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Merten escreve sobre Slovenian Girl

É até curioso se perguntar por que demorou tanto para chegar ao circuito.

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Hoje saiu uma excelente crítica ao filme Slovenian Girl, assinada pelo crítico do Estadão, Luiz Carlos Merten, um dos mais respeitados do país.

Diretor usa estilo frio para falar de jovem que se prostitui em ‘Slovenian Girl’

Filme de Damjan Kozole foi vencedor do grande prêmio da Academia Europeia de cinema em 2009

03 de maio de 2012 | 3h 10

LUIZ CARLOS MERTEN – O Estado de S.Paulo Vencedor do grande prêmio da Academia Europeia de cinema em 2009, diversos troféus de melhor atriz para Nina Ivanisin – Slovenian Girl, ou Garota Eslovena (como foi projetado na Mostra de 2010), é certamente um filme de qualidade, e é até curioso se perguntar por que demorou tanto para chegar ao circuito. O cinema contou muitas histórias de prostitutas e, nos filmes de gêneros – melodramas e westerns – elas em geral sofrem e/ou têm bom coração. No começo dos anos 1960, contou como se fosse num documentário, no formato de quadros, a história de Naná em Viver a Vida. Sem que seu filme seja godardiano, Viver a Vida deve ter sido o modelo do diretor Damjan Kozole para seu longa.

Nina Ivanisin é Alexandra, dublê de estudante e prostituta, cuja história ele conta num estilo propositadamente ‘frio’. Vendendo o corpo, Alexandra logra comprar um apartamento que vira seu castelo, a realização de um sonho de consumo que possui um preço. Há na protagonista uma espécie de tristeza, que a acompanha sempre. A trilha participa e, na verdade, constrói o clima – Run Along constrói, por assim dizer, a fluidez do relato e serve de contraponto à cidade; Bobby Brown Goes Down (de Frank Zappa) é mais interiorizado e carrega a crítica do sonho americano que a garota eslovena, de forma talvez inconsciente, assume.

Ninguém vende o corpo impunemente. Existe a família de Alexandra, existem seus clientes. Assim como Beto Brant introduz a questão fundiária em Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios para discutir a ‘posse’ de Lavínia (Camila Pitanga), há o cliente que quer Alexandra para si, como há o velhinho que revela uma delicadeza inesperada com ela. Ela trapaceia com todos, fingindo um câncer inexiste. Engana o próprio pai, quando necessita de dinheiro. O filme não adota pontos de vista, nem o da protagonista. É como se Damjan Kozole olhasse tudo de longe, mesmo nos momentos intimistas, daí a sensação de frieza.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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