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Eleição em SP monopoliza noticiário

O ingresso de José Serra na campanha pela prefeitura de São Paulo representou uma injeção de adrenalina na política brasileira, fazendo-a sair abruptamente de sua modorra carnavalesca.

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O ingresso de José Serra na campanha pela prefeitura de São Paulo representou uma injeção de adrenalina na política brasileira, fazendo-a sair abruptamente de sua modorra carnavalesca. Tendo sido o adversário de Dilma em 2010, o ingresso do tucano na campanha paulistana revive o clima altamente polarizado do pleito nacional. Sua chegada barulhenta, tumultuosa, e o discurso com que inaugurou sua campanha, confere à luta pelo poder em São Paulo um ar de terceiro turno.

A julgar pelo que diz a mídia, a presidente Dilma topou o desafio e a nomeação do senador Crivella (PRB-RJ) para o ministério da Pesca, significou um inteligente, diria até mesmo maquiavélico, contra-ataque.

O flerte com a bancada evangélica foi muito comentado. Os representantes da mesma, por outro lado, afirmaram que, apesar de Crivella realmente ser um de seus membros mais influentes, não se sentiam representadas no governo apenas com a nomeação do senador carioca.

Entrevistado pelo Estadão, o secretário-geral do PRB, o deputado estadual Gilmaci Santos, mostrou, porém, que não será fácil para o PT conseguir apoio do eleitorado evangélico paulistano.

Estadão: Seria possível caminhar com o Haddad em um segundo turno?

Santos: Não, também não. Sob nenhuma hipótese. O partido fechou questão. Nem se discute mais.

A maior pinimba dos evangélicos contra Haddad é porque eles o consideram culpado por tentar impor o chamado “kit-gay” nas escolas. A ideia do kit-gay foi, ao que parece, engavetada. Tenho lido por aí que os especialistas em combater a homofobia nas escolas agora acham melhor introduzir o debate sobre a questão de maneira discreta, embutido nos livros, o que permite conduzir o assunto de maneira mais lúdica, por um lado, e mais científica, por outro. Um kit gay politizaria a questão, provocando polêmicas agressivas que acabariam por prejudicar aqueles que ele visa justamente proteger, os homossexuais adolescentes, ou mesmo infantis. O “kit gay” foi distribuído, mas somente para os professores, entendendo assim que estes teriam condições para mediar a polêmica de uma maneira mais sensível, visto que só eles conhecem a oportunidade e o tom adequados para promover esse tipo de debate.

A questão do aborto é a mais delicada. Houve um retrocesso ideológico muito forte no mundo religioso, com as igrejas disputando quem é mais agressiva nesse ponto. O aborto oferece, de fato, um profundo dilema bioético. O representante político, por mais que aspire à realização de avanços progressistas na sociedade, não pode se descolar completamente da opinião da maioria, mormente se aspira a vitória numa eleição majoritária.

De qualquer forma, o mais importante, neste momento, é descriminalizar, para reduzir o número de mortes maternas com ausência ou deficiência de atendimento médico.

O flerte com os evangélicos, se é mesmo disso que se trata, não terá influência somente em São Paulo, mas em todo país. Prepara inclusive o terreno para 2014, visto que a atuação deles, juntamente com segmentos mais reacionários da igreja católica, foi determinante para levar a eleição de 2010 para o segundo turno.

A mídia brasileira, que está mais para católica liberal, amanheceu repleta de notas biográficas sobre Crivella. Não podemos nos esquecer que o senador é sobrinho de Edir Macedo, o inimigo número 1 das organizações Globo. A Folha aventa ainda a hipótese de que a nomeação de Crivella representa um agrado à TV Record, da qual Macedo é dono.

Mas a Globo, como se sabe, também vem namorando os evangélicos, tendo ajudado a produzir, recentemente, um grande show evangélico no Rio.

Na verdade, talvez tenha havido um pouco de exagero nas interpretações sobre o significado da nomeação de Crivella. Primeiro porque o ministério da Pesca não tem muita importância. Segundo porque Crivella, independente de suas posições religiosas conservadoras, tem sido, desde o início do governo Lula, um de seus defensores mais ferrenhos e leais. Crivella defendeu Dilma inclusive das baixarias religiosas lançadas pela campanha de Serra: de que Dilma teria dito que “nem Jesus a venceria”, que era “assassina de criancinhas”, dentre outras pérolas do bom mocismo tucano.

O portal Terra divulgou ontem interessantes entrevistas com os dois protagonistas dessa batalha, Haddad e Serra.

Independente de seus defeitos, das denúncias que o cercam, da fama de mau, das acusações de ter patrocinado um campanha suja, Serra é um candidato fortíssimo, porque tem experiência, astúcia, um enorme recall. É o nome mais sólido hoje em dia das oposições. E São Paulo é uma cidade famosa por seu conservadorismo.

O PT paulista, por sua vez, alimenta um partidarismo sectário, e uma das provas disso é que quase todos os outros partidos de esquerda (PSB, PCdoB, PDT) estão alinhados ao governo estadual tucano. Lula trouxe Haddad para São Paulo justamente porque ele era de fora do PT paulista e, portanto menos contaminado por esse sectarismo provinciano.

Ao mesmo tempo, o PT tem uma grande força eleitoral em São Paulo, porque o estado, por apresentar um capitalismo em estágio avançado, oferece um cenário ideológico consequentemente mais polarizado. A tensão entre capital e trabalho é mais acirrada em São Paulo do que em qualquer outra região do país.

*

Eu considero o Mercadante um bom ministro. Pelo menos, não ouvi falar de nenhum desastre administrativo patrocinado por ele. Lamento, contudo, a mania do petista de confundir franqueza com debilidade argumentativa. Ano passado, perguntado se o governo estava preparado para uma nova sequência de epidemias, ele disse que “milhões de pessoas iam morrer”. Ora, que pessoas vão morrer com doenças, todos sabemos; não precisamos que um ministro de Estado nos diga isso; cabe ao ministro dar informações sobre as providências do governo para evitar ou minimizar o problema. Hoje ele aparece na mídia com outra pérola, atribuindo as falhas do Enem ao tamanho do Brasil.

O MEC não tem culpa de o Brasil ser tão grande e diverso. São 140 mil salas, 400 mil pessoas fiscalizando. E tem de ter um sigilo absoluto. O risco logístico sempre haverá – disse Mercadante sobre o exame, que classifica de um “critério republicano” de acesso à universidade.

Ora, Mercadante, a gente sabe que “risco logístico sempre haverá”. Isso é óbvio. Mas você causa péssima impressão ao falar assim. O correto, numa autoridade, é dar informações de como esse risco poderá ser evitado, de forma a atingir margens mínimas, que não comprometam a esperança do estudante de contar com um sistema de aferição justo.

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Um grupo de militares da reserva assinou manifesto reafirmando as críticas que o Clube Militar havia feito à Comissão da Verdade e à presidente Dilma e depois retirado de seu site. Dentre os signatários, alguns notórios torturadores. O ministro da Defesa, Celso Amorim, determinou que eles sejam punidos por insubordinação e desrespeito. São umas viúvas da ditadura, um bando de anciões apijamados, que envergonham (citando Leandro Fortes) nossas políticas públicas de combate à esclerose múltipla.

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Boa notícia. O ministro Luiz Fux liberou investigação do Conselho Nacional de Justiça sobre juízes.

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A polêmica em torno das declarações de Paulo Henrique Amorim continua hoje com artigo do Demétrio Magnoli, publicado no Globo e no Estadão.  Amorim paga por sua ativa participação política. Seus adversários, vendo-o com o flanco desguarnecido, não perderam a oportunidade. O blogueiro lembrou-me um personagem de Philip Roth, que em seu romance A Marca Humana, descreve as suplícios de um professor universitário acusado injustamente de racismo.

Ora, eu não concordo com boa parte das posições do PHA, seja em relação ao conteúdo, seja em relação à forma. Mas se eu aprovasse tudo que PHA diz, e da maneira como o faz, eu seria PHA, e não Miguel do Rosário. O mais importante é que PHA é mais que um blogueiro, ele representa um princípio de independência. Além de ser um bastião na luta contra as corporações midiáticas.

O artigo de Magnoli é ridículo do início ao fim, ao acusar Amorim de “apoiar” o governo, omitindo que Estadão e Globo também apoiaram governos, os militares, e o de FHC. Qualquer um que acompanhe a política brasileira, sabe que não faltam críticos ao governo. O que falta são críticos à mídia. Quer dizer, há muitos críticos da mídia, mas raros são os que tem o peso midiático de Amorim.

Os ataques dos pitbulls midiáticos, no entanto, são previsíveis. Curioso é assistir a proliferação de especialistas em racismo, com teses prolixas, trágicas, confusas; que escondem, no fundo, ataques de ordem pessoal, por motivos obscuros. A turminha que tem pinimba com os “blogueiros progressistas” aproveitou a deixa para “se vingar”. Ora, Amorim errou, é humano, mas daí a acusá-lo de racista é mau caratismo. Nem vale o subterfúgio jesuítico de que afirmar  “que todos nós somos racistas”. Sim, todos somos um pouco racistas, inconscientemente, mas então pode-se estar sendo racista inclusive ao acusar Amorim de racista, de maneira que o mais justo é filosofar sem apontar o dedo para ninguém.

Em relação ao episódio em si, não apenas acho que Amorim errou como eu gosto do Heraldo Pereira. Claro, não o conheço pessoalmente, então não posso falar nada de seu caráter pessoal. Como jornalista, porém, acho que ele conseguia mediar, e mesmo conter, de forma digna a tara antilulista do William Waack e do Arnaldo Jabor. Eu observava a sutileza com que ele escapava das armadilhas montadas por Waack, como que sugerindo, maliciosamente, o que Pereira diria em sua análise. E Pereira lograva, quase sempre, sair ileso, com uma astúcia tocada com rosto e voz cândidos.

É claro que Pereira não vai falar mal da Globo, nem tem obrigação nenhuma de defender cotas. Da mesma forma, é desonesto exigir que Amorim fale mal de seu patrão, Edir Macedo. Ninguém é divino. A pessoa que exige isso certamente tem ou terá um dia um patrão, pessoa ou instituição, que também não poderá criticar abertamente. A independência humana é sempre relativa. Isso é um imperativo categórico. Somente a restrição à liberdade nos permite conceber a existência da liberdade.

*

Em posts anteriores, citei dado da penúltima pesquisa Datafolha sobre as intenções de voto em São Paulo. Esqueci que tem uma mais recente, de janeiro. A mudança é pequena. A rejeição de Serra em São Paulo caiu de 35 para 33% e a de Kassab de 40 para 37%.

 

Ilustração: Iberê Camargo, Outono no Parque Redenção.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Edgar Borges Júnior

04/03/2012 - 12h29

Miguel, trabalho na assessoria do Deputado Estadual Pedro Bigardi, do PCdoB-SP, líder da nossa bancada na casa (que conta também com a Deputada Leci Brandão) e gostaria de afirmar que não existe alinhamento algum do nosso Partido e de nossa bancada na ALESP com o governo Alckmin. Fazemos parte da oposição, junto com o PT, o PSOL e o Dep. Major Olímpio, do PDT.

Talvez você tenha confundido com a situação de o PCdoB ocupar a Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo na administração municipal do Kassab. Mesmo aqui, não há alinhamento automático com o seu governo. Mas se você conhece o PCdoB, sabe que não fazemos a política da terra arrasada: o Partido acumula grande experiência e know how na área do Esporte e não seríamos sectários de negar auxílio para que a cidade de São Paulo realize com sucesso a Copa do Mundo. O que não nos impede de criticar absurdos como a operação na Cracolândia, em Janeiro.

Grande abraço, camarada!

    Miguel do Rosário

    04/03/2012 - 20h47

    Obrigado pela informação. Eu li uma notícia no jornal que falava que o PCdoB, juntamente com PDT e PSB, participavam do governo Alckmin.

    Abs

Eduardo

03/03/2012 - 11h57

Miguel, como sempre, parabéns pelo texto, seu blog é uma ilha de sanidade no mar da internet. Só um comentário, o RSS do site não parece funcionar, estou a muito tempo sem receber as atualiza?ões. Abra?o.

    Miguel do Rosário

    03/03/2012 - 16h40

    Valeu, Eduardo. Sobre o RSS, tive que desativar por razões técnicas.

baixadacarioca

02/03/2012 - 10h55

Eu não gosto do HP (aliás eu não gosto da Globo e, por consequência, de seus aliados, sejam colaboradores ou parceiros!), mas entendo que ele deve obediência e compromisso com o seu empregador, tal como o próprio PHA manifestou em recente entrevista ter sido um dia como empregado da Globo.
O que chama a atenção na disputa em SP é que aí está o ultimo reduto de sobrevida do psdb e por isso eles (o partido e a mídia) lutam desesperadamente para manter o PT distante da prefeitura. Imaginem se Haddad ganha!? Como ficaria Alckimin e seu governo? Como ficaria a velha mídia e seus astutos colunistas?

Antonio Luiz

02/03/2012 - 09h22

"O PT paulista, por sua vez, alimenta um partidarismo sectário, e uma das provas disso é que quase todos os outros partidos de esquerda (PSB, PCdoB, PDT) estão alinhados ao governo estadual tucano."

Acho que faltou de sua parte, Miguel, elencar os fatos que justificaram esse cenário, senão eu não teria como julgar se sua afirmação está correta.

    Miguel do Rosário

    02/03/2012 - 10h19

    os fatos são o alinhamento dos outros partidos ao governo alckmin, e fatos como o episódio dos aloprados, em que membros do pt paulista prejudicaram severamente um projeto nacional.

      Antonio Luiz

      02/03/2012 - 14h17

      Se é apenas isso, Miguel, acho que você está equivocado. Tradicionalmente, PDT e PSB, aqui em São Paulo não se caracterizam por serem partidos de esquerda. No segundo caso, desde os tempos de Rogê Ferreira. Vejo Erundina como uma "estranha no ninho" do PSB. A novidade é o PCdoB que, recentemente, ingressou no campo PSDB-PSD. Até agora não vi as justificativas políticas para fizesse isso. Mesmo supondo que seja devido ao sectarismo petista (o que já virou clichê), será que isso o justificaria? Estou falando de o partido comunista mais antigo do Brasil apoiar as forças mais retrógradas da Nação. Ou seriam também tais forças apenas vítimas de mais um clichê? Acredito que não.
      Então, acho que está faltando alguma coisa para melhor o que ocorre com a política em São Paulo e que, não necessariamente, passa só por aqui.

        Miguel do Rosário

        02/03/2012 - 14h45

        Sabe de uma coisa. Você tem razão, Antônio. Meus adjetivos neste post ficaram mal colocados. Acho que eu quis demonstrar "independência", quis provar que não sou "chapa-branca", e quem pagou o pato foi o PT de São Paulo. Espero não repetir esse tipo de erro no futuro. De qualquer forma, valeu para chamar a atenção para essa estranha "aliança" dos partidos de esquerda (PSB, PDT, PCdoB) de SP com o governo Alckmin.

        Abs

elson

02/03/2012 - 07h12

Olha , nessa disputa paulistana , Serra pode até ser forte e contar com aliados de peso ( a mídia ) que irão bombardear Fernando Hadad diuturnamente enquanto escondem a privataria e outras mazelas do tucano .
Porém Hadad é um nome novo como Dilma e fez parte de um governo bem sucedido , tendo agóra como seu padrinho e principal cabo eleitoral um presidente que deixou o cargo com altos indices de aprovação .
Se Lula fêz Dilma presidente de um país com dimensões continentais porquê não não fazer um prefeito em São Paulo ? Aliás , São Paulo é exemplo de uma péssima administração e quem é o responsável direto por Kassab ser hoje prefeito ?
Serra poderá provar do mesmo veneno de Maluf , que fêz um sucessor cuja administração foi pífia e depois quando tentou se eleger prefeito novamente não foi nem ao segundo turno .
Portanto , essas eleições paulistanas serão uma novela , com direito as baixarias dignas de um Big Brother Brasil , pois o tucanato não irá entregar sua galinha dos ovos de ouro tão facilmente .


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