Ilustração capa: arte contemporânea da China.
Peço atenção para esta notinha publicada por Ilimar Franco, um dos últimos colunistas da mídia que ainda se permite, eventualmente, um posicionamento mais independente:
A estratégia da defesa de Demóstenes: Pode ser coincidência. Mas somente depois que o escritório de advocacia que defende o senador Demóstenes Torres (GO) recebeu do STF a íntegra da investigação da Polícia Federal contra o contraventor Carlinhos Cachoeira, inclusive com os grampos telefônicos, é que começaram a vir à luz informações sobre o eventual envolvimento, com a quadrilha, de integrantes de partidos que são da base do governo Dilma. Advogados do ramo dizem que essa proliferação de dados e nomes combina com uma estratégia de inteligência que pretende colocar mais gente no moedor de carne para tentar salvar o senador cliente.
Só faria uma ressalva ao comentário de Ilimar: não é coincidência. Os grupos de comunicação que fazem oposição ideológica ao governo petista estão enredados na rede de espionagem ilegal do esquema de Carlinhos Cachoeira, numa estratégia que continuam a adotar nos últimos dias. Desta vez, com uma desfaçatez ainda maior.
A mídia, portanto, continua a serviço dos interesses da máfia comandada por Carlinhos Cachoeira e Demóstenes Torres. Hoje, mais ainda que ontem, os jornais amanheceram repletos de ameaças. A expressão que fala em “CPI sabe-se onde começa, mas não onde termina”, voltou a ser repetida sem ao menos a preocupação estética de evitar o clichê.
O editorial do Estadão, as colunas de Dora Kramer, Merval Pereira e Eliane Cantanhede, aparecem pintados de guerra, faca entre os dentes, olhos injetados de sangue, e brandindo teorias ameaçadoras.
Veja esta matéria no Estadão, publicada na página A4:
A Folha, por sua vez, acionou a central de intrigas, cuja maior especialidade é botar palavras na boca da presidenta. Hoje vem falando que a presidenta e o governo não estão satisfeitos. O objetivo é claro: ameaçar e reduzir o ímpeto da CPI.
Ora, como este Cafezinho já analisou, nenhuma CPI interessa ao Executivo, que é uma entidade política mas cujas responsabilidades administrativas são descomunais. Os administradores querem paz, tranquilidade, para tocar as obras e melhorar a qualidade dos serviços. Neste sentido, CPIs atrapalham sim o governo. Por isso eu disse que, desta vez, o Congresso teria que desafiar o governo para criar uma CPI. Um desafio do bem, porque ao fim das contas ajudará o Executivo, de várias maneiras:
- É uma ação concreta de combate à corrupção. Então ajuda o Executivo a reduzir o desvio de recursos públicos, que é um dos entraves mais revoltantes para o desenvolvimento nacional.
- É uma ação de cunho político fundamental, para investigar um esquema mafioso, reunindo forças econômicas, políticas e midiáticas, que atacavam sistematicamente o governo federal. Já está provado que parte da paralisia vista no governo Dilma em 2011, deveu-se aos sucessivos ataques midiáticos a seus ministérios, e que isto prejudicou a economia nacional. A presidenta, no entanto, enfrentou estas crises com muita sobriedade, sem comprar brigas, dando espaço para defesa, mas ao mesmo tempo aproveitando-se para se livrar de colaboradores eticamente suspeitos.
Ora, Garcêz era um vereador do PSDB presidente da câmara dos vereadores de Goiânia, e Noleto, um quadro político da mesma cidade, mantinha naturalmente relações políticas com ele, sobretudo em período eleitoral. Não se pode transformar o material investigativo da PF, que acumulou milhares de grampos legais, com ligações de todo mundo para todo mundo, numa pantomina tendenciosa com objetivo de confundir a opinião pública e livrar a cara de Demóstenes Torres.
Seja como for, a CPI foi sorvida pela luta partidária, como é natural que seja, visto que nosso sistema político é representativo e partidário, e aí envolvendo os debates sobre o mensalão, já que o esquema de Carlinhos Cachoeira foi a fonte de informações, via grampos criminosos, de vários escândalos que ajudaram a ampliar aquela grande crise política conhecida como mensalão, onde PT e Lula se viram sentados num tribunal de exceção comandado pela mídia.
O mensalão existiu, sim. Foi um processo político, onde se jogaram no mesmo balaio os crimes de caixa 2 da campanha petista de 2002, e todo o tipo de mal feito ligado ao PT, reais, como os dólares na cueca de um petista de terceiro escalão, ou irreais, como os dólares de Cuba; além de suspeitas genéricas, como os casos de corrupção em prefeituras petistas, ou específicas, como o assassinato do prefeito Celso Daniel.