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247: Ataque de Veja a Lula pode radicalizar CPI

A entrevista do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, à revista Veja, pode acabar tendo efeito contrário ao desejado. Por Brasil 247.

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Publicado no Brasil 247.

ATÉ ESTE FIM DE SEMANA, A POSIÇÃO MAJORITÁRIA ERA DE POUPAR A REVISTA NAS INVESTIGAÇÕES DA CPI DO CACHOEIRA. ISSO DEVE MUDAR, PELO MENOS ENTRE OS DEPUTADOS PETISTAS, QUE AGORA VOLTAM A FALAR NA CONVOCAÇÃO DE ROBERTO CIVITA E POLICARPO JÚNIOR

28 de Maio de 2012 às 06:06

Minas 247 – A entrevista do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, à revista Veja, pode acabar tendo efeito contrário ao desejado. A CPI do Cachoeira, que caminhava para uma acomodação, pode radicalizar-se. O 247 apurou que vários parlamentares federais do PT estão profundamente contrariados com o que chamam de “armação” da revista contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fundador e líder do partido.

Segundo a Veja, Lula teria pressionado Mendes a protelar o julgamento do mensalão para não prejudicar o PT nas eleições municipais deste outubro. Segundo o ministro do STF, o ex-presidente teria insinuado a possibilidade de blindá-lo na CPI em troca do adiamento do julgamento do mensalão. Mendes já foi desmentido pelo ex-ministro da Justiça Nelson Jobim, que participou da conversa relatada pela revista.

Como quase sempre ocorre, os deputados do PT não querem se apresentar publicamente, ao menos por enquanto, por temerem represália da revista. Mas eles vêem “inconsistências” na denúncia de Veja. Em primeiro lugar, estranham que Lula tenha procurado justamente Gilmar Mendes para negociar o atraso no julgamento dos mensaleiros. Nomeado para o Supremo por Fernando Henrique Cardoso, Mendes não é relator do processo do mensalão (Joaquim Barbosa), nem revisor (Ricardo Lewandowski) ou presidente do STF (Ayres Brito). A negativa enfática de Nelson Jobim também trabalha contra a veracidade da denúncia, segundo eles. Jobim é amigo e ex-colega de Mendes no Supremo. Poderia, pelo menos, sair pela tangente quando consultado sobre a reunião com Lula, mas optou por uma negativa categórica: “De forma nenhuma, não se falou nada disso”. Jogou o colega em maus lençóis.

Um outro aspecto lembrado é que, ao contrário de denúncias anteriores, a deste fim de semana não teve tanta repercussão nos outros meios de comunicação. Pelo contrário, repercutiu mais a negativa de Jobim dada ao jornal O Estado de S. Paulo do que a própria fala de Gilmar Mendes. O mesmo Mendes, no penúltimo ano do segundo mandato de Lula na presidência, afirmou, à mesma Veja, ser vítima de grampo em conversas com o senador Demóstenes Torres – até hoje o áudio dessa escuta não apareceu.

O sentimento dominante na bancada petista é de que a Veja estaria jogando suas últimas cartadas na tentativa de desmerecer a CPI do Cachoeira, na visão dela uma jogada de Lula para acorbertar o mensalão.

Não há deputado ou senador petista que acredite na nova denúncia da revista, pelos motivos expostos acima e pelo histórico de Veja contra Lula e o PT. Até este fim de semana, a posição era de moderação em relação à possibilidade de chamar o jornalista Policarpo Júnior, chefe da sucursal da publicação em Brasília, e o dono da revista, Roberto Civita, para prestarem depoimentos à CPI. Agora, depois da denúncia de Gilmar Mendes, essa posição corre risco.

O tiro de Veja contra Lula saiu pela culatra: vai radicalizar uma CPI que dava sinais de esgotamento e reforçar a posição de quem defende que as investigações não poupem nenhum lado, incluindo os meios de comunicação.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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