A notícia foi divulgada ontem no início da tarde pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), mas somente a Folha deu a informação, e mesmo assim de maneira incompleta, sem chamada na capa e apenas repercutindo os “aspectos negativos”.
Nem o Valor, um jornal especializado em economia, pareceu se interessar pela informação de que o faturamento das indústrias de transformação experimentou um forte crescimento em novembro de 2011. E não foi um crescimento apenas financeiro, com ganho apenas para os donos das fábricas. Segundo o CNI, a massa salarial real cresceu 4,8% e foi de 5,3% o aumento do rendimento médio real na indústria.
Como eu ia dizendo, apenas a Folha deu a notícia, mas sem destaque; no portal do grupo, está escondida. Mas enfim, ao menos deu a notícia, coisa que Globo e Estadão sequer fizeram, o que mais uma vez denota a obsessão midiática em pintar para o país um quadro negativo. Eu até entenderia seu pessimismo, se ao menos evitassem estas omissões quase criminosas de informações fundamentais para que a sociedade compreenda o que se passa.
Lembremos que a sensação econômica (que é subjetiva) é um fator essencial para a decisão dos empresários de ampliarem seus investimentos produtivos. O negativismo provoca adiamento ou mesmo cancelamento desses investimentos, o que evidentemente piora o quadro econômico nacional, gerando um ciclo vicioso: o negativismo reduz os investimentos privados, o que reduz o crescimento, que por sua vez provoca uma nova onda de pessimismo.
Enfim, vamos aos dados. Somados aos números do Banco Central divulgados esta semana, eles reforçam a tese de que a economia brasileira está se recuperando de maneira bastante saudável, depois de certa pasmaceira e negatividade que a caracterizou até o terceiro trimestre. Juntamente com a notícia, comentada aqui no blog, de que o comércio experimentou forte crescimento também em novembro (igualmente escondida pela mídia), vislumbra-se um quadro um pouco mais promissor para o PIB de 2011.
Se os números de dezembro mostrarem continudade dessa recuperação, possivelmente o PIB brasileiro fechará o ano acima de 3%, contrariando a torcida dos urubus.
Analisando a íntegra do relatório da CNI, encontrei o seguintes gráfico:
Observe que tanto o faturamento quanto a massa salarial cresceram fortemente no acumulado de Jan/Nov 2011. No título da matéria, a Folha fala em “alta do dólar” e diz que foi isso que provocou a “forte alta do faturamento da indústria”. Logo adiante, porém, o gerente de política econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, argumenta que o câmbio foi “apenas um fator extra a impulsionar o faturamento da indústria”.
De qualquer forma, se foi o câmbio ou não, o importante é que o faturamento cresceu, dando fôlego para que as indústria possam elevar seus investimentos. A notícia é outra a questionar a tese da “desindustrialização”. Observe ainda que os números referem-se apenas à indústria de transformação, que exclui os segmentos extrativos, como a mineração. Não venham dizer, portanto, que esse quadro reflete somente o lucro da Vale com a exportação de ferro.
Eu não quero negar que a indústria brasileira passa por dificuldades, sobretudo em função da concorrência asiática. Precisamos, contudo, cuidar para não confundir problemas circunstanciais, setoriais, temporários, com um processo – devastador para um país – de desindustrialização. Há fábricas fechando, sim, mas há outras abrindo.
Outro dia, eu trouxe aqui a informação sobre o grande volume de investimentos industriais que estão sendo realizados no Rio, ressaltando que esperava obter números sobre outros estados. Hoje encontro uma notícia no Valor informando que a Bahia contabiliza R$ 70 bilhões em investimentos em projetos industriais, comerciais e infra-estrutura, nos próximos cinco anos.
Voltando aos números da CNI, observe este gráfico. Ele mostra bem que houve uma queda a partir do final de 2010, revertida já em meados de 2011:
Por fim, vale a pena analisar a tabela abaixo, que traz o desempenho de cada setor.
Observe que os setores (estratégicos, por serem os mais avançados) de máquinas e equipamentos; máquinas e materiais elétricos; e materiais eletrônicos e de comunicação, registraram as maiores alta de faturamento no acumulado do ano, com destaque para o crescimento do emprego e da massa salarial.