtude da crise financeira internacional, que derrubando os preços desses produtos e forçando grandes empresas a despejá-los em nosso mercado. A lógica é assim: como americanos e europeus estão com pouco dinheiro para trocar de celular e notebook todo ano, as empresas estão baixando os preços. Com isso, derrubam a já parca produção brasileira desses produtos. O lado positivo é que a gente tem pouca indústria nessa área, e o brasileiro está pagando menos.
- Calçados: aí é China pura. Calçados asiáticos de qualidade cada vez melhor e a preços bem mais baixos que os similares brasileiros. O ponto positivo é que indústria de sapato não é estratégica para o país.
- Veículos automotores: é a principal indústria de transformação no país e a mais estratégica. Os dados refletem, contudo, a queda no consumo interno no início do ano. O consumidor já voltou a comprar carro em junho, e esses dados talvez se revertam nos próximos meses. De qualquer forma, é preciso rediscutir o papel da indústria de autopeças no país. Temos que tirar o foco dele e redirecionar para a indústria ferroviária, que tem grande futuro.
- Alimentos: com essa aí eu não me preocupo. A queda seguramente é pontual, ou sazonal. O Brasil é o celeiro do mundo, e o brasileiro come cada vez mais e melhor. Aliás, o setor tem que se adaptar às mudanças para melhor dos hábitos dos brasileiros. Temos que comer menos biscoito, e porcarias do tipo, por exemplo, e isso naturalmente afetará algumas indústrias.
- Celulose: esse é um setor muito volátil, que envolve fatores ambientais. Nem sempre a queda na produção é mau sinal. O uso de papel no mundo está sendo rediscutido.
- Metalurgia básica, uma pena que tenha caído. Mas parece que há uma retração mundial no setor de metalurgia básica. De qualquer forma, é um setor com muito futuro no país, visto possuirmos as maiores jazidas de ferro do mundo. É um setor que ainda tem muito potencial de crescimento no país, e vem recebendo fortes investimentos. Não me preocupa muito.
- Produtos de metal: compensa a queda na metalurgia básica. Nos lembra que a siderugia brasileira tem que entrar numa segunda fase, mais avançada. E está entrando.
- Mobiliário: compensa um pouco a queda na indústria de celulose.
- Borracha e plástico: uma indústria importante, estratégica. Bom que está crescendo.
- Equipamentos médicos: outra indústria extremamente avançada. Muito bom que tenha apresentado resultados positivos em maio, após os recuos de abril e março.
- Madeira: aumento também compensa queda na indústria de celulose. É uma indústria ambientamente complicada, mas muito importante para o Norte brasileiro.
- Máquinas para escritório e equipamentos de informática: é o segundo mês seguido de crescimento. Trata-se de uma indústria fortemente estratégica, embora também ainda pequena no país. Compensa a queda nos aparelhos de comunicação.
- Têxtil: a segunda alta consecutiva compensa a queda no setor de calçados, e mostra que há empresários descobrindo como reverter a seu favor a nova configuração mundial.
- Máquinas e equipamentos: setor mais estratégico de todos. Cresceu substancialmente em maio, é a melhor notícia. Merecia inclusive manchete num jornal: SETOR DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS RESISTE!
Conclusão: a análise detalhada dos números sempre nos tranquiliza, porque embora ela não esconda a gravidade da situação, ela nos esclarece sobre que setores exatamente, e porque, estão apresentando problemas de crescimento. Como venho dizendo desde o início do ano, os números de produção industrial só vão trazer boas notícias a partir de julho. Em junho, talvez teremos mais uma queda, mas a partir de julho, ou melhor, em agosto (em julho, há indústrias que dão férias aos funcionários), há previsão de uma forte recuperação do setor.
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