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Analisando os números do PIA (Pesquisa Anual da Indústria), divulgados hoje pelo IBGE, fiquei chocado com a mediocridade da matéria da Folha (abaixo), sobretudo o título. O teor da matéria, se você ler com atenção, é positivo. Leia a reportagem prestando atenção nos destaques em negrito. Em seguida, comento.
Crise de 2009 eliminou mais de 10 mil indústrias, diz IBGE
MARIANA CARNEIRO
DE SÃO PAULODez mil e sete fábricas foram extintas em 2009, pior ano da crise mundial, segundo dados da PIA (Pesquisa Anual da Indústria), divulgada nesta quinta-feira (28) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Naquele ano, a economia brasileira encolheu 0,3%, afetada pela crise nos EUA que se espalhou pelo mundo.
Em 2010, a economia do Brasil se recuperou. Mas, apesar de ter crescido de 7,5% –a mais alta em mais de 20 anos– naquele ano, foram criadas apenas 671 indústrias –resultado insuficiente para compensar as perdas da crise.
O Brasil encerrou 2010 com 299.753 fábricas, 3% a menos que em 2008.
Juntas, elas obtiveram uma receita líquida de R$ 1,9 trilhão em 2010, o que representa um aumento nominal (sem considerar a inflação) de 17% em relação a 2009. Em relação ao período pré-crise, a receita líquida cresceu 11% (sem considerar a inflação).
A receita obtida com a venda dos produtos fabricados pela própria indústria respondeu por 85% dos ganhos do setor, mas é crescente a participação da venda de produtos fabricados por outros e apenas revendidos pelas indústrias. Em 2010, esses ganhos responderam por 7,5% da receita total do setor. Em 2008, essa fatia era de 6,6%.
EMPREGO
As empresas do setor industrial empregavam 8,3 milhões de funcionários em 2010. Os empregos e os gastos com pessoal são os únicos dois itens que seguiram em crescimento, mesmo em 2009.
Em relação ao pré-crise (2008), os gastos com pessoal aumentaram em termos nominais 23%. Nesse mesmo período, os empregos criados cresceram 6,9%.
O investimento cresceu um pouco menos. Entre 2008 e 2010, o avanço foi de 5,25%.
NOVAS UNIDADES
O IBGE também detectou a ampliação dos gastos com a compra de terrenos e a construção de novos edifícios entre as maiores indústrias (com mais de 30 funcionários).
Essa despesa passou de 12,5% dos investimentos em 2008 para 15% em 2010. No mesmo período, a fatia dos gastos com a compra de máquinas e equipamentos encolheu de 51,9% para 47,4%.
Segundo o economista Rodrigo Lobo, da coordenação da indústria do IBGE, esse pode ser um indicativo de que, com a capacidade perto do limite, as empresas passaram a focar aportes para a criação de novas unidades produtivas.
Releiam o último parágrafo. Ele é que traz novidade, então ele é que deveria ser o título, e não uma evocação de um problema ocorrido há quatro anos!
Estou estudando com bastante calma os números do IBGE. Já deu tempo de preparar algumas tabelas e gráficos, que publico abaixo:
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Repare que houve, de fato, uma retração forte em 2009, mas o ano anterior havia registrado um aumento muito grande do número de empresas. Importante observar o crescimento do número de indústrias desde 2007.
A própria reportagem traz esses números, mas não lhes dá o destaque merecido. Observe que o pessoal ocupado nas indústrias vem crescendo de maneira firme desde 2007. Cresceu inclusive em 2009, quando há fechamento de empresas industriais, o que põe em xeque o sentido do título negativo da matéria.
Se cresceu o número de gente ocupada, é porque o fechamento de empresas industriais não foi um problema tão grave. Deve-se olhar a evolução da indústria não pela quantidade de CNPJs mas pela quantidade de empregos e pela receita líquida do setor. Em 2010, havia 8,38 milhões de pessoas trabalhando em empresas industriais, aumento de 12% sobre 2007. Não é um número que indique alguma “desindustrialização”.
Fiz também uma tabela com o desempenho das indústrias por setores. Esta tabela traz informações fundamentais para entendermos a evolução da indústria brasileira sem superficialismo ou leviandade. Comento em seguida.
Um dos problemas mais graves nas análises sobre o problema da indústria brasileira, a meu ver, é a falta de imaginação. O sujeito pega um número frio, que mostra o fechamento de tantas fábricas durante certo período, e faz uma análise, às vezes longa, chata e inútil, com base naqueles dados. Temos que pensar o seguinte. Por exemplo, se a população brasileira reduzir o consumo de biscoito recheado, uma bomba contra a saúde (provoca obesidade, estraga os dentes, e não alimenta), centenas de fábricas irão fechar. É uma má notícia? É para os alguns milhares de trabalhadores que labutavam naquelas fábricas, mas é uma excelente notícia para os duzentos milhões de brasileiros que a partir de agora adquiriram hábitos alimentares mais saudáveis.
Olhemos a tabela acima. Confiram. Ela traz o valor de transformação, ou seja, contabiliza apenas o valor obtida com produção concreta, e não com importação ou contratação de serviços de terceiros. Observe que a indústria extrativa produziu R$ 65 bilhões em 2010, enquanto a indústria de transformação produziu R$ 758 bilhões.
A receita líquida (que não está na tabela) da indústria de transformação ficou em R$ 1,85 trilhão, contra R$ 88,27 bilhões para as indústrias extrativas. Esses números negam as acusações de que o Brasil seja uma economia ancorada em produtos básicos. A agropecuária e a mineração são tremendamente importantes para o país, sobretudo na exportação, mas o Brasil tem uma indústria forte.
Confiram os setores. Repare que depois do refino de petróleo, o setor de autopeças é o mais importante do país, produzindo R$ 83,8 bilhões em 2010, alta de 23% sobre o ano anterior.
Eu destacaria o setor de máquinas e equipamentos, por sua importância estratégia. Observe que ele e a siderurgia (outro de importância estratégica) foram os setores que mais cresceram em 2010: acima de 34%.
Conclusão
Os números do PIA terminam em 2010, e o bicho começou a pegar mesmo em 2011, com recuperação este ano. Mas eles nos ajudam a olhar as dificuldades da indústria brasileira com pé no chão.
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