Análise da pesquisa CNI-Ibope

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Vamos analisar a última pesquisa CNI-Ibope, divulgada nesta sexta-feira. Eu recortei e editei a seguinte tabela, do relatório completo, com a popularidade da presidente segmentada por faixa de renda e regiões.

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O dado que mais me chamou a atenção é a força de Dilma junto aos mais ricos. Na faixa que ganha mais de 10 salários, ela tem 84% de aprovação, contra 77% de aprovação média em todos os níveis de renda.

Com o salário mínimo em torno de R$ 600, essa faixa inclui famílias cuja renda mensal está acima de R$ 6 mil por mês. Hoje em dia, nenhuma família é rica ganhando até R$ 8 mil por mês. Tem uam vida confortável, de classe média, mas considerando que uma creche particular pode custar perto de R$ 1.000 por mês, e que somente a taxa de condomínio de um prédio razoável, numa cidade grande, costuma ficar acima de R$ 400 ao mês, vê-se logo que esta classe média está longe de ter uma vida folgada.

Isso sem contar os custos de plano de saúde, educação, lazer, estética, que todos dispararam.  A famosa “nova classe média” também integra essa faixa de renda na franja superior das pesquisas.

Seria injusto, por outro lado, afirmar que Dilma tem força entre os ricos, mas não entre os pobres. Ao contrário, a popularidade da presidenta subiu em todas as faixas de renda, e se apresenta consolidada de maneira transversal. Note que ela tem 82% de aprovação junto aos que ganham até 1 salário mínimo.

Entretanto, a aprovação de Dilma junto à franja superior de renda na pesquisa me parece o dado político mais interessante, porque sugere uma image positiva consolidada junto aos “formadores de opinião” – e não me refiro aqui ao conceito antigo, que associava “formadores de opinião” a meia dúzia de colunistas de jornal. Refiro-me ao grande contingente de pessoas influentes nos meios jurídicos, legislativos, empresariais, sociais, acadêmicos, e inclusive nas redes sociais.

Não sei até que ponto Dilma e seus assessores planejaram isso, mas o fato é que ela conseguiu manter a popularidade de Lula junto aos pobres, e conquistou setores de classe média que, por alguma razão (inclusive por preconceito), não engoliam o barba. Essa constatação é confirmada por outro dado da mesma pesquisa:

Observe que entre os que ganham mais de 10 salários encontra-se o maior percentual dos que acham que o governo Dilma está sendo “melhor” que o governo Lula: 22%. Ainda nessa faixa, somente 16% acham que o atual governo é “pior” que a gestão anterior, o menor número dentre todas as faixas de renda.

Alguns analistas já apontaram, portanto, que Dilma será um dos cabos eleitorais mais influentes nas eleições municipais deste ano, com destaque para São Paulo, onde poderá convencer a desconfiada e conservadora classe média paulista a votar no candidato do PT.

Repare uma coisa na tabela: entre os que ganham mais de 10 salário, 18% qualificaram o governo de Ótimo, e 45% lhe deram nota Bom. Curiosamente,  é o mesmo entusiasmo dos que ganham até 1 salário, que deram 19% de Ótimo e 45% de Bom.

A forte popularidade de Dilma junto à classe média lhe proporciona uma saudável blindagem contra as acusações mais propriamente ideológicas, que respingam na presidente em função do posicionamento conservador de setores influentes da mídia.

Por exemplo, o Mercosul acaba de aprovar a entrada da Venezuela como membro pleno, aproveitando o fato de que o Paraguai está de castigo por sua recaída bananeira. Jornalões e seus exército de pit-bulls da caneta fizeram pesados ataques à diplomacia brasileira, xingada de “bolivariana”. A pecha não pega na Dilma. Os cães ficam a ladrar sozinhos na pradaria.

O resultado, naturalmente, é o enfraquecimento da oposição conservadora, como DEM e PSDB.

Dilma tem conseguido passar uma imagem forte de estadista séria, criando um novo padrão para governos de esquerda, ancorado numa política macro-econômica rigorosa mas comprometida com o desenvolvimento e livre dos exagerados ortodoxismo neoliberais.  Seus esforços para modernizar o sistema previdenciário, evitando que o Brasil experimente as mesmas dores de cabeça que hoje atormentam a Europa, e o não dogmatismo ideológico demonstrado com a concessão de aeroportos à iniciativa privada, caracteriza a formatação de uma esquerda cosmopolita, moderna, disposta a mesclar a energia empreendedora do capitalismo à segurança social e trabalhista da social-democracia e do socialismo.

Além, é claro, da personalidade profundamente democrática de Dilma, característica que é muitas vezes (como aconteceu com Lula) com pusilanimidade no trato com a mídia.

As ideologias não acabaram. Elas simplesmente continuam o que sempre foram: apenas ganham concretude e objetividade no confronto com a realidade, ao se converterem em políticas públicas. Aí sim, elas são lapidadas. Tornam-se irreconhecíveis, às vezes para aqueles que as idealizaram e as sonharam em primeiro lugar, mas se analisarmos seu DNA, encontraremos seus  princípios intactos.

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Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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