Notas sobre o desenvolvimento

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Um post do Nassif acusa nossos liberais de escassez de consistência ideológica, porque reclamam do aumento do crédito aos consumidores, como se achassem que o Estado devesse tutelá-los. É verdade, porque o crédito no Brasil segue bastante inferior ao registrado em outros países. A inadimplência cresce, naturalmente, na medida em que se oferta mais dinheiro. Se os bancos não emprestam nada, a inadimplência é zero. Se aumenta, cresce a inadimplência. Mas esta se encontra em níveis considerados absolutamente dentro da normalidade, segundo especialistas, subindo proporcionalmente ao crescimento do crédito.

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Quanto aos investimentos públicos, o governo federal os tem ampliado de maneira considerável, embora a iniciativa esbarre quase sempre na ineficiência e atraso do Estado brasileiro. Há desperdício, burocracia, corrupção, paralisia.

Um comentarista lá observou que por trás da discussão econômica no Brasil há uma confusão, talvez deliberada, entre crescimento e desenvolvimento.  Grande verdade! Crescer é uma coisa. Desenvolver, outra. Um país pode crescer a taxas muito altas, mas registrar um baixo índice de desenvolvimento, porque não vê sua economia se diversificando, não há redistribuição de renda nem melhora das condições sociais. Cresce mas retrocede. E há países que crescem lentamente, mas com grande índice de desenvolvimento social, político, industrial, agrícola, etc.

No caso da indústria, é preciso analisar numa perspectiva mais objetiva. Que setores declinam, que setores crescem? Quais os setores que tem mais importância estratégica?

Ontem, o governo baixou medidas de estímulo à economia. Foram elas, basicamente, as seguintes:

  1. Redução de impostos para veículos.
  2. Redução de impostos sobre financiamentos/empréstimos de pessoas físicas.
  3. Queda nas taxas de financiamentos para investimentos pelo BNDES.

O primeiro item apaga um incêndio. O setor automobilístico é o equivalente ao que era o café no início do século XX. Gera empregos e sustenta o principal cinturão industrial do país, instalado no ABC paulista.

O carro no Brasil, realmente, é muito mais caro do que em países desenvolvidos, e apesar da superlotação das grandes cidades, ainda há espaço para vender muito automóvel no país, em função de nosso tamanho continental. O acesso ao carro permitirá ao trabalhar morar em regiões mais distantes dos grandes centros urbanos, com isso estimulando o desenvolvimento de núcleos urbanos menores, com seus comércios, serviços e mesmo fábricas locais.

Por isso, uma contrapartida fundamental das grandes cidades brasileiras seria regulamentar melhor o trânsito urbano interno, limitando o uso de carros particulares e ampliando as redes de transporte coletivo público.

O segundo e o terceiro itens são mais estruturantes. Ao reduzir a taxa de financiamento, Dilma dá continuidade à mesma estratégia de forçar os bancos privados e públicos a reduzirem taxas, spreads de juros cobrados ao consumidor. Ela está acreditando no consumo como chave para ativar a economia e elevar o PIB em 2012.

Se conseguir levar o PIB a qualquer coisa de maior ou igual a 4%, a presidenta terá conseguido uma importante vitória política.

Reparem sobretudo no terceiro item. Há um reforço no crédito do BNDES, a juros ainda mais baixos, para financiar o investimento em máquinas e equipamentos; e também projetos de engenharia. Este é o coração do desenvolvimento: máquinas e equipamentos, também conhecidos como “bens de capital”.  É nele que temos de ficar de olho, porque ele é como que o esqueleto de toda a cadeia industrial. A área de engenharia, pesquisa e inovação, por sua vez, é o cérebro.

No IpeaData, colhi a evolução da produção brasileira de bens de capital nos últimos 12 meses. Houve um soluço nos dois últimos meses do ano passado, causado, segundo especialistas, por uma interrupção nas fábricas de carros e caminhões no período, mas de janeiro a março, o crescimento foi constante.

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Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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