Tucano continua sendo candidato forte, e resultado de prévia não deve influenciar intenção de voto na capital
IGOR GIELOW, SECRETÁRIO DE REDAÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA DA FOLHA SP
A vitória magra de José Serra (PSDB) nas prévias de ontem foi um balde de água fria nos ânimos do grupo do ex-governador paulista, mas não deve ser necessariamente comemorada por seus adversários como um vaticínio das dificuldades à frente.
Durante a semana passada, não havia tucano alinhado a Serra que não falasse publicamente num patamar de 70% dos votos para o pré-candidato. Reservadamente, todos citavam níveis ainda maiores, de 80% ou mais.
A soberba sempre é punida na política. Primeiro, Serra adiou até o último momento sua decisão pela disputa, indicando que preferia tentar a Presidência novamente.
Depois, jogou nos bastidores para enterrar as prévias, repetindo o roteiro tradicional dos políticos brasileiros de exigir “aclamação” para então “aceitar o sacrifício”.
Não deu certo, e foi encampado o discurso de defesa da democracia interna. Então, a turma dos 70% entrou em campo, como se o percentual garantisse uma legitimidade especial ao ungido.
Parece que não colou muito com a militância tucana. O desempenho dos postulantes, em especial de Ricardo Tripoli, chama a atenção: praticamente dividiram os votos do partido com Serra.
Naturalmente, trata-se de uma disputa limitada a um universo minúsculo. Não deverá impressionar petistas, peemedebistas e afins: Serra continua um candidato muito forte, e o resultado não tende a influenciar a sua intenção de voto na capital.
Mas pode indicar o quão pesado Serra se tornou para seu próprio partido e projetar o que isso significará para seus planos futuros.
Fator central para isso é o prefeito Gilberto Kassab (PSD), cuja aliança íntima com Serra já não é vista como um ativo do PSDB, e sim do ex-governador.
Kassab é impopular e dono de um projeto próprio de poder com o seu PSD, mas tem a caneta na mão e a portará no cargo até o fim do processo eleitoral.
Resta saber agora se a divisão se transforma em consenso. Campanhas com a militância cindida, por menos peso que se dê hoje em dia a esse quesito em comparação a outros, como a TV, não são auspiciosas, como o próprio Serra vivenciou em 2002 e 2010 mirando o Planalto.
Em qualquer democracia ocidental, uma taxa de 52,1% indicaria apoio sólido. No peculiar Brasil, sempre parece insinuar uma vitória de Pirro.
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