Indústria salva o PIB brasileiro

Hoje a Folha estampou manchetão pessimista: “Tombo da indústria atrasa retomada da economia brasileira”.

Ironicamente, ao contrário do que diz a Folha, a indústria – segundo dados do IBGE divulgados há pouco – foi quem salvou o PIB de uma queda.

Segundo relatório do IBGE para o primeiro trimestre, houve um avanço de 0,2% do PIB no primeiro trimestre do ano em relação ao trimestre anterior.

 

A Miriam Leitão logo publicou uma nota, tentando faturar, como é seu estilo, todos os pontos negativos, mas teve que se curvar ao desempenho da indústria:

Esperava-se um trimestre ruim para a indústria, que acumula quedas sucessivas, mas o setor teve alta de 1,7%.

O que puxou para baixo o PIB foi o agronegócio, provavelmente por alguma questão sazonal ou climática. A maioria das colheitas se dão no segundo semestre.

No acumulado de quatro trimestres (ou seja, 12 meses), sobre os quatro trimestres anteriores, não há nenhum número negativo.  O PIB cresceu 1,9%. É pouco, mas é positivo, e deve ser conjugado à inflação baixa, juros declinantes, salários em alta e emprego quase pleno no país. O conjunto de dados da economia apresenta um cenário extremamente saudável, sobretudo se comparado ao que está acontecendo em outras partes do mundo.

Os investimentos (na sigla FBCF – Formação Bruta de Capital Fixo) caíram 1,8% no trimestre, na relação com o trimestre anterior. Mas aí se explica. Os setores privados e, sobretudo, o estatal, costumam investir muito mais ao fim do ano do que no início.  De qualquer forma, no acumulado de 12 meses, os investimentos cresceram 2,1%.

A mídia está jogando novamente com o pessimismo.  A situação econômica realmente está delicada, e as indústrias brasileiras continuam sofrendo com a crise na Europa e EUA, porque as empresas desses países, sem conseguir vender muito por lá, em virtude da crise, despejam seus produtos a preços mais baratos aqui. Mas isso é do jogo, e as indústrias nacionais que souberem se adaptar, saíram fortalecidas desse processo.

Outra tabela, mais completa, com a variação do PIB no primeiro trimestre de 2012, por setor, em relação ao último trimestre de 2011:

Observe que a indústria de transformação foi o setor que mais cresceu na economia brasileira no primeiro trimestre, em relação a todos os outros! É uma notícia tão boa que até entendo a estupefação da Miriam, que chegou a pedir para o IBGE “explicar melhor esse dado”. Se for um erro do IBGE, então esta análise cai por terra. Mas como ele é o único que tenho, vamos considerá-lo como correto. Como a indústria de transformação cresceu bem mais do que o PIB, isso significa que o Brasil se industrializou em Jan/Mar de 2012. PS: não foi erro. O IBGE acaba de explicar o dado à Miriam Leitão.

*

No jogo de análises, ficamos à mercê de uma infinidade de indicadores, variações, que acabam por dificultar um entendimento mais direto da conjuntura econômica. Então eu fiz uma tabela com os valores correntes do PIB. Afinal, dinheiro vivo é o índice mais compreensível para qualquer cidadão.

Eles não estão deflacionados, então dê um desconto. A economia não cresceu tanto como parece, porque houve inflação no período. Mesmo assim, como não tivemos nenhuma inflação fora do normal de 1995 até hoje, os números ainda têm uma coerência.

Dê uma olhada na tabela, e veja a evolução da economia brasileira, setor por setor, desde 1995. Confira também a variação sobre 2011. Eu considerei apenas os primeiros trimestres. Comento um pouco em seguida.

 

Algumas observações:

  1.  Repare que a indústria cresceu mais do que a agricultura.
  2. O setor que cresceu mais, e que acabou levando a indústria a perder peso no total do PIB, de 1995 até hoje, foi a mineração.
  3. A indústria de transformação efetivamente caiu no primeiro trimestre de 2012, na comparação com igual período de 2011. Repare, contudo, na magnitude do seu crescimento nos últimos anos. Correspondia a R$ 26 bilhões em 1995; hoje produz R$ 115 bilhões, sempre considerando apenas primeiros trimestres do ano.

 

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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