(Ilustração capa: Fotografia Contemporânea Chinesa)
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou há poucos dias o seu relatório mensal para o mês de abril. Este mostra que o faturamento da indústria de transformação, no índice dessazonalizado (que é o certo de se ver), registrou crescimento de 0,2% em abril, na comparação com o mês anterior. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, o faturamento cresceu 2,7% e no acumulado dos quatro primeiros meses de 2012, o faturamento subiu 2,2% sobre igual período de 2011.
O CNI dá destaque, naturalmente, apenas aos dados negativos das horas trabalhadas, que registraram queda de 0,6% em abril. Eu prefiro, no entanto, me ater ao faturamento, visto que numa economia capitalista este é o termômetro mais eficaz para se averiguar a saúde de um setor. Se está ganhando mais dinheiro, é porque está crescendo. A redução das horas trabalhadas, por sua vez, nem sempre indica piora da situação das fábricas, mas simplesmente um aumento da produtividade ou, o que é mais frequente, maior índice de mecanização ou robotização.
Um dado negativo é queda da capacidade instalada, de 81,5% em março para 81% em abril. Outro dado positivo é forte crescimento da massa salarial, de 7,4% no acumulado do ano. O emprego, por sua vez, manteve-se estável ao longo do ano, com crescimento de 0,2% em Jan/Abr 2012 sobre o ano anterior – apesar da queda de 0,6% em abril.
Agora vamos ver o desempenho por setor:
Comecemos pelo lado negativo, que é a queda de 11% do faturamento do setor de veículos automotores. As informações de que dispomos, porém, dão conta de que este declínio foi causado, em boa parte, pela grande parada de produção registrada nos primeiros meses do ano, em virtude da aplicação de novos padrões fabris aos caminhões, que hoje devem cumprir exigências ambientais mais rigorosas.
Houve ainda, dizem analistas, e também o bom senso, um esgotamento sazonal da febre de consumo de automóveis, cujas vendas explodiram nos últimos dois anos. O arrefecimento foi estimulado ano passado pelo próprio governo, com o aumento de juros registrado no primeiro semestre de 2011. Então os consumidores deram um tempo na compra de novos carros, mas os últimos números do comércio para maio já indicam uma boa recuperação para o setor.
O setor mais estratégico para a economia brasileira, a meu ver, é o de máquinas e equipamentos, porque ele é a base de tudo. Pois bem, segundo a CNI, o faturamento do setor de máquinas e equipamentos cresceu 10,9% no ano e 5,3% no mês, na comparação com iguais períodos de 2011.
Note-se também o impressionante desempenho de setores avançados como máquinas e materiais elétricos (altas de 21% no ano e 33% no mês); material elétrico de comunicação (alta de 27% no ano e 5,4% no mês); e edição e impressão (alta de 7,9% no ano e 22% no mês).
Já andei lendo alguns analistas tentando minimizar o crescimento da indústria brasileira, inclusive a de bens de capital, alegando que ela está importando muito mais que antes. Isso não é um problema, mas uma virtude. Todos os processos de inovação industrial requerem aumento de importações. Se o faturamento cresce, contudo, isso significa que ela está conseguindo acumular capital, que é o insumo básico para investir em pesquisa, desenvolvimento e transferência de tecnologia.
Eu catei também alguns números do IBGE para abril, que confirmam minha análise. Segundo o IBGE, que apura somente a produção física, e não o faturamento, a indústria de transformação vive momentos difíceis, se a consideramos como um todo. Mas se separarmos os setores mais avançados e estratégicos, teremos um quadro bem positivo. Confira os gráficos abaixo. Todos eles mostram a comparação dos últimos 12 meses com o período anterior, ou seja, Maio/Abril 2012 com Maio/Abril 2011.
O gráfico acima, que trata do setor de máquinas e equipamentos, mostra que o setor experimentou uma forte recuperação em abril de 2012. Lembre que falamos do acumulado de 12 meses de Maio a Abril, e de produção física, não de faturamento, por isso os dados são diferentes daqueles da CNI.
Confira também o gráfico abaixo, sobre o mesmo setor, mas abrangendo um período maior.
Repare que o setor realmente passou por maus momentos a partir do segundo semestre de 2011, provavelmente em função dos efeitos da crise na Europa, e do aperto monetário imposto pelo Banco Central na primeira metade do ano passado, mas que a reação começa a aparecer com força no acumulado até abril. Com base nas informações que temos sobre os últimos meses, é possível antever que ao longo do ano devemos observar uma progressão continuada nesse gráfico. Vamos acompanhar.
Outros setores avançados que mostraram forte recuperação nos últimos 12 meses:
Concluindo: minhas análises não pretendem ignorar as dificuldades de vários setores da indústria, nem os desafios gigantescos que a indústria brasileira tem pela frente para existir numa economia global sacudida, por um lado, por grave crise nos países mais desenvolvidos, e por outro pela invasão cada vez mais agressiva de produtos asiáticos. A diferença de custos de uma fábrica na China e outra no Brasil continuam se acentuando conforme assistimos ao crescimento acelerado dos salários por aqui, e a lentíssima progressão neste sentido experimentada pelos operários chineses.
Ou seja, o próprio desenvolvimento social brasileiro cria dificuldades para nossa indústria, em sua relação concorrencial com suas rivais chinesas. É um desafio que vai requerer um planejamento estratégico que reúna soluções de curto, médio e sobretudo longo prazo.
Os EUA viveram uma transformação muito traumática, e que ainda lhes causa enormes transtornos, ao saírem de uma economia ancorada na indústria para uma baseada em serviços, tecnologia e entretenimento. Cidades inteiras esvaziaram-se. Detroit, por exemplo, que na primeira metade do século XX, era a cidade que mais crescia no mundo, passou a liderar o ranking das que mais declinam. Bairros inteiros de Detroit tornaram-se desertos, fantasmas. Dezenas de milhares de fábricas fecharam portas em todo país, transferidas para México ou China. Não fosse o incrível dinamismo americano nas áreas de ciências, tecnologia e entretenimento, a crise americana teria chegado a um estágio terminal há alguns anos.
O Brasil, portanto, precisa tomar cuidado para não repetir os erros norte-americanos, e copiar o que eles fizeram de certo, investindo pesadamente também em pesquisa, tecnologia e cultura.