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Eu vinha aqui fazer alguns comentários sobre os cacoetes de nossos analistas e da obsessão midiática em pintar sempre um quadro pior do que é, mas fui surpreendido pela divulgação há pouco, pela produção industrial brasileira em janeiro, que levou um tombo. Estou até com medo do que os jornais dirão amanhã. Se eles produzem uma atmosfera de apocalipse a partir de dados positivos, imagine o que farão com estes números, que apontam um declínio de 3,4% na produção industrial em janeiro, na comparação com o mesmo mês do ano passado.
Piorando o quadro, a produção industrial de bens de capital, que é o termômetro principal na avaliação do desempenho futuro da indústria nacional, sofreu uma queda fortíssima em janeiro, de 13%, sobre igual mês de 2011; no acumulado em 12 meses, porém, mantém-se estável, com alta de 1,7%.
O que de positivo eu posso dizer é que, no acumulado de 12 meses até janeiro, a queda do PIB industrial foi de apenas 0,2%.
O consolo é que a produção industrial de bens de capital vem apresentando um bom desempenho nos últimos anos, de maneira que o índice de janeiro é provavelmente um ponto fora da curva.
Voltando ao PIB de 2011, assunto principal da mídia desta quarta-feira, um dos cacoetes é dizer que as contas externas “pioraram”. Ora, as exportações brasileiras bateram recorde em 2011. As importações bateram recorde em 2011. E o saldo comercial também bateu recorde em 2011! Como podem ter piorado? Leiam um trecho do relatório do Ministério do Desenvolvimento sobre o comércio exterior em 2011.
Panorama do Comércio Exterior Brasileiro
Em 2011, o comércio exterior brasileiro registrou corrente de comércio recorde de US$ 482,3 bilhões, com ampliação de 25,7% sobre 2010, quando atingiu US$ 383,7 bilhões. As exportações encerraram o período com valor de US$ 256,0 bilhões e as importações de US$ 226,2 bilhões, resultados igualmente recordes. Em relação a 2010, as exportações apresentaram crescimento de 26,8% e as importações de 24,5%. Estes crescimentos significativos indicam a solidez da progressiva inserção brasileira no comércio internacional.
O saldo comercial atingiu US$ 29,8 bilhões em 2011, significando ampliação de 47,9% sobre o consignado no mesmo período de 2010, de US$ 20,1 bilhões, motivado por um maior aumento das exportações em relação às importações. Na comparação com 2010, as vendas de produtos básicos cresceram 36,1%, e os semimanufaturados e os manufaturados se ampliaram em, respectivamente, 27,7% e 16,0%. O grupo de produtos industrializados respondeu por metade do total exportado pelo Brasil no ano de 2011.
O cacoete a que me refiro é a mania de achar que aumento de importação é necessariamente ruim. Não é! Se importar fosse ruim, país rico não importava. Repare quem são os principais importadores mundiais:
O Brasil já é a sexta maior economia do mundo (passou a Inglaterra em 2011) e deve se tornar a quinta em 2012 (passando a França). Não tem porque recear um crescimento das importações. O setor industrial brasileiro terá que se adaptar a essa nova realidade, e usá-la em seu favor, como já está fazendo, aliás, aproveitando o câmbio forte para importar máquinas e equipamentos, além das respectivas consultorias necessárias para operá-los.
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Alguns comentários políticos:
Não tenho (ou não gostaria de ter) presunção de oferecer nenhuma verdade conclusiva sobre a realidade política paulistana. Apenas uso os dados estatísticos e as notícias a que tenho acesso, e procuro interpretá-los usando o modesto senso que a natureza me deu. Em minha última análise sobre o processo eleitoral paulistano, apontei as dificuldades de ambos os candidatos, salientando que o tucano José Serra teve sua rejeição (segundo o Datafolha) rebaixada para 30%, contra 35% há alguns meses. 30% é um nível aceitável para um candidato conhecido por quase 100% do eleitorado, num ambiente fortemente polarizado como é São Paulo. Esses 30% representam a grosso modo o eleitorado anti-tucano da cidade. O eleitorado antipetista deve ter uma magnitude similar, a julgar pelas últimas eleições realizadas no município. Será uma eleição disputada, e Serra tem o auxílio luxuoso da mídia, que o blinda magnificamente contra toneladas de denúncias pesadíssimas que pesam sobre o candidato.
Em análise para o Estadão, José Roberto de Toledo trouxe informações interessantes: nem os simpatizantes do PT em São Paulo ainda não conhecem Haddad. Vale a pena reproduzir um trecho:
Entre o terço do eleitorado paulistano que se diz simpatizante do PT, apenas 5% afirma conhecer “muito bem” o candidato do partido. Entre os simpatizantes do PSDB, o grau de alto conhecimento de Haddad é o dobro: 11%. Ou seja, Lula escolheu um candidato que tem duas vezes mais penetração entre os rivais do que entre os petistas. E não foi por acaso.
A estratégia paulistana traçada pelo ex-presidente dá de barato que Marta Suplicy não se reelegeu prefeita em 2004 porque à alta rejeição ao PT somou-se a rejeição pessoal da agora senadora. Para 2012, Lula escolheu, propositalmente, um desconhecido -e, portanto, não rejeitado- com potencial de agradar à classe média que não vota no PT desde 2000: “novo”, bem apessoado e especialista em educação.
O plano foi concebido para vencer o segundo turno. Mas, antes, é preciso chegar lá. E o peso de carregar um ilustre desconhecido até 3 de outubro ficou inteiramente sobre o ex-presidente. Haddad sofre de “lulodependência” aguda. O PT, à margem, assiste o rival PSDB cooptar aliados e somar tempo de TV. Enquanto isso, a grande maioria do eleitorado nem se deu conta da novela.
O Datafolha perguntou aos paulistanos quem Lula está apoiando em São Paulo. Mesmo com o entrevistador estimulando a resposta com os nomes dos pré-candidatos, só 10% responderam que o ex-presidente apoia Haddad. Essa taxa cai para 5% entre as mulheres, para 6% entre quem não passou do ensino fundamental e 7% entre quem ganha até 5 salários mínimos. Mesmo entre os petistas, só 8% sabem.
Falemos um pouco agora do Rio de Janeiro.
Bem, no Rio, a eleição já está praticamente ganha por Eduardo Paes, o atual prefeito. A oposição mais forte vem de uma dupla bizarra, formada pelos filhos de César Maia e Anthony Garotinho. Sobre a administração Paes, as últimas informações que tenho (via blog do Mello) dão conta de redução dos investimentos sociais e uma quadro calamitoso na saúde pública. É uma pena, porque o programa de saúde do Estado, as Upas, poderia constituir um formidável avanço no setor, mas somente se a prefeitura o complementasse melhorando e investindo nos hospitais da cidade e postos de saúde. As próprias UPAs, uma ideia excelente, sofrem com uma gestão preguiçosa. Em suas unidades, os médicos de plantão preferem passar boa parte do tempo dormindo em seus gabinetes, deixando as responsabilidades para algum enfermeiro. E os atendentes não são qualificados, gerando nervosismo entre as pessoas.
Esperemos que, apesar da baixa concorrência, as eleições deste ano sirvam ao menos para denunciar os problemas da saúde pública do Rio de Janeiro e cidades adjacentes.
(Ilustração da capa: o paulista Wesley Duke Lee.)
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Volto a São Paulo, fazendo uma análise (só para assinantes) da última pesquisa Datafolha, cuja íntegra foi aberta hoje ao público, sobre a popularidade de Kassab.
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A pesquisa nota uma melhora significativa da imagem do prefeito junto à população desde dezembro: o percentual de entrevistados que consideram o governo Kassab Bom ou Ótimo saltou de 20% para 26%.
Mas ainda é um prefeito bastante impopular, visto que um número bem maior (36%) o consideram Ruim ou Péssimo. Num ambiente de quase pleno emprego, com a capital paulista registrando a menor taxa de desemprego em mais de vinte anos, a impopularidade de Kassab é uma proeza.
No detalhamento por faixas etárias, de instrução e de renda, nota-se que o prefeito vai mal principalmente entre os jovens e os mais pobres, um perfil tipicamente conservador.
Entre os jovens com faixa etária entre 25 a 34 anos, um total de 43% consideram o governo Kassab ruim ou péssimo. No corte por instrução, sua maior rejeição (39%) acontece entre os que apresentam ensino fundamental; mas é igualmente alta entre os que possuem ensino médio e superior.
O Datafolha fez um cruzamento entre a popularidade do prefeito e as intenções de voto para as eleições deste ano. O resultado retrata a a confusão mental em que ainda se encontra o eleitor, mas já aponta o início de uma formação política. Entre os eleitores de Serra, 23% acham Kassab ruim/péssimo; entre os eleitores de outros candidatos, este índice dá um salto. Uma notícia particularmente ruim para Serra é que o prefeito é fortemente rejeitado pelos eleitores de Russomano, que ocupa o segundo lugar nas pesquisas: 44% dos eleitores do candidato do PRB consideram o governo Kassab ruim ou péssimo. Com isso, o eleitor de Russomano, caso seu candidato não chegue ao segundo turno, tenderá a migrara para Haddad. Curiosamente, o eleitor de Soninha registra uma rejeição muito forte à Kassab, apesar da candidata integrar a sua administração: 42% de seus eleitores consideram o governo Kassab ruim/péssimo. Esse quadro dificultará o esforço da candidata em convencer seus eleitores a votarem em Serra, aliado de Kassab.
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