Indústria cresceu mais que o PIB em 10 anos

O IBGE publicou hoje as estatísticas referentes ao PIB em 2011. O dia de economia do Cafezinho é quarta-feira, mas a importância desses números justifica uma certa flexibilidade em nossa agenda.

Meu foco é especificamente o desempenho da indústria, em razão dos aspectos polêmicos que envolvem o tema. Minha análise geral é que o setor vive um momento difícil, por causa do câmbio – que prejudica a exportação e favorece a substituição de produtos nacionais por importados -, mas que há também uma campanha midiática, patrocinada pelos poderosos lobbies dos sindicatos (patronais e trabalhistas) do setor, para exagerar o tamanho da crise e propor soluções fáceis.

O PIB no Brasil cresceu 2,7% em 2011, um valor modesto, mas um número bastante saudável no contexto da economia brasileira, com as regiões mais pobres crescendo mais, e as ricas, menos, trazendo maior equilíbrio ao país. A mesma coisa vale para o corte de classes: o crescimento do PIB ancorou-se sobretudo no crescimento de poder aquisitivo, renda e demanda das famílias situadas nos escalões inferiores da pirâmide social.

Vejamos alguns gráficos do IBGE:

 

A indústria de transformação manteve-se estável, em 0,1%. Manter-se firme diante da tsunami cambial é um aspecto positivo. Vamos analisar em detalhes este segmento em particular:

 

 

Os dados trazem uma simplificação que prejudica um pouco a análise. O item automóveis, por exemplo, indicado como um dos que registraram baixa, não deve ser totalmente separado do setor de autopeças em geral, ou de transportes, como a produção de caminhões e ônibus, por exemplo, na qual o Brasil vem se tornando um grande fornecedor global. De qualquer forma, vale destacar a presença do item Máquinas e Equipamentos na listinha de setores que se deram bem em 2011. Este setor, também chamado de Bens de Capital, é o melhor termômetro do estágio de industrialização de um país. Se está bem, crescendo, é porque o país segue se industrializando, visto que este setor é o que produz máquinas e equipamentos para as indústrias.

Eu gosto especialmente da tabela que traz o PIB em valores correntes, porque assim fugimos um pouco do show de percentuais que tanto enganam o analista. Às vezes, se alardeia que a indústria perdeu espaço percentual no PIB como um fato negativo, quando essa é a tendência de qualquer economia moderna, desde os anos 80. No caso, a indústria perde espaço para um setor de serviços cada vez mais diversificado. Além disso, há uma certa defasagem nos critérios convencionais, criados naturalmente nos países ricos. Um país como o Brasil, com sua impressionante quantidade de recursos naturais, não pode usar os mesmos critérios do Japão, ou da Bélgica, para medir o seu índice de industrialização. É óbvio que o capital excedente nacional será fatalmente drenado para alguns setores nas quais o Brasil se destaca, como agropecuária e mineração. Temos as maiores jazidas de ferro do mundo, e as maiores plantações e rebanhos: com sua magnitude e potencial de expansão, esses setores puxam para si uma quantidade monstruosa de capital. É um erro, porém, menosprezá-los com um ar blasé, tratando-os como reles produtos primários. Eles usam hoje muita tecnologia. Aliás, a agropecuária brasileira é famosa no mundo por sua produtividade, que só é obtida através de uma tecnificação intensiva.

Além disso, a agropecuária, historicamente, sempre foi um dos grandes motores da indústria. No Brasil, não é diferente. As fazendas usam tratores, caminhões, colheitadeiras, secadores e selecionadores de grãos, máquinas que são produzidas pela indústria nacional. O Brasil está se tornando, por isso mesmo, um dos maiores fabricantes mundiais de caminhões, tratores e máquinas agrícolas.

Vamos à tabela por valores correntes:

 

Esses valores, conforme já dito, são correntes, ou seja, não atualizados pela inflação, por isso mostra um crescimento do PIB de 9,9% (índice que declina para 2,7% após ser devidamente ajustado pela inflação).

Repare que o segmento indústria, de fato, cresceu menos que o PIB em 2011, 7,3% contra 9,9%. Entretanto, se fizermos a comparação com o ano de 2002, o PIB da indústria brasileira foi o item que mais cresceu no período: 182%, contra 129% da agricultura, e 180% do serviços. Repare ainda que a formação bruta de capital fixo, que corresponde a instalações agropecuárias e (sobretudo) industriais, registrou um crescimento de 230% nos últimos dez anos! Esse é um dado que mostra um país ampliando sua base industrial, não o contrário.

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A nota acima mereceria apenas um comentário breve sobre a hipocrisia, com direito a alguma citação erudita. Mas poupá-los-ei disso, até porque não me parece que a notícia tenha surpreendido alguém. O Nassif aproveitou a deixa para fazer uma análise interessante sobre as relações entre jogo político, crime organizado e mídia.

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A eleição em São Paulo continua ocupando boa parte das editorias políticas. A briga pelo apoio do PSB é o assunto principal da semana. O presidente do PSB, Eduardo Campos, decidiu postergar para junho uma decisão definitiva sobre quem seu partido apoiará em São Paulo. A maioria dos analistas acredita que será Haddad, porque seria a tendência lógica em função da parceria entre PT e PSB a nível federal. No entanto, a súbita valorização do cacife pessebista torna a decisão de Campos neste sentido uma oportunidade para que ele possa “vender”  o apoio a Haddad em troca do maior número possível de alianças nas eleições municipais deste ano, e inclusive negociar (falou-se nisso) uma vaga de vice-presidente nas eleições de 2014.

O trunfo do PSDB é o controle das poderosas máquinas de São Paulo e Minas, além da prefeitura paulista, e suas lideranças, percebendo o valor do butim pessebista, iniciaram um ataque pesado de sedução dos comitês socialistas regionais. Uma aliança entre PSB e PSDB em São Paulo poderia se tornar, além disso, um exercício para uma aliança maior em 2014, entre Campos e Aécio, uma chapa que poderia representar uma ameaça real à hegemonia petista.

Era o momento perfeito para Lula intervir, convencendo a cúpula do PSB a continuar no caminho que eles vem trilhando até o momento. PT e PSB, como partidos de centro-esquerda, são aliados naturais em termos ideológicos. Uma aliança com o PSDB, levaria o PSB a flertar com a direita, o que poderia refletir negativamente  no  partido a nível nacional, sobretudo no Nordeste, justamente a região onde o PSB tem mais crescido.  Mas Lula está doente, e o Brasil deveria deixá-lo em paz. A responsabilidade, então, é do PT, que deveria entender que a aliança com o PSB, em primeiro lugar, é importante para vencer a eleição em São Paulo, uma tarefa bastante complicada em virtude do forte sentimento antipetista na cidade; em segundo lugar, para cimentar o bloco pluripartidário que disputará as próximas eleições presidenciais.

Ilustração da capa: pintura de Pollock.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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