DOMINGO, 17 DE JUNHO DE 2012
Por Luiz Cezar, no Brasil que vai
Houve um dia em que a milenar sabedoria chinesa foi aplicada à arte da guerra e o resultado foi um conjunto de recomendações para a vitória sobre o inimigo no campo de batalhas inspirada na interação das energias opostas e complementares que permeiam todos os acontecimentos sobre a terra.
Quem compilou esses ensinamentos foi Sun Tzu, ainda no tempo dos “reinos combatentes” que dividiam em guerras fratricidas os reinos da China durante o século quinto antes de cristo e ainda antes que fosse conquistada a unificação no século segundo a.c. durante a dinastia Hu.
Transformada em obra de referência de doutrina militar no século segundo anterior ao primeiro milênio, os escritos de Sun Tzu inspiraram Maquiável na redação de texto homônimo que abordava as premissas assentadas no taoísmo do texto chinês do ponto de vista do pensamento renascentista de contestação à moral cristã do fim da idade média.
Vem daí talvez a associação dos meios propugnados por Maquiável com o que se convencionou chamar de “falta de moral” e de suas recomendações para a condução da guerra com algo não afeito ao requisito de pureza que deve guardar os fins ultimados pelas batalhas.
Pois com Sun Tzu não era assim. Sua visão da guerra não distinguia entre os meios e os fins porque sua visão da existência humana não se apoiava na visão dualística de Sócrates que distinguia entre o representacional e o real – o que quer que isso pudesse significar – na vida do homem.
Para Sun Tzu a condução da guerra era governada por 5 princípios e o primeiro deles era o caminho, ou o Tao. Exatamente o campo das representações morais e dos valores que guiavam a aceitação pelos povos dos atos de guerra. Nada que estivesse em desacordo com a sensibilidade do homem comum teria chances de vingar enquanto movimento bélico nos campos de batalha.
Guardavam relação com o Tao – a que estavam submetidos povos, guerreiros e generais – outros 4 princípios exteriores à sensibilidade humana a que deveria dar observância o chefe em armas. Eram eles o clima, o terreno, o comando e a disciplina. O clima dizia respeito ao quando guerrear, o terreno a que em condições guerrear e o comando e a disciplina às habilidades que deveria deter o general para manter seus homens preparados e dispostos para o combate.
Num salto propositado na história seria interessante, como se tem feito desde o século 18, aplicar as ponderações de Sun Tzu à batalha política para a qual se prepara o PT para conquistar a prefeitura de São Paulo em outubro próximo.
Por polêmico que foi, é o caso de avaliar-se, dentre todos os requisitos exigidos para a vitória final, se está em desacordo com o caminho ou o Tao a adesão de Paulo Maluf aos exércitos combatentes de Hadad. A questão corresponde a indagar se há algo de intrinsicamente contraditório com a predisposição e o juizo do eleitorado a incorparação às próprias fileiras de um líder egresso das hostes inimigas para a busca da vitória.
Desde que o anseio de justiça é capaz de suscitar sentimentos bons nos corações mais perversos, como pregam as doutrinas de diferentes matizes filosóficos sobre o arrependimento, o eleitorado tenderia a ver com naturalidade o eventual apoio de um antigo antagonista às teses adversárias, desde que estas servissem ao propósito do bem comum visado pela guerra.
Era por essa razão que Sun Tzu considerava como prática necessária à vitória a incorporação permanente de inimigos às forças de combate, os quais deveriam ser tratados com respeito por representarem o reconhecimento das alternâncias de estado, ainda que não de natureza, de tudo que tem existência no universo.
Disse Sun Tzu: “se utilizas o inimigo para derrotar ao próprio inimigo, serás poderoso em qualquer lugar aonde fores. A isto se chama vencer o adversário e incrementar, por acréscimo, as forças em ti”.
Criar as condições para a vitória ainda antes que se trave o primeiro embate, nisso reside a arte da guerra.
http://brasilquevai.blogspot.com.br/2012/06/sun-tzu-e-adesao-de-maluf.html