A mídia hoje amanheceu com manchetes sobre a eleição francesa (onde o socialista François Hollande é favorito), futebol (Corinthians, Palmeiras e Flamengo perderam) e escândalos relacionados ao esquema Cachoeira. A Folha trouxe também uma página inteira sobre o mensalão, com um infográfico de cair o queixo na página A6.
Ainda na Folha, há uma matéria que fala na provável estratégia de Carlos Cachoeira de proteger seu aliado, Demóstenes Torres. O texto sinaliza uma coisa importante: a sociedade terá que ficar mobilizada para que a agenda política nacional não seja, mais uma vez, manipulada por declarações de Cachoeira, ou de pessoas ligadas a ele.
Na mesma matéria, consta ainda que a Folha obteve áudios onde Cachoeira intervém na crise do governador Arruda para proteger Demóstenes. O então governador do DF havia declarado que o senador lhe pedira para contratar uma empresa. Ou seja, praticou tráfico de influência, crime que Demóstenes transformou em sua principal atividade profissional. Segundo o jornal, três semanas depois Cachoeira mandou Dadá (o araponga que prestava serviços a Cachoeira) procurar um policial civil da DF que tivesse contatos com Arruda para lhe repassar uma ordem: que se desmentisse sobre Demóstenes.
Hoje, sabendo o que sabemos sobre Demóstenes, a acusação de Arruda parece bem verídica.
Em relação aos áudios obtidos com exclusividade pela Folha, eu estou começando a ficar com ciúmes. Não vai ter nenhum áudio exclusivo para blogueiros?
No Globo, o objetivo ao que parece é detonar a Delta. Hoje o jornal traz duas matérias com chamada na capa. Numa, lembra, em tom de denúncia, que a Delta ainda tem mais oito megaobras de PAC e Copa. Se eu não confiasse tanto na integridade moral da família Marinho, poderia suspeitar que estão fazendo lobby para a Odebretch abocanhar o bolo todo. Em outra matéria, fala que o governo deu obras à Delta, em 2010, mesmo após a identificação de uma fraude da construtora.
Admito, por outro lado, que não sinto nenhuma compaixão pela Delta e seu dono, Fernando Cavendish.
Entretanto, o que mais me chamou atenção na mídia de hoje foi um artigo de Sérgio Fausto, diretor-executivo do Instituto FHC, no qual ele deixa claro a guinada do PSDB para extrema-direita. O texto é um amontoado de mentiras e ilações, ancorados nas fofocas de Nelson Bocaranda, um dos antichavistas mais irresponsáveis da imprensa venezuelana.
Olha só o primeiro parágrafo:
Não resta dúvida de que o estado de saúde de Hugo Chávez se agravou. Ele próprio admitiu o fato ao implorar publicamente a Jesus que não o levasse ainda. O apelo dramático deu-se no início deste mês de abril, em missa televisionada para todo o país. A hipótese de que ele não tenha condições físicas de disputar as eleições de outubro deixou de ser possível para se tornar provável.
Usar uma oração como “prova” ou “admissão” de que o estado de saúde de alguém se agravou é muito ridículo.
Entretanto, o mais ridículo é fazer um terrorismo político sobre possibilidade do chavismo aplicar um golpe sem ao menos mencionar que foi o antichavismo é que aplicou um golpe, em 2002, naquele que foi talvez o mais triste episódio político da primeira década do século XXI em toda a América do Sul.
E aí, quando você acha que o articulista se cansou de se autoenvergonhar, ele vem com uma tese absolutamente estapafúrdia, de que a presidente Dilma deve “intervir” na Venezuela, contra Chávez, e num tom de confiança que revela, mais do que estultice, um grave déficit de conhecimento político. E insinua que Dilma estaria aberta a esta interferência. Ou seja, ele calunia Chávez e calunia também a presidenta Dilma!
Fausto alinhava um montão de absurdos, fofocas próprias de uma oposição desesperada, nos quais, mesmo assim, usa para fazer uma acusação irresponsável e caluniosa contra o governo Chávez, e ainda tem a cara de pau de afirmar que “não podemos afirmar com certeza sobre a veracidade do que escreveu Bocaranda”. Mais um pouco e Fausto pode substituir Ali “testando hipóteses” Kamel na direção do jornalismo platinado!
E pensar que FHC é considerado um “moderado” dentro do PSDB! Com esse artigo, o tucanismo de FHC revela-se descompromissado com a busca de relações estáveis e harmoniosas com a Venezuela. Uma coisa é criticar Chávez com respeito e inteligência, outra é deixar-se contaminar pela loucura antichavista, esta sim concretamente golpista, pois efetivamente aplicou um golpe de Estado em 2002. Aí temos uma mistura explosiva de mau caratismo, fanatismo conservador e estupidez diplomática.