Os debates da CPI do Cachoeira podem ser acompanhados, ao vivo ou gravado, pelo site da TV Senado. A discussão hoje centrou-se nos nomes que serão os primeiros a ser convocados para depor. Denúncias continuam pipocando, conforme a sociedade vai digerindo os arquivos liberados. O blog Roteiro de Cinema compilou várias gravações da operação Monte Carlo relacionadas às ligações entre a máfia e membros da imprensa.
A mídia desta quarta-feira, porém, acordou atordoada com a súbita explosão de fogos vermelhos no céu da política sul-americana. O Globo deu manchete à decisão do governo boliviano de estatizar a gigante espanhola de energia, associando-a a medidas similares na Argentina (com nacionalização da YPF) e Venezuela (onde houve inúmeras nacionalizações).
Diversos colunistas, por sua vez, deixaram a CPI de lado para analisar os ataques de Dilma aos bancos privados, outro fato que lhes causou tremenda confusão. Editorial do Estado faz uma comparação estapafúrdia: diz que os bancos seriam as “Malvinas” de Dilma, numa alusão à suposta tática da presidenta argentina de usar a delicada questão das ilhas Malvinas para desviar a opinião pública de outros problemas internos. Merval Pereira, Miriam Leitão, Fernando Rodrigues, todo mundo abordou o discurso da Dilma sobre os bancos, tentando sem muito sucesso, achar um flanco vulnerável na estratégia da presidenta.
Há uma certa expectativa sobre a resposta dos bancos à presidenta. Usando como desculpa o feriado, eles se mantiveram quietos até agora, mas certamente haverá um contra-ataque amanhã.
A reação das centrais sindicais, como era de se esperar, foi de euforia. Dilma conseguiu, inclusive, abortar o namorico que setores da Força Sindical vinham promovendo com lideranças do PSDB. O Estadão publicou um artigo antes melancólico do que triste, sobre a ausência de tucanos nos festejos do primeiro de maio em São Paulo. Todos prometeram vir, todos inventaram desculpas esfarrapadas para furar.
A mídia também procura hoje trazer um personagem novo à roda: o governador fluminense Sérgio Cabral. Desde que Garotinho publicou fotos de Cabral curtindo a vida em Paris, na companhia de Cavendish, a imprensa tenta usar isso para, de alguma forma, desgastar o governo federal e a própria CPI. Sem sucesso. As estrepolias de Cabral não afetam o governo federal. Aliás, façamos alguns comentários sobre o envolvimento de Cabral:
É bom que Cabral apanhe. Quem acompanha a política fluminense, sabe que as forças políticas ao redor de Cabral aglutinaram-se de tal maneira que pulverizaram qualquer oposição. Isso não é bom. Não falo nada de Cabral, mas o PMDB fluminense é um partido inchado, corrupto e fisiológico – como aliás em todo país. Ninguém tem pena de Cabral, portanto. Ele que se vire, e ele tem muita força para se virar.
Por outro lado, dançar em Paris não é crime. Dançar com o dono da Delta também não. A CPI precisa encontrar gravações envolvendo o nome de Cabral para que a crise atinja, de fato, o governador. Sem isso, conseguirão apenas, como já conseguiram, desgastar o governador junto aos setores mais sensíveis da opinião pública – que de resto já se encontram totalmente desiludidos com todas as forças políticas fluminenses, além de corresponderem a um percentual muito pequeno do eleitorado.
Elio Gaspari, em seu artigo de hoje, chama Cabral de “brega”, e descreve em detalhes as cenas de vídeo do governador brincando com seus amigos. “As cenas constrangem que as vê pela breguice”, conclui Gaspari.
A julgar pela podridão que emerge do inquérito das operações Monte Carlo e Las Vegas, ninguém está preocupado com breguice no momento.
Cabral pode não ser nenhuma flor cheirosa, mas será preciso bem mais do que esses vídeos inocentes para derrubar o governador.
No blog Roteiro de Cinema, descobri umas dicas do escritor Kurt Vonnegut para escrever um bom conto. Uma delas é que “toda frase deve fazer uma de duas coisas – revelar o personagem ou avançar a ação.” Bem, CPI não é um conto, então precisa mesmo é avançar a ação. Que o personagem Cabral é um pândego, isso já sabíamos.
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A posição da mídia de esconder as relações do esquema Cachoeira com a Veja está ficando bem ridículo. O Nassif escreveu uma boa análise sobre isso.
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Achei interessante essa entrevista com o ex-procurador geral da República, Aristides Junqueira, falando sobre o mensalão.