Em sua coluna de hoje, Merval Pereira emula um indefectível professor Hariovaldo.
Comento alguns trechos. O texto dele vai em negrito, o meu em fonte normal:
Considero a essência do relato do ministro verdadeira, pois só os ingênuos podem acreditar que Lula convidasse um ministro do Supremo para um encontro sem que o assunto principal fosse o julgamento do mensalão.
Sugiro a Merval que leia entrevista com o ministro Marco Aurélio Mello, onde ele expressa, com bom senso, que Lula não exerce nenhum cargo público e, portanto, pode falar o que lhe der na telha.
Outros, que fingem acreditar na versão edulcorada de que a reunião foi uma conversa de amigos sobre generalidades, são militantes petistas, empenhados no mesmo movimento de Lula: constranger o Supremo a adiar o julgamento do mensalão, ou pôr em dúvida o seu resultado.
Eu acho que o Lula pode ter tocado no assunto mensalão. Segundo Jobim, contudo, não houve constrangimento. Ele foi bem enfático. Não houve nada “neste sentido”, deixando transparecer, sem subterfúgios, que o assunto veio à tona, mas não do jeito relatado por Mendes, e “interpretado” pela Veja.
Junto a Toffoli, Lula defendeu a tese de que ele deveria participar do julgamento, quando setores jurídicos consideram que deveria se declarar impedido, pois boa parte de sua carreira foi feita no PT.
Ué, agora Merval não só se arroga sabedor da última verdade sobre o que foi conversado entre Lula e Mendes, como também o assunto tratado entre Lula e Toffoli? Ele é algum tipo de vidente? Se ele está se referindo à alguma versão de Mendes sobre a conversa de Lula e Toffoli, deveria dizer: “segundo Mendes”, não?
(…)
O governador do Rio, Sérgio Cabral, não tem razão para se indignar com a ilação de que a quebra de sigilo da empreiteira Delta pode justificar sua convocação para a CPI do Cachoeira.
Ele criou as condições para que essas ilações não sejam irresponsáveis, pois sua relação pessoal com Fernando Cavendish quando este era o presidente da Delta dá uma sensação de promiscuidade entre o público e o privado que seu próprio governo critica no recentíssimo código de ética.
O Código da Alta Administração determina que funcionários do alto escalão devem guardar “distância social conveniente no trato com fornecedores de materiais ou contratantes de prestação de serviços ao Estado, abstendo-se, tanto quanto possível, de frequentar os mesmos lugares e de aparentar intimidade”.
Não tô nem aí para o Cabral, como aliás não estou nem aí para político nenhum. Seja PMDB, PT ou PSDB. Se roubou, tem que pagar por seu crime. Só não quero que a CPI seja transformada em palhaçada. O que eu gostaria de comentar nesse trecho, porém, é a citação final de Merval. O trecho sobre “distância social”, não existe no Código da Alta Administração, que aliás só existe para o governo federal.
O trecho citado por Merval é um item do Código de Conduta criado por Sérgio Cabral. Um item que Cabral criou DEPOIS da divulgação das fotos dele com Cavendish em Paris. Ou seja, Merval deveria, no mínimo, respeitar o copyright do governador, e informar que ele foi o primeiro governador, talvez o único na federação, a criar um código de conduta estadual, e incluir nela este item específico.
Pessoalmente, eu não concordo com este item. Acho que ele incentiva a clandestinidade. Se um governador quiser desviar dinheiro público, mancomunado com empreiteros, é claro que não vai se reunir publicamente, nem dar uma de fanfarrão num restaurante em Paris, junto com todos os secretários e respectivas esposas. Eu acho que a escandalização da “festinha” cabralesca se inscreve no rol da campanha de criminalização da política.