(Ilustração: Julian Schnabel. São Francisco em êxtase)
A semana inicia com muitas notícias. Pra começar, a eleição de Serra nas prévias do PSDB paulistano. Era um jogo de cartas marcadas, mas o resultado acabou surpreendendo todo o mundo político pela magreza da vitória. Pipocaram análises na imprensa sobre o placar, dentre as quais destaco esta do Igor Gielow, para a Folha.
Só para contrariar (como dizia Raulzito), irei na contramão da maioria dos analistas e opinar que o resultado das prévias tucanas constituiu na verdade a primeira notícia de grande impacto positivo na campanha serrista. Meses atrás, quando eu ainda acreditava (ingenuamente) que Serra manteria a palavra de não entrar na campanha, os números do Datafolha sugeriam, na minha opinião, o favoritismo de Haddad. A poderosa influência de Lula e Dilma e a baixa popularidade do atual prefeito, eram as razões, ainda que o candidato petista fosse um ilustre desconhecido, com míseros 3% de intenção de voto.
A situação se inverteu: agora Serra é o favorito. Segundo informações anônimas dos jornais – pois tudo que envolve Serra é sempre envolto em mistério, em articulações de bastidores -, o candidato atuou para melar as prévias. Mas o fato é que estas aconteceram e o próprio fato de Serra apresentar uma votação baixa é prova que houve uma disputa acirrada, conferindo ao processo uma legitimidade democrática. O PSDB, depois de muito tempo apenas protagonizando uma agenda negativa, projetou uma imagem de partido moderno, mesmo que a participação tenha sido pequena. Apenas 6 mil filiados votaram, de um universo de 20 mil – que já é bem mixuruca para uma cidade do tamanho de São Paulo.
Topei com uma nota na coluna da Mônica Bergamo, que pode figurar uma novidade relevante na campanha paulistana:
Entretanto, Serra provavelmente só aceite o PSD como vice se este conseguir vencer a disputa no STF para obter tempo de TV. De qualquer forma, seria um belo trunfo de sua campanha apresentar-se ao lado de Henrique Meirelles. O DEM, por sua vez, exige que o PSDB apoie o ACM Neto em Salvador antes de aceitar coligar-se aos tucanos em São Paulo. Ainda não temos pesquisas em Salvador, mas acho que o PSDB deve aceitar a condição, em virtude da prioridade que é a eleição na capital paulista.
Outra informação relevante saiu no Estadão. O PSB, finalmente, balançou-se sobre o muro. Ou pelo menos parou de balançar para o lado tucano. O presidente do PSB garantiu à Lula que o partido não apoiará Serra. Como o partido não tem candidato competitivo, a tendência natural é, portanto, apoiar Fernando Haddad, mas talvez apenas num segundo turno. Ou então se manter neutro, o que acho difícil diante de uma eleição tão fortemente polarizada como será a de São Paulo. Segundo a Veja, Campos disse a Lula que só decidirá se apoiará o PT a partir de junho.
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Um assunto que foi muito discutido nas redes sociais foi a entrevista da presidente Dilma à Veja. Nas redes sociais, setores (supostamente) mais à esquerda receberam a entrevista com muita desconfiança; alguns com hostilidade. O tititi das redes é algo, às vezes, insuportável pela superficialidade com que leva os debates, em geral enveredando por um troca-troca de grosserias. Dilma na Veja? Alguns ponderaram que Lula – que se tornou uma espécie de Buda sagrado, em referência à qual Dilma está sempre em desvantagem – também já deu entrevista à revista. Eu intervi acrescentando que Jean Wyllys e Heloísa Helena, do PSOL, também deram entrevistas à Veja. No PT, todos já beberam nesse pote: José Dirceu, José Eduarado Cardozo, Paulo Paim e Tarso Genro. Lembrei também que a Veja, em virtude de sua tiragem monstruosa, é uma das revistas que recebe maior volume publicidade pública. O mínimo que se espera do governo é que use – democraticamente – o espaço para divulgar suas ideias. A luta política – que num país democrático deve acontecer de maneira pacífica, com tolerância ao contraditório – se dá justamente travando o diálogo com as forças adversárias, representadas aqui pelo público conservador que lê a Veja. Lembremos que Dilma já deu (antes de fazer o mesmo à Veja) entrevistas exclusivas à Carta Capital e ao Nassif.
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De um articulista hoje no Globo, trazendo dados que já mencionei aqui no blog:
De acordo com dados compilados pelas Nações Unidas, a queda da participação do setor de manufaturas no PIB é um fenômeno global, a exemplo do que já ocorrera anteriormente com a agricultura. Assim, de 1970 a 2010 esta queda foi de 24,5% para 13,5% no Brasil, de 22% para 13% nos EUA, de 19% para 10,5% no Canadá, de 31,5% para 18,7% na Alemanha e de 27% para 16% no mundo inteiro. A causa dessa queda generalizada não está, evidentemente, numa suposta desindustrialização, mas no aumento da participação de outros setores, antes irrisórios, como serviços em geral, comércio, finanças, saúde, educação, ciência e tecnologia etc. A verdade é que a produção total da indústria no mundo, se não está no seu pico, está muito perto dele. Já a produção industrial brasileira é certamente muito maior hoje, em termos absolutos, do que era em 1985, ano em que, segundo a matéria, o setor manufatureiro alcançou a sua maior participação relativa no PIB.
Aviso aos navegantes: o articulista é João Luiz Maudad, do Instituto Millenium. Seu artigo é uma crítica ao tratamento editorial da Folha à constatação de que a indústria perdeu participação no PIB nacional. Como neoliberal assumido, ele critica o governo por ceder ao lobby de indústrias, cujo maior problema seria a falta de investimento e competitividade. Eu discordo do Maudad. Acho que o governo deve ajudar sim, mas de maneira extremamente cuidadosa e transparente. E a população deve ser esclarecida de que a indústria brasileira passa por um momento difícil, por causa de problemas estruturais e conjunturais variados, mas que a situação deve ser analisada com objetividade, sem exageros nem terrorismo estatístico. Não há nenhum processo de desindustrialização em massa no Brasil, mas problemas pontuais pelos quais passam indústrias de todo hemisfério ocidental, em virtude da produtividade altíssima e custo baixíssimo de suas concorrentes chinesas. Os percentuais declinantes da indústria no PIB e na exportação explicam-se pelo aumento do setor de serviços, no primeiro caso, e pela diversificação de nossa pauta exportadora, de outro.