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Tenho acompanhado a emergência de Eduardo Campos, governador de Pernambuco, no cenário nacional. E observado como a mídia tem tentado aproximá-lo, à força, de Aécio Neves, exagerando os laços que os unem. Vários colunistas já externaram a possibilidade de uma chapa formada por Aécio Neves e Eduardo Campos.
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Essa chapa, contudo, não faz sentido. Primeiro porque ela significaria que Campos se alinharia contra Lula, o que não é plausível. Segundo porque Campos jamais se submeteria ao papel humilhante de ser vice de uma chapa encabeçada pelo PSDB. E Aécio, por seu lado, também não se interessaria em ser vice de Campos. Então, esta é uma tese amalucada, um sonho louco na cabeça de colunistas políticos já meio desesperados com a falta de perspectivas das forças de oposição que eles apóiam.
No Globo:
Eduardo Campos, o novo ‘painho’ da política no Nordeste
BRASÍLIA. Neto e herdeiro político de um dos ícones das esquerdas no Brasil — o ex-governador Miguel Arraes —, com seus olhos azuis e um sorriso permanente de propaganda de pasta de dentes, o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, de 46 anos, vem fazendo no Nordeste, sorrindo, o que antes o todo poderoso Antonio Carlos Magalhães fazia gritando na Bahia. Pelo poder conquistado não só na região e o aniquilamento da oposição em seu estado, já é chamado de o novo “painho” do Nordeste.
Em parceria com o também pernambucano ex-presidente Lula, mudou a economia do estado, transformando-o num canteiro de obras, ganhou a queda de braço de 30 anos com outros estados nordestinos por uma refinaria da Petrobras, foi eleito o melhor governador do Brasil por dois anos seguidos com 86% de avaliação positiva, é aliado fiel do governo Dilma Rousseff e comanda o partido com pulso de ferro. Mas, entre os aliados, paira uma desconfiança de que o político mais poderoso do Nordeste vá lhes dar uma rasteira em 2014.
Cultuado até pela oposição
Afável, bom contador de “causos”, um dos melhores imitadores de seu guru político, o ex-presidente Lula, Eduardo Campos é cultuado publicamente, por conveniência, na base governista e na oposição. Pelo crescimento e desenvoltura, é visto como ameaça pelos dois lados. E também é entre políticos dos dois lados que já se faz com frequência uma pergunta comum: é um coronel moderno com mais verniz ou um socialista que prefere o Diário Oficial a “O Capital”?
Apesar de não trazer o sobrenome, Eduardo Campos colou no avô bem cedo. Entrou na Faculdade de Economia da Universidade Federal de Pernambuco aos 16 anos e, já na primeira campanha, para derrubar o antigo Diretório Acadêmico, contou com a ajuda da mãe, Ana Arraes, que no dia da eleição lhe deu um conselho que repete até hoje:
— Vá para ganhar!
Aos 19 anos, em 1986, fez campanha para o avô que voltava do exílio e disputava o governo de Pernambuco. Com a vitória, passou a chefe de gabinete. Em 1994, no novo governo de Arraes, assumiu o cargo mais importante do governo, o de secretário da Fazenda.
Foi quando protagonizou o escândalo dos precatórios. Uma CPI no Congresso Nacional resultou numa denúncia do Ministério Público Federal para apurar sua responsabilidade na acusação de emitir fraudulentamente títulos públicos de Pernambuco para pagar precatórios pendentes.
Houve uma completa desconstrução de sua imagem e da do então governador Arraes. A reabilitação na eleição de 1998, da qual muitos duvidavam, virou um case eleitoral: ele se elegeu deputado federal e virou líder do PSB na Câmara.
Na eleição de 2002, uma ala do PSB apoiou o peemedebista Anthony Garotinho para a eleição presidencial, mas Eduardo Campos aproximou o partido de Lula, começando uma parceria que persiste até hoje. Com as trapalhadas do então presidente do PSB, Roberto Amaral, no Ministério da Ciência e Tecnologia, articulou em causa própria e acabou ocupando a vaga na Esplanada.
Em 2006, com o apoio de Lula, elegeu-se governador. Outro grande trunfo na época foi o arquivamento do processo dos precatórios pelo STF, inocentando Campos e Arraes. A absolvição derrubou a única agenda negativa que os adversários na disputa tinham contra ele.
É casado com a economista e auditora concursada do Tribunal de Contas do Estado Renata e tem quatro filhos — Maria Eduarda, João Henrique, Pedro Henrique e José Henrique. Os adversários dizem que Eduardo Campos difere do avô Miguel Arraes na questão do “patrimonialismo e familismo”. O governador teria transferido a família dele e da mulher para o governo. O irmão João Campos, escritor, virou promotor da Fliporto, uma feira de livros que é particular, mas conta com patrocínios de órgãos estaduais e federais.
Antes de ter a imagem arranhada na cena política nacional pela campanha que fez para eleger a mãe como ministra do Tribunal de Contas da União (TCU), ano passado, ele já tinha se cercado de parentes no Tribunal de Contas do Estado (TCE). A mulher já era auditora concursada. Mas ele indicou e nomeou como conselheiros um primo seu, João Campos; e um primo da mulher é um dos seus homens fortes, Marcos Loreto.
O ex-líder petista Maurício Rands, nomeado secretário de Articulação Institucional do governo de Pernambuco, é primo de Renata. O atual secretário da Casa Civil, Tadeu Alencar, é primo do governador. O pai de Renata, o médico Cyro de Andrade Lima, foi nomeado membro do Conselho de Administração da estatal de saneamento Compesa.
— Hoje, Eduardo Campos deseja se tornar hegemônico na esquerda, sepultando o PT ou subordinando-o inteiramente ao Palácio (das Princesas, sede do governo local). Sobre a oposição, ele mesmo desdenha e diz que ela está falando apenas para 6% do eleitorado, pois 90% o aprovam, segundo as pesquisas, e 4% estão indecisos — diz a ex-deputada tucana Teresinha Nunes, uma das poucas vozes da oposição em Pernambuco.
Um dos mais proeminentes representantes do capital e aliado de primeira hora em Pernambuco, o ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria(CNI) e senador eleito em sua chapa, Armando Monteiro Neto (PTB-PE), diz que Eduardo Campos recuperou a autoestima dos pernambucanos ao colocar o estado numa posição de liderança na região.
— Eduardo é o emblema de um novo tempo para Pernambuco — diz Monteiro.
O escritor Ariano Suassuna é quase um amuleto que Eduardo Campos carrega desde que deu os primeiros passos na política. Quando nasceu da união do escritor Maximiano Campos e Ana Arraes, sua vizinhança era, na frente, a casa de Ariano. Do lado, a do avô Miguel Arraes. Suassuna tem com ele uma relação paternal e diz que a amizade começou desde antes de ele nascer.
O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), disputou com Eduardo Campos o governo em 2006, e a campanha não foi nada amena. Agora travam de novo uma guerra surda, porque Campos não quer que ele dispute o governo em 2014 com seu afilhado, o ministro Fernando Bezerra (Integração Nacional), em evidência neste início de ano, acusado de ter favorecido seu estado com recursos para prevenção e combate a enchentes.
A proximidade maior de Campos no PT é com Lula, com quem se reúne amiúde para discutir decisões de governo e alianças regionais. Semana passada, ao voltar de uma viagem aos Estados Unidos, desceu em São Paulo para almoçar com o ex-presidente.
Na campanha de Dilma, ganhou pontos ao enquadrar e obrigar o correligionário Ciro Gomes (CE) a desistir de se candidatar a presidente. Ganhou eterna gratidão de Lula, mas também um desafeto barulhento no partido. Ciro não o perdoa. Já disse, por exemplo, que Campos não tem a experiência que ele, Ciro, tem em campanhas presidenciais.
— Lula e Dilma ainda vão se arrepender. Eduardo Campos ainda vai dar uma rasteira — aposta, na surdina, um dirigente petista.
Parcerias com o PSDB
Mesmo sendo apontado como um fiel aliado de Lula e Dilma, o governador pernambucano tem parcerias eleitorais com o PSDB de Aécio Neves em vários estados e é estimulado a disputar a Presidência em 2014 por setores da base governista e da oposição — Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) e Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), por exemplo, consideram que, por seguir desde o início a política bem-sucedida Lula/Dilma, ele teria até mais chances que Aécio Neves.
— Eduardo Campos é hoje a liderança mais destacada do Nordeste e com maior poder de aglutinação — diz Geddel.
O cientista político pernambucano Antônio Lavareda, ligado ao PSDB, reconhece seu potencial:
— Eduardo Campos conseguiu colocar seu nome na prateleira dos presidenciáveis para 2014.
— É um quadro da política nacional que tem contribuído muito com nosso estado. A economia mudou. Eduardo é inteligente, trabalhador e sensível. Não conheço inimigos políticos dele — diz a mãe, Ana Arraes.
A ministra atual do TCU acha que o filho aprendeu bem o ensinamento de que, se vai para uma disputa, tem que ser para ganhar:
— Tudo começa na cabeça. Se você coloca na cabeça e vai para uma eleição se sentindo derrotado, vai perder. Não é uma coisa de prepotência, de ganhar de qualquer jeito.
Mas seus adversários políticos não concordam que é só uma questão de persistência. Dizem que Eduardo Campos é extremamente agressivo quando quer conquistar alguma coisa. E, se resolvem lhe enfrentar, é no tudo ou nada: “se está comigo ótimo, se está contra mim, espere”, contam os inimigos políticos.
Adversário de Arraes em 1986 na disputa pelo governo de Pernambuco, o hoje ministro do TCU José Múcio Monteiro conhece Eduardo Campos desde menino. E é farto nos elogios:
— Eduardo é um homem simpático, extremamente agradável, mas também extremamente decidido e determinado. E muito duro quando precisa ser. É afável e simpático, mas um gestor duro, que busca muita eficiência de gestão, mais voltado para a história do avô com as classes menos favorecidas.
O governador foi procurado insistentemente pelo GLOBO desde a semana passada para uma entrevista. Por último foi prometida uma resposta a perguntas enviadas por escrito, mas até as 22h de sexta-feira ela não chegou.
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