Neogolpistas em crise

[s2If !current_user_can(access_s2member_level1) OR current_user_can(access_s2member_level1)]

(Ilustração capa: Edward Munch, Gólgota)

Os jornalões de hoje amanheceram perplexos com a informação de que foi a presidenta Dilma em pessoa quem bancou a entrada da Venezuela no Mercosul.

A informação, porém, é confusa. Veio do chanceler do Uruguai, que está totalmente desorientado. Pelo que entendi, ele tem ligações com a oposição e a direita, e está tentando vender a teoria de que a culpa é da Dilma para salvar o bom nome de Mujica junto à mídia antichavista de seu país. Como Dilma é mais forte, e ninguém tem coragem de atacá-la, botem a culpa nela.

A decisão de incluir a Venezuela foi consensual entre os mandatários do Mercosul. Dilma, Cristina e Mujica decidiram juntos. O resto é fofoca.

[/s2If]
[s2If !current_user_can(access_s2member_level1)]
Para continuar a ler, você precisa fazer seu login como assinante (no alto à direita). Confira aqui como assinar o blog O Cafezinho.[/s2If]

[s2If current_user_can(access_s2member_level1)]

O Estadão publicou editorial hariovaldiano, em tom quase histérico, dizendo que o golpe no Paraguai não foi golpe, mas a entrada da Venezuela no Mercosul, aí sim, foi golpe.

Entretanto, o radicalismo do Estadão beira o ridículo, porque a entrada da Venezuela possibilitará a realização de milhares de negócios lucrativos para os empresários brasileiros, que por isso mesmo são em sua maioria favoráreis  (com exceção de um ou outro fanático de extrema direita, que põe seu fanatismo acima dos negócios). Chávez está de passagem. A parceria com a Venezuela é uma viagem de longa distância.

Note-se ainda que o Estadão, infantilmente, diz que o governo não usou a palavra “golpe”. Ora, o Itamaraty não fala palavrão: usou a palavra “ruptura da ordem democrática”, que é rigorosamente a mesma coisa.

Outro assunto muito abordado pelos jornalões hoje foram as divergências entre PSB e PT. A oposição midiática sonha com a implosão da base aliada, única maneira de criar uma brecha para que um candidato do PSDB tenha chances mínimas de vitória em 2014.

Folha e Globo vieram com gráficos mostrando o declínio das parcerias entre os dois partidos. Entretanto, o cálculo é inflado pelos acontecimentos intempestivos de Recife, Fortaleza e Belo Horizonte, onde havia um acordo de parceria, que explodiu a partir de problemas de ordem local, e não por divergências a nível nacional.

Os gráficos são bonitos:

Merval Pereira, que há um tempo falava descaradamente em possível parceria entre Aécio Neves e Eduardo Campos, agora já admite que a ideia está longe da realidade (como ficcionista, ele tem liberdade para ventilar qualquer tese absurda, sem precisar se justificar em seguida). Mas também tenta botar lenha na fogueira criada com os recentes atritos entre PSB e PT. O título de sua coluna de hoje chega a ser tosco (em sua mal disfarçada tentativa de implodir uma aliança fundamental para o governo Dilma): PSB e PT, pouco a ver.

Os gráficos, além disso, pecam por mostrar apenas capitais. Não saberemos se a parceria entre PT e PSB cresceu ou caiu sem uma observação das alianças em todos os municípios brasileiros.

*

Também temos hoje farta manipulação do noticiário econômico, com a venda de desgraças que não existem. Por exemplo, todos os jornais vieram com a notícia de que a “balança tem o menos saldo em 10 anos“. É verdade, mas é possível contar mentiras dizendo a verdade. Basta descontextualizar. Eles não dizem, por exemplo, que a corrente de comércio quadruplicou em 10 anos.

Vamos conferir diretamente na fonte dos dados, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC).

Em primeiro lugar, observem o desempenho do comércio exterior nos últimos 12 meses:

Acumulado de doze meses (Julho-2011/Junho-2012) Em períodos de doze meses, as exportações somaram US$ 254,951 bilhões. Sobre o período julho/2010-junho/2011, quando as exportações atingiram US$ 231,031 bilhões, houve crescimento de 10,4%, pela média diária. As importações totalizaram US$ 231,033 bilhões, aumento de 12,3% sobre o mesmo período anterior, de US$ 205,805 bilhões, pela média diária. O superávit comercial, em doze meses, acumula cifra de US$ 23,918 bilhões, valor 5,2% abaixo de equivalente período anterior (US$ 25,226 bilhões). A corrente de comércio cresceu em 11,3%, pela média diária, de US$ 436,836 bilhões para US$ 485,984 bilhões.

Ou seja, as exportações brasileiras cresceram 10% nos últimos 12 meses e bateram novo recorde histórico. Só que as importações cresceram ainda mais, e o saldo final, US$ 24 bilhões, ficou 5% abaixo do registrado no período anterior. Nada demais. Uma nação cuja sociedade se desenvolve e ganha poder aquisitivo, necessariamente, verá suas importações crescerem. É um processo inevitável e natural. Pelo contrário, é doentio pretender que os saldos comerciais do Brasil fiquem batendo recordes ano a ano, pois isso só aconteceria se as importações parassem de crescer, o que por sua vez só poderia se dar se houvesse uma queda brutal do poder aquisitivo da população.

Vejamos os gráficos com o desempenho no período Jan/Jun. Fazemos alguns comentários abaixo dos gráficos.

 

De fato, o superávit caiu para US$ 7 bilhões, meno4 desde 2003. Mas veja a diferença: em Jan/Jun 2003, nossas exportações totalizaram US$ 33 bilhões. Em 2012, atingiram US$ 117 bilhões.  O que gera emprego não é superávit, é exportação.

 

 

A corrente de comércio simplesmente soma exportação e importação. É um número importante para vermos o peso do comércio exterior no mundo. Quanto maior a corrente de comércio, maior a participação do país no comércio internacional. Pode-se ver, por aí, que o Brasil multiplicou por quatro a sua corrente de comércio desde 2003.

 

 

Agora, uma tabela importante para fazermos uma análise qualificada.

 

Observe na tabela acima que a exportação de manufaturados foi que a que apresentou a menor queda, somente 1%, em Jan/Jun 2012, elevando com isso a sua participação no total das exportações brasileiras para 36,9%, contra 36,7% em 2011.

 

 

Na tabela acima, repare que o item Combustíveis e lubrificantes foi o principal responsável pelo aumento das importações. A importação de petróleo e derivados cresceu de US$ 16 para US$ 18,8 bilhões em Jan/Jun 2012.  Ou seja, o superávit caiu por que estamos consumindo mais combustível.

Vamos agora ver exatamente que setores manufaturados registraram queda ou crescimento em Jan/Jun 2012.

Observe que a exportação de aviões cresceu 40% em 2012, atingindo US$ 2,06 bilhões em Jan/Jun 2012.

Quem está sofrendo ainda muito com a concorrência estrangeira é o setor de calçados, cuja exportação caiu 21% no primeiro semestre deste ano.

A exportação de plataformas de perfuração também sofreu uma queda abrupta, provavelmente em virtude do cancelamento de pedidos, reflexo da crise internacional.

Houve queda também na exportação de automóveis, autopeças e motores para veículos, da ordem de, respectivamente, 3,7%, 4,4% e 5,9%. O mundo está em crise e é normal que haja retração no setores que dependem de produtos de alto valor agregado.

De qualquer maneira, o setor de autopeças não pode reclamar. As medidas do governo começaram a surtir efeito e as vendas em junho subiram 22%.

*

Queria comentar sobre a queda na produção industrial. Também há um tanto de manipulação nesses números. Mas fica para amanhã.

[/s2If]

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
Related Post

Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.