Juro real cai a 2,3% e já é quase o que Dilma prometeu
Presidente e equipe econômica indicaram no início do governo que taxas reais poderiam cair para 2% até o fim do mandato
06 de maio de 2012 | 3h 04
FERNANDO DANTAS / RIO – O Estado de S.Paulo
A intenção da presidente Dilma Rousseff de levar a taxa de juros real para 2% já foi quase cumprida, ainda faltando mais de dois anos e meio para o fim do seu mandato. Na sexta-feira, a principal taxa de juros de mercado de um ano, das transações envolvendo bancos e grandes empresas (e que baliza todas as outras taxas), caiu em termos reais para 2,3% ao ano.
Esse juro, conhecido no mercado como ‘swap’ de 360 dias, tende a antecipar os movimentos da Selic, a taxa básica de juros calibrada pelo Banco Central (BC). Em termos nominais, o swap de 360 dias fechou na sexta-feira em 7,99%. Com a expectativa de inflação do mercado de 5,53% nos próximos 360 dias, isso significa uma taxa real, isto é, descontada da inflação, de 2,3%.
“Se de fato o país conseguir alcançar estabilidade das taxas de inflação sob taxas de juros reais mais reduzidas, podemos estar assistindo à uma melhora institucional histórica”, comenta Thiago Curado, economista da consultoria Tendências.
A queda dos juros foi acentuada no final da semana passada, com a flexibilização das regras da caderneta de poupança. A rentabilidade fixa dessa aplicação representava um obstáculo crescente à redução da Selic, taxa básica de juros, para níveis abaixo dos atuais 9%. Agora, já há projeções de corte da Selic ainda este ano para níveis em torno de 8% a 8,5%, e até abaixo de 8%.
Dilma também vem enfrentando o sistema bancário privado para que o elevadíssimo ‘spread’ – a margem acima dos juros de captação pelos bancos – cobrado no crédito para pessoas físicas e a grande maioria das empresas também caia para níveis compatíveis com os do resto do mundo.
De qualquer forma, o nível atual do juro real no ‘swap’ de 360 dias representa uma extraordinária queda, de mais de 20 pontos porcentuais, num período de dez anos. Hoje, o juro real de 2,3% é precisamente dez vezes menor do que o de 23% que foi atingido em meados de 2002 (ver matéria abaixo).
A etapa final desse processo começou quando o Banco Central, no final de agosto do ano passado, surpreendeu os analistas cortando a Selic, a taxa básica de juros, de 12,5% para 12%.
Apesar das críticas, o BC viu confirmarem-se suas expectativas tanto de uma desaceleração forte da economia, pelo aperto monetário de 2010 e 2011 e pelas medidas macroprudenciais de controle de crédito, quanto do efeito desinflacionário da fraqueza da economia global (especialmente nos países ricos).
A grande dúvida, porém, é se a enorme queda do juro real dos últimos anos é sustentável e não vai provocar um surto de pressões inflacionárias que obrigaria o BC a elevar fortemente a Selic (e, consequentemente, os juros reais de mercado) mais adiante.
Para Curado, da Tendências, uma taxa de juro no nível atual, pouco acima de 2%, só é viável enquanto houver pressões desinflacionárias provenientes da economia global. “Frente a uma recuperação do cenário externo, será necessário elevar as taxas de juros”, ele projeta.
A economista Monica de Bolle, diretora do Instituto de Estudos de Política Econômica (Iepe/Casa das Garças), no Rio, acha que Dilma e o BC poderão se considerar bem sucedidos se a atual política agressiva de redução de juros obtiver um ritmo de crescimento em torno de 3% e apenas uma alta leve de inflação, que se manteria em torno de 6%.
“Ninguém vai ter muito problema com isso porque, de modo geral, a população brasileira já demonstrou uma fadiga absoluta com essa história de tentar ter inflação baixa, mas com juros muito altos”, diz Monica.
Uma segunda possibilidade, acrescenta Monica, seria a de a economia não estar preparada e a inflação disparar acima daquele nível. E, finalmente, um terceiro cenário, que ela considera o mais improvável, seria uma aceleração do crescimento sustentável para próximo de 4%, mantendo-se juros baixos e inflação por volta de 6%.
“Mas eu não acho que a economia vai desandar completamente com esse experimento com os juros, porque estamos fazendo isso num bom momento, com a nossa percepção pelos investidores estrangeiros muito diferente do que era no passado – ninguém vai achar um absurdo, pelo contrário, vão achar que é bom”, ela diz.
Já o economista Alexandre Schwartsman, da Schwartsman & Associados, diz achar “difícil que essa taxa de juro real atual não estimule extraordinariamente a atividade econômica”.
Ele lembra a metáfora da política monetária como a água do chuveiro, que às vezes demora a esquentar, levando a pessoa a abrir demais a torneira quente até que um jato escaldante quase queime a sua pele. “Existem defasagens no efeito da queda da taxa de juros sobre a atividade” , ele diz, preocupado com uma repique muito forte da inflação.
Carl
16/05/2012 - 14h33
A inadimplência do consumidor aumentou 4,8% em abril, na comparação com março, puxada por dívidas não pagas de cartões de crédito, dívidas com financeiras e outros compromissos não bancários, informou nesta quarta-feira a Serasa.
Mucuim
07/05/2012 - 12h51
A presidente teve a coragem de enfrentar a bancada da Febraban e os famosos analistas econômicos dos grandes jornais, tão interessados em defender as corporações financeiras, e tão pouco empenhados em defender o desenvolvimento econômico do país. … Leia mais: http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=5584